O PSDB de Franca, que contou com nomes importantes, como o do ex-prefeito Sidnei Rocha, que comandou a cidade por três mandatos, dois deles como “tucano”, e o deputado estadual Roberto Engler, enfrenta tempos difíceis. O “ninho”, que abrigou essas e outras lideranças, sofre com uma debandada de filiados e, mesmo na coligação com o Cidadania, amargou o fracasso nas urnas ao não eleger nenhum vereador para a Câmara Municipal nas eleições de 2024.
Desde a sua fundação, em 25 de junho de 1988, o mandato 2025-2028 será o primeiro em que o partido não terá representantes na Câmara de Franca. Essa seria uma realidade inimaginável no passado, uma vez que a sigla teve a maior bancada na cidade por cinco legislaturas – em algumas delas, empatadas com outros partidos. No pleito de 2020, por exemplo, elegeu Daniel Bassi e Kaká.
“Vejo com tristeza, porque foi o primeiro partido ao qual me filiei e pelo qual disputei três eleições, ganhando pela primeira vez a cadeira de vereador. Uma legenda que era gigante, que comandou, na história recente, a Presidência da República, o Governo de São Paulo, a prefeitura de Franca, manteve representatividade na Assembleia Legislativa por vários anos e chegou a ter quatro vereadores na Câmara de Franca”, disse Bassi.
Kaká, reeleito com 2.242 votos pelo Republicanos, e Daniel Bassi, que recebeu 4.334 votos pelo PSD, continuarão em seus cargos, mas longe do PSDB.
Nesta disputa de 2024, a coligação PSDB/Cidadania apresentou 13 candidatos, entre os quais Silvia Aparecida Messias, a única representante tucana. Todos os demais eram filiados ao Cidadania. Mas, como ensina o ditado que “desgraça pouca é bobagem”, um erro no registro das candidaturas, com a falta de pelo menos um homem na chapa tucana, fez com que os votos de todos fossem impugnados e considerados nulos.
Para o advogado e analista político Toninho Menezes, o desgaste do partido se deve, em parte, à resistência das lideranças mais antigas em aceitar novos nomes que estavam ganhando destaque. “Isso criou uma briga interna dentro do partido, o que fez com que essas novas lideranças, que estavam se destacando, saíssem.”
Menezes completou que o PSDB perdeu a confiança dos eleitores. Ele destacou que essa perda de credibilidade é resultado de decisões equivocadas, como alianças com outros partidos, apoio a figuras desacreditadas, descumprimento de promessas de campanha e a adoção de políticas públicas ineficazes, especialmente nos serviços essenciais.
Daniel Bassi pontua que a saída de "grandes nomes" da legenda na cidade provocou um efeito cascata. “Além disso, em Franca, pesou o desgaste nacional, devido à polarização da política entre direita e esquerda, e a desistência da disputa presidencial por João Doria, que também contribuiu muito para o enfraquecimento do PSDB em todo o país, inclusive na cidade.”
Essa perda de força prejudica o partido na negociação de sua entrada em outros governos. Razões que levaram Bassi a mudar de partido. "O partido, se não estiver fortalecido nacionalmente e no estado, não tem condições de estruturar as candidaturas municipais. Daí veio o convite do PSD, amplamente estruturado e organizado, e decidimos que o melhor caminho para nós, nesse momento, seria aceitar".
Toninho defende que os partidos, não apenas o PSDB, precisam modificar a forma de pensar a política. “Vemos partidos surgindo apenas a cada dois anos, nas eleições. Eles precisam estar presentes na sociedade durante todo o tempo, promovendo novas lideranças, cursos, debates, palestras e questões políticas, especialmente quando há modificações na legislação eleitoral ou administrativa.”
Bassi defende que a mudança precisa vir de cima para baixo. "O partido precisa se reorganizar no âmbito nacional, nos estados e, por fim, nos municípios. No caso do PSDB, de forma isolada, não vejo isso a curto prazo. Uma reestruturação ampla, com o tempo, pode possibilitar um fortalecimento gradual."
Outra possibilidade apontada pelo parlamentar é a fusão com o Cidadania, com quem atualmente há uma federação em vigor. Não seria a primeira vez que dois partidos se juntariam na política brasileira; em 2021, nasceu o União Brasil da junção do Democratas e do PSL.
A reportagem procurou o presidente do partido em Franca, Wagner Artiaga, por ligações nesta sexta-feira, 11, em dois números diferentes, mas não obteve retorno.