24 de dezembro de 2024
NOSSAS LETRAS

Crônica do dia

Por Zerroberto de Souza | Especial para o GCN/Sampi Franca
| Tempo de leitura: 1 min

A imagem é recorrente: estações e aeroportos carregam a ideia do dualismo.

O mesmo lugar da chegada para alguns, também é o de partida para outros.

Boas-vindas e despedidas. Reencontros animados, lenços impregnados de adeus. Tudo no mesmo espaço físico. Poucos metros entre uma e outra emoção.

Sim! Partidas e chegadas sempre são carregadas de emoção. Nem sempre na mesma medida.

Ouço um burburinho a poucos metros. Palavras ditas em voz nervosa, trêmulas de dor e lamentação. Mais um momento e se transformam em lancinantes imprecações:

- Por que não foram mais rápido? Não precisava ser dessa maneira!

- Fôssemos ricos, tivéssemos dinheiro e tudo seria diferente!

- Que calma? Calma, como? Queria que fosse alguém da sua família...

Desvio a atenção para uma porta que se abre a poucos metros.

O sorriso é imenso. Os olhos brilham. As palavras saem aos borbotões. Frases se atropelam:

- Tem três quilos e “novecentas” gramas.

- Mede cinquenta e dois centímetros!

- É a carinha da avó. Precisa ver que gracinha!

Amparos e consolo ali, por alguém que se vai. Abraços de regozijo aqui por alguém que acaba de chegar. Fim de ciclo para um. Início de jornada para outro. Tudo ao mesmo tempo e agora.

O saguão mantém uma disciplina diuturna. Corriqueira. Uma funcionária boceja, entediada.

Saio à rua. O ar da madrugada me acolhe.

E na lua, São Jorge brinca de gato e rato com o dragão!