O torcedor da Francana que foi ao Lanchão para assistir à partida de ida das oitavas de final da Copa Paulista, contra o Votuporanguense, pode ter ficado surpreso ao se deparar com um simpático homem e uma criança conversando em inglês nas dependências do estádio.
Dexter Marshall e Dakari Marshall, pai e filho, são barbadianos, moram em Bridgetown, capital do país fundado em 1654 e que fica em meio às Pequenas Antilhas, no mar do Caribe, e chegaram a Franca no dia 22 de agosto.
Mas o que a dupla de Barbados está fazendo a quase quatro mil quilômetros de distância de sua terra natal, no interior de São Paulo, acompanhando o dia a dia de um clube esportivo? Dexter é treinador de futebol e conta, sorridente e com os trejeitos de quem está muito feliz, que o motivo que os trouxe a Franca é simples: “Eu estou aqui porque amo o Brasil”.
Há, no entanto, uma segunda justificativa para que Marshall tenha desembarcado em Franca. Como técnico, ele busca aprimorar seus conhecimentos fazendo um intercâmbio com a equipe treinada por Wantuil Rodrigues - é claro: nada melhor do que aprender com quem nasceu no país do futebol. “É a minha primeira escolha de lugar para desenvolver minha visão do jogo”.
Além disso, Dexter aposta que os ensinamentos passados pela comissão técnica e pelo elenco da Francana possam ajudar no desenvolvimento de Dakari, que, aos 14 anos, sonha em se tornar atleta profissional no Brasil. Falando do garoto, aliás, Dexter se derrete.
“Ele é o melhor jogador de futebol de Barbados, considerando os da idade dele. Meu filho ainda está na escola, então ele sabe que só virá para cá nos períodos de férias. Mas quero que ele se torne um jogador melhor sendo treinado pelos brasileiros. Nós esperamos que ele venha a integrar o elenco juvenil da Francana um dia”, disse Marshall.
Tímido e sem a “malemolência” para se comunicar que o pai demonstra, Dakari acompanhava os jogadores da Veterana no Lanchão, mas fez uma pausa na sessão de treinamento para conversar com a reportagem.
O jovem fala que joga como ponta-esquerda e que é um atacante incisivo, que gosta de driblar e partir para cima da marcação. Sobre a experiência com os francanos, ele diz que está gostando muito. “Eu estou amando. Tem sido muito legal. Os treinos são muito bons, e os jogadores me encorajam a melhorar”.
A hospitalidade, de acordo com o pai de Dakari, não se limita só aos membros da Francana, sendo algo comum a todos os brasileiros. “Todo mundo me abraçou e foi amigável com a gente”.
Perguntado sobre como tem sido a relação com os jogadores e com a comissão do clube, Dexter até fala, lentamente, em português: “O treino é muito bom”. Ele elogiou o trabalho feito por Wantuil. “Ao aprender com um treinador brasileiro, eu ganhei mais conhecimento. É diferente. Isso aumentou minhas habilidades de treinamento”.
Outra característica do Brasil elogiada pelo barbadiano foi a forma de torcer. Presente no jogo em que o Votuporanguense venceu a Francana por 2 a 1 e em um clássico de Uberaba, válido pela segunda divisão do Campeonato Mineiro, Marshall diz que a experiência de ver os torcedores de perto é inesquecível.
“É algo do qual nunca vou me esquecer. Você se torna um torcedor para sempre. É um jeito muito diferente de se torcer, com muito barulho”.
A passagem de pai e filho de Barbados pelo Brasil é curta e eles já desembarcam de volta ao país caribenho neste sábado, 21, mas a expectativa é de que eles voltem em breve.
Como falam pouco português, Dexter e Dakari contaram com a ajuda de um atleta profissional da Francana para se comunicar com os membros do clube. Guilherme Alves, meio-campista da Veterana, é fluente em inglês e se tornou o tradutor pessoal dos barbadianos durante o período de intercâmbio de Dexter.
“Eu acho que isso é algo bom para mim, para o meu desenvolvimento pessoal. Poder conversar em inglês todos os dias e os acompanhar, os ajudar. A gente sabe como é chato quando estrangeiros vêm e não conseguem se comunicar. Os dois me agradecem por eu ajudar. Isso é muito bom de se ouvir”, relatou o jogador.
O técnico da Francana, Wantuil Rodrigues, é um entusiasta da ideia de trazer pessoas de outros países para a Francana. Ele conta que, no Cruzeiro, onde trabalhou por duas décadas, chegou a receber coreanos, africanos, americanos, australianos e japoneses.
“Eu estou tentando reativar esse programa na Francana, de trazer os estrangeiros para que eles façam um intercâmbio de futebol conosco”, disse o treinador da Veterana. Para ele, o trabalho realizado já surtiu efeito. “Em dezembro, o Dexter retorna, provavelmente, com a escola dele”.
Wantuil também afirmou que o barbadiano aprovou o que viu em Franca e elogiou vários setores da comissão técnica do clube. “Ele sentiu a nossa hospitalidade e gostou muito do que viu sobre a minha parte técnica, a parte física, do João Victor, a parte dos goleiros, do Marcelo, e a parte técnica, também, com o Viola. O Dexter retorna a Barbados levando os nossos conteúdos e poderá falar nas escolas sobre o que fazemos aqui”.