21 de dezembro de 2024
ATO NA PAULISTA

Bolsonaro cobra freio a Moraes e repete pedido de anistia do 8/1

da Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução/Instagram @jairmessiasbolsonaro
Jair Bolsonaro (PL) reuniu apoiadores em São Paulo neste sábado, 7 de Setembro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista neste sábado, 7 de Setembro, em protesto que teve como principal alvo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ele cobrou freio ao magistrado e repetiu pedidos de anistia a presos pelo 8 de janeiro de 2023.

"Espero que o Senado bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil do que o [presidente] Luiz Inácio Lula da Silva", disse ele no discurso final do ato, apesar de a cúpula dos senadores já ter afastado a possibilidade de que pedidos de impeachment contra o magistrado avancem.

Os manifestantes ocuparam diversas quadras da avenida, mas, aparentemente, na comparação das imagens aéreas, havia menos apoiadores em relação ao último ato bolsonarista de fevereiro. Procurada, a Polícia Militar informou que não divulgaria estimativa de público.

Bolsonaro subiu no caminhão de som pouco depois das 14h ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e dos filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ).

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) também estava no veículo, mas não foi anunciado nem citado nos discursos. Já Pablo Marçal (PRTB), que vinha fazendo mistério sobre sua presença e disputa com ele os votos do bolsonarismo à Prefeitura, apareceu quase ao final do ato, foi ovacionado e disse ter sido barrado de subir no trio.

Bolsonaro compareceu ao protesto depois de passar em um hospital pela manhã porque, segundo seus aliados, se sentiu mal em decorrência de uma gripe. Na véspera, ele afirmou a seguidores em Juiz de Fora (MG) que a manifestação seria feita para desafiar o que ele chamou de "sistema".

Foi esse tom antissistema que ele adotou em seu discurso neste sábado, no qual relembrou feitos da sua gestão e disse que foi retaliado porque "eles não estavam roubando mais". "Se uniram e voltaram ao velho discurso de que eu queria dar um golpe de Estado, usando dispositivos da nossa Constituição", declarou.

Bolsonaro ainda afirmou que as eleições de 2022 foram conduzidas "de forma totalmente parcial" por Moraes, a quem chamou de ditador, e pediu que a proposta de anistia avance na Câmara. "Nós conseguiremos essa anistia. Só assim poderemos começar a sonhar com pacificação", disse em cima no caminhão.

No mesmo veículo, que antes ecoou falas religiosas e paródias de funks, estavam o pastor Silas Malafaia, organizador do evento, e um grupo de legisladores bolsonaristas. Entre eles, os senadores Magno Malta (PL-ES) e Marcos Pontes (PL-SP) e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Bia Kicis (PL-DF), Mario Frias (PL-SP) e Ricardo Salles (Novo-SP).

O primeiro a discursar foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que chamou Moraes de psicopata e puxou o coro de "fora, Xandão". Também pediu o impeachment do magistrado e a anistia aos acusados de atos golpistas e estimulou os apoiadores a defender quatro bandeiras.

"Número 1: o fim da perseguição dos inocentes e prisões políticas. Número 2: a anistia para todos os presos políticos. Número 3: o encerramento de todos os inquéritos ilegais derivados do inquérito do fim do mundo e 4. o impeachment de Moraes", ele enumerou, sendo aplaudido.

Alguns manifestantes seguravam cartazes, em inglês e em português, pedindo ajuda ou agradecendo ao bilionário Elon Musk, dono do X, antigo Twitter. Tanto Eduardo quanto o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), por exemplo, fizeram trechos de seu discurso em outro idioma: "We will never give up" (nós nunca vamos desistir), disse Gayer.

A manifestação foi insuflada pela decisão recente de Moraes de suspender no Brasil as atividades do X, após a empresa não indicar um representante legal no país. Desde então, Musk tem endossado postagens sobre o ato e escreveu que o magistrado "deve sofrer impeachment por violar seu juramento de posse".

O pastor Malafaia também fez uma fala dura contra o ministro. Listou normas que entende que foram infringidas pelo juiz e o acusou de "rasgar a Constituição". "Alexandre de Moraes tem que sofrer impeachment e ir para a cadeia. Lugar de criminoso é na cadeia", disse aos berros.

Os manifestantes reagiram ao discurso gritando: "Cabeça de ovo, supremo é o povo".

Já o governador paulista Tarcísio de Freitas não mencionou Moraes, mas defendeu anistia ao presos pelos ataques golpistas de 8 de janeiro. "A nossa causa hoje aqui é a liberdade, a anistia", declarou ele, adicionando que "famílias dos presos políticos importam" e que "não se pode tolerar a falta de segurança jurídica".

Alguns citaram ainda em seus discursos a série de reportagens da Folha de S. Paulo que mostrou que o magistrado usou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) fora do rito formal para investigar bolsonaristas e embasar decisões no inquérito das fake news no Supremo, durante e após as eleições de 2022.

Na última manifestação que organizou na avenida Paulista, em fevereiro deste ano, Bolsonaro havia maneirado a frequente agressividade contra a Corte e afirmou buscar a pacificação do país, acuado diante das investigações em torno da suposta trama golpista.

Naquela ocasião, apoiadores foram orientados a não levar faixas e cartazes contra o STF, o que não ocorreu desta vez.

Declarado inelegível pela Justiça Eleitoral até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente foi indiciado neste ano pela Polícia Federal em inquéritos sobre as joias e a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19.

Além desses casos, Bolsonaro é alvo de outras investigações, que apuram os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023.

Parte das apurações está no âmbito do inquérito das milícias digitais relatado por Moraes e instaurado em 2021, que podem, em tese, resultar na condenação de Bolsonaro em diferentes frentes.