17 de dezembro de 2024
TECNOLOGIA

Empresa de Franca constrói casas com impressora 3D

Por Pedro Baccelli | da Redação
| Tempo de leitura: 6 min
Sampi/Franca
Reprodução
Casa sendo erguida com impressora em Patrocínio Paulista

O futuro da construção civil no Brasil passa por Franca, onde a Free Form ergue imóveis por meio de uma impressora 3D. Com capacidade para atuar em áreas de até 17,5 x 23,5 metros e alturas de 6,5 metros, a máquina é capaz de imprimir casas e barracões de até dois andares. A estrutura é feita com um microconcreto de 45 milímetros de espessura, composto de cimento, que, além de impermeável, oferece resistência à prova de tiros.

Rodrigo Carvalho, sócio da Free Form, afirma que uma casa de 70 m² pode ser erguida em três dias. “Vamos falar de impressão, que é o tempo de levantar a parede. Posso dizer que é algo em torno de um terço do valor atual. Se você tiver uma casa que gastaria R$ 100 mil para levantar paredes, gastaremos em torno de R$ 33 mil”.

Essa precisão no processo também traz economia de material, como explica Ricardo Souza. “A parede fora do prumo, consequentemente, gasta mais material embaixo ou mais material em cima. Na impressão 3D, as paredes ficam em 90º exatos com precisão, isso faz com que economize material também”.

A tecnologia também pode beneficiar iniciativas públicas. “Às vezes, construímos casas para a prefeitura. No mesmo canteiro de obras, já conseguimos construir seis casas de sete por sete metros. Torna-se um projeto economicamente muito viável”.

Patrocínio Paulista

Máquina que já esteve em operação na região. Uma casa de 147 m² foi sendo erguida em Patrocínio Paulista, cidade a 19 km de distância. Foram cerca de 20 dias de impressão para concluir. "O pé direito é, relativamente, alto: 4 metros na parte mais alta, portanto agrega um pouco de tempo no processo de impressão", disse o engenheiro Gabriel Saturi.

O investimento completo gira em torno de, aproximadamente, R$ 1,5 milhão. Essa obra, assim como todo o equipamento, é particular.

Entrevista

Confira a entrevista completa com Rodrigo Carvalho:

GCN: Como surgiu o interesse pela impressão de casas?
Rodrigo:
Tenho algumas empresas nos Estados Unidos, então, viajo diretamente para lá. Surgiu a oportunidade de conhecer a impressão da casa 3D através da CICA, que é a empresa responsável pelo polímero cimentício. Na hora em que me apresentaram aquilo, falei: ‘Poxa, isso aqui é interessante para caramba’. Trouxe a ideia para cá e falei que tentaríamos trazer essa máquina.

Vocês conseguiram importar esse modelo americano?
A máquina construída nos Estados Unidos tem como característica fazer modulado. O máximo que ela atinge é 3 metros de raio. Nós até tentamos importar essa máquina, mas ela ficava muito cara e a característica de modulação dela não era legal.

Como conheceram o modelo que estava em desenvolvimento no Brasil?
Nós fomos conversando com o pessoal da CICA e eles apresentaram uma empresa que estava nascendo, que, no caso, é a 3D Print. Nós compramos a ideia junto com esse pessoal. Eles estavam produzindo uma casa em Caxias do Sul (RS). Nós já estávamos negociando as máquinas, e eu falei que as primeiras máquinas seriam nossas.

Qual o tamanho da casa impressa em Caxias? Quanto tempo dura a impressão?
Essa casa do Rio Grande do Sul tem exatamente 80m². Colocamos a impressora em uma velocidade menor para aprender alguns processos e entender algumas coisas. Se não fossem esses pontos, e a pessoa estivesse operando em velocidade correta, com um clima bom, estamos falando de uma casa sendo construída em quatro dias, no máximo. Hoje, uma casa de 70 m² seria três dias. Em menos de um mês você não consegue construir uma casa convencional.

Quais as diferenças entre a impressora de casa com as convencionais?
A diferença é o tamanho, o tipo do polímero usado e o tamanho do cabeçote. São coisas que já existem. Não inventamos a roda. Mas ela traz a possibilidade de ter uma velocidade muito fora da curva em comparação com uma obra convencional.

Qual o modelo da máquina e especificações?
A nossa máquina atual, que é a S8, consegue operar 17 metros por 24 metros, e 6 metros de altura. Podemos imprimir uma casa de dois pavimentos diretos. Temos todo um processo. É claro que nós paramos a produção no primeiro pavimento e depois cobrimos tudo para continuar a impressão do segundo pavimento.

Como funciona a impressora de casas?
É uma composição de duas máquinas. Uma coisa é a impressora com seus cabeçotes e seus trilhos. A outra é uma bomba que puxa o material, que faz toda a mistura para mandar para a máquina.

A Legislação autoriza esse tipo de construção?
É uma construção comum, como qualquer tipo de construção. A diferença é o tipo do produto. Vou citar o nosso prédio que é totalmente feito em aço, 100% feito em aço. Não é uma construção convencional. As diretrizes e o tempo de qualidade estão voltados à área de engenharia, porque tem que controlar carga e qualidade. Você pode construir uma casa com uma série de produtos alternativos que hoje têm no mercado, mas desde que sua casa tenha supervisão arquitetônica e de engenharia.

A máquina pode imprimir outras coisas?
Conseguimos imprimir tudo. Até esculturas imprimimos. Ponto de ônibus, poste, mobiliário urbano, banco de praça, coisas bem modernas, tudo impresso.

O proprietário precisa fazer a parte de acabamentos?
Temos casas que não tiveram revestimento nenhum. A pessoa optou por deixar tudo nesse padrão. Caso a pessoa queira uma parede lisa, também não há problema nenhum. Se você for fazer o alisamento da parede, não precisa fazer o que chamamos de chapisco, simplesmente, só passar a camada de massa alisadora por cima. A qualidade visual é muito bacana.

Como funciona a parte hidráulica?
A hidráulica é feita conforme a impressão. Você vai vendo sua casa sendo construída do começo ao fim, e no pós as nossas construções têm um QR Code no rodapé que mostra onde estão os canos.

A casa é à prova de bala?
Claro que você não vai mandar um tiro de canhão, mas ela tem uma proteção melhor porque o cimento tem algumas características um pouco diferenciadas.

Quanto o proprietário gastará para imprimir uma casa em comparação com a construção convencional?
Vou te passar o valor de impressão, que não é a casa completa, porque a casa depende do tipo de acabamento que você vai colocar. Vamos falar de impressão que é o tempo de você levantar parede. Posso falar que é algo em torno de 1/3 do valor hoje. Se você tiver uma casa que gastaria R$ 100 mil para subir parede, vamos gastar em torno de R$ 33 mil.

É possível reformar casas impressas?
Ela pode contratar somente a impressão daquela parede, e nós mandamos para colocar em determinado local. Para imprimir a casa de novo, não vejo, a menos que você derrube e a faça novamente.

A empresa já tem casas “encomendadas”?
Temos alguns projetos para imprimir, alguns em Franca. Estamos para começar um projeto em Rifaina, que fazem parte de um processo bem conceitual, que já é para Smart City mesmo. Sem contar outros estados que estamos engatilhados no Mato Grosso do Sul e, no próximo, Rio Grande do Sul estamos tendo algumas conversas com empresas de lá. Posso falar que já estamos com fila de espera.

Qual o processo de criação das casas?
Começamos a criar uma lista de espera. Mas tem inúmeras formas. Se você já desenhou sua casa e quiser enviar para nós imprimirmos. Se quiser que nós criemos, temos todo um briefing que está no nosso site.

É possível construir um condomínio através da impressora?
Vocês governantes que estão lendo e pessoas que estão querendo construir um condomínio e tudo, entrem em contato conosco. De repente, um condomínio impresso vai ser o condomínio construído – talvez – mais rápido do mundo.