19 de novembro de 2024
ESPORTE

Franca 200 anos: Pedroca, o inovador do basquete

Por Guilherme Faber | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Arquivo/Comércio da Franca
Pedro Morilla Fuentes, o Pedroca

O ano de 2024 marca o bicentenário de Franca, município que ficou conhecido dentro e fora do país pela sua tradição no basquete, condição que se deve principalmente aos serviços prestados por Pedro Morilla Fuentes, o Pedroca, o inovador do basquete.

O início do ciclo do Pedroca em Franca

Nascido em 27 de abril de 1929, em São Paulo, Pedroca tinha ascendência espanhola e era graduado em Educação Física pela USP (Universidade de São Paulo). Foi nessa instituição que conheceu dois francanos: Arthur Ewbank e o ex-jogador da Francana Vitório Bartocci, o “Tutti”.

Essa relação de Pedroca com Tutti e Ewbank culminou com a sua vinda para Franca, em 1951, com o cargo de professor no IEETC (Instituto Estadual de Educação Torquato Caleiro). Imediatamente se contagiou pelo envolvimento dos francanos e dos seus alunos com os esportes e, claro, o basquete.

Assim, logo intensificou os seus estudos sobre o basquete e participou de clínicas na antiga Iugoslávia, Itália, Argentina, Espanha e Portugal. Também jogou basquete por times de ligas locais de Franca.

Pedroca contribuiu para formação de médicos, professores, dentistas, advogados e mantinha a aula de Educação Física do IEETC como a melhor hora do dia. A garotada torcia para não chover, mas em caso de tempestades sempre havia o aguardo do término para um improviso na quadra.

O momento de Pedroca como técnico francano

O impacto do trabalho do Pedroca foi imenso no IEETC, que simplesmente transferiu os treinos da quadra desse colégio para o ginásio do Clube dos Bagres, local que ajudou Franca a ter o seu primeiro registro na FPB (Federação Paulista de Basketball).

Feito que ajudou no surgimento dos “Irmãos Metralha” - Hélio Rubens, Fransérgio e Totô - e nas exibições memoráveis de Anginho, Milton Olaio, Piu Piu, Amilton, Edson, entre outros tantos nomes.

“Pedroca foi um ser humano muito especial por todas as suas qualidades. Professor de Educação Física excepcional, técnico de basquete com conceitos, que hoje são aplicados. Admirado por todos que tiveram o privilégio de sua convivência”, relembrou o ex-jogador do Franca Basquete e cardiologista Dr. Fransérgio Garcia.

Essa relação durou até 1983 com os ciclos da Calçados Emmanuel, Amazonas e Francana e os 12 títulos do Paulista do Interior (1962, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1971, 1972, 1975, 1976 e 1977), tetracampeonato do Paulista (1973, 1975, 1976 e 1977), penta nacional (1971, 1974, 1975, 1980 e 1981), quatro títulos sul-americanos (1974, 1975, 1977 e 1980) e dois vices-intercontinentais em 1975 e 1980.

Era agitado na área técnica, sempre fazia anotações táticas em seu caderno, dormia pouco em véspera de jogos e implementou o conceito de defesa forte com contra-ataque letal. Não promovia muitas substituições e houve momentos em que os próprios jogadores descansavam sem o seu conhecimento.

“A história do basquete em Franca se deve muito ao Pedroca. Controlava o vestiário da melhor maneira possível, sabia da diretriz e era muito respeitado pelas pessoas, porque sempre havia fundamento nas coisas que ele falava. Estava sempre atento e era um grande estudioso”, disse o ex-jogador do Franca Basquete Fausto Giannecchini.

Idealismo em vez do lado financeiro 

Com o fim da sua jornada, passou o “bastão” para Hélio Rubens, tratado por muitos como seu discípulo.

Nenhum dos inúmeros títulos refletiu em bens materiais. Pedroca não recebeu salário e tratava o esporte como ferramenta para transformar alguém em cidadão, antes de atleta. Aposentou-se como professor da rede pública de ensino.

“Ele saía do treino e ia direto para as escolas CEDE (Escola Estadual 'David Carneiro Ewbank') ou 'João Marciano' para ensinar os meninos de escola pública. Era começar a fazer bandeja e todo aquele processo pedagógico para o educador”, relembrou Fausto.

"O professor Pedroca foi um abnegado, um dos grandes responsáveis por transformar a prática do basquete recreativo em um esporte organizado na cidade, e fazia isso sem renunciar os preceitos que sempre nortearam sua conduta: que o esporte é uma importante ferramenta de educação e de formação do caráter dos jovens. Pedroca, antes de ser o grande técnico do basquetebol francano, foi um professor, mestre, comprometido em transmitir valores morais e cívicos aos seus alunos", disse o advogado e pesquisador do basquete francano Rodolfo César Pino.

Vida pessoal

Pedroca teve um primeiro casamento com Daicy Sodré Fuentes, com quem teve as filhas Cecília Fuentes e Maria Cristina. Ele casou-se pela segunda vez com Luiza Ferreira dos Santos Fuentes, mãe dos seus filhos Catarina Fuentes e Vinicius Fuentes. Pedro conviveu por três anos com câncer renal e morreu em 8 de novembro de 1992.