A disputa pelas prefeituras brasileiras acontece apenas em outubro, mas a abertura da janela partidária, que permite a mudança de partido dos vereadores eleitos sem risco de perda do mandato, acelerou o ritmo das negociações e articulações políticas em Franca. À esquerda ou à direita do espectro ideológico, a missão é uma só: construir alianças que permitam candidaturas robustas capazes de enfrentar o incumbente, Alexandre Ferreira (MDB), que vai com a força do cargo buscar um novo mandato.
No campo da esquerda, o sonho é unir todos em torno de um único candidato. A realidade não poderia parecer mais distante. O PT quer o PSol, que quer o PT, e ambos querem o PSB, que também não acharia ruim ter os dois primeiros juntos.
O problema é que ninguém parece disposto a abrir mão da cabeça de chapa. Guilherme Cortez(Psol), deputado estadual, saiu na frente, anunciou sua pré-candidatura e tem feito reuniões com os petistas. O casamento já estaria marcado, não fosse o desafio de estabelecer quem será o principal nome na disputa. “Quem quer construir a unidade não pode colocar seu nome como uma imposição, se não você interdita o diálogo. Dizer "quero estar junto, mas desde que seja com o meu nome e não abro mão disso" é mostrar que o seu projeto individual é mais importante que a unidade. Agora, as pesquisas apontam que o meu nome é o que tem mais chances de chegar ao 2º turno e, por conta do mandato de deputado, naturalmente tenho mais visibilidade. A esquerda precisa ter responsabilidade e olhar quem têm melhores condições de ir bem, e não qual número vai estar na urna. Se ninguém abrir mão de ter seu candidato por vaidade, vamos dar a reeleição de bandeja pro Alexandre ou abrir espaço para o bolsonarismo ir para o 2º turno”, disse Guilherme Cortez. “Estamos dialogando com todos os partidos do campo progressista: PT, PCdoB, PDT e PSB. A Rede já declarou apoio ao meu nome. Estou trabalhando ferrenhamente para que todos esses partidos estejam juntos, porque tenho a certeza de que só a unidade da esquerda em torno do melhor nome pode nos levar ao 2º turno”.
Para o PT, apesar da cautela no discurso, manter a cabeça de chapa parece ser um objetivo fundamental. “O PT vai definir sobre o processo eleitoral neste sábado. O partido tem um conjunto de nomes na cidade, já governou Franca (Gilmar Dominici, entre 1997 e 2004), tem um vereador eleito, tem ex-secretários. (Queremos conversar com) Psol, Rede, PSB, PCdoB, PV, esses partidos que fizeram parte da Frente Ampla, que ajudaram na vitória do presidente Lula, como que o PT pode contribuir dentro deste processo”, afirma Rafael Bruxelas, ex-candidato a prefeito e a deputado federal e que hoje ocupa o cargo de gerente de projetos do PAC no Ministério das Relações Institucionais. “Em 2022, o Boulos (Psol) era candidato ao governo de São Paulo. O Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) também. Os três tiveram a responsabilidade de entender que, naquele momento, quem reunia mais condições para disputar a eleição, até por ser o candidato do presidente Lula, era Fernando Haddad. Ele estava na frente nas pesquisas e era o candidato que melhor representava o campo (na disputa) pelo governo de São Paulo. O Boulos representou muito bem este campo sendo candidato a deputado federal, foi o mais votado. Não existe uma só raia de candidatura. O Márcio França foi candidato ao Senado. É pensar desta forma, como que a gente pode construir este nome que possa representar este campo."
O vereador Gilson Pelizaro (PT), outro que chegou a ter o nome cogitado para a disputa, descartou a indicação, preferindo concentrar seus esforços na chapa de vereadores. “Acho que posso ajudar o PT a conquistar mais uma cadeira na Câmara, o que é importante”. Mais direto, Pelizaro confirma que é praticamente nula a chance do partido desistir de indicar o principal nome. “Pela nossa história, o PT dificilmente vai abrir mão da cabeça de chapa”, vaticina.
PSB aposta no “Marquinhos do Abraço”
O PSB, do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, tem no ex-deputado federal Marco Ubiali a maior referência em Franca. Para Ubiali, o caminho já está definido, com a chapa encabeçada pelo ex-prefeito de Patrocínio Paulista, Marcos Ferreira. “Tem experiência, poderá fazer um governo muito melhor que o atual. A gente acredita, realmente, que Franca precisa de um choque de gestão, de uma coisa nova (...). O PSB vai apoiar e tem como candidato o Marcos Ferreira. O Marquinhos do Abraço, como ele mesmo se identifica, porque adora abraçar as pessoas, é um líder nato, preparado tecnicamente para ser o melhor prefeito que Franca já teve”.
O próprio pré-candidato do partido confirma, sem margem para hesitação, a intenção de disputar a prefeitura de Franca e rechaça composições onde ele não seja o principal ator. “É chegado o momento de uma nova política em Franca e o PSB, com candidatura para prefeito e vereadores, vai estar nesse processo com o objetivo de trazer um novo tempo de desenvolvimento humano, social, econômico e institucional que todos nós merecemos”, disse Marcos Ferreira.
João Rocha e o espólio de Flávia Lancha
No Centro-Direita, há algumas definições e muitas incertezas. Quem já definiu o rumo é João Rocha (União), que acredita ter condições de reunir um amplo leque de apoio para tentar mais uma vez conquistar o direito de governar a cidade. “Estou muito feliz, muito tranquilo. Na disputa anterior para prefeito, saí na última hora e quase cheguei ao segundo turno. Agora estamos muito mais organizados, com grande apoio do partido”. Rocha acredita conseguir costurar uma aliança com pelo menos seis partidos, entre eles, PRD e Avante. “Estamos conversando, mas ainda não posso detalhar tudo. Vamos para a disputa com força”.
João Rocha também mira na atração do espólio de Flávia Lancha (PSD), se ela confirmar que está fora da disputa. “Não acredito que o pessoal (correligionários) dela a acompanhe numa aliança com Alexandre Ferreira. Muitos deverão vir comigo”, aposta.
Oficialmente, Flávia Lancha não diz muita coisa. “Eu ainda estou avaliando os prós e contras. Tenho conversado com muita gente, inclusive com o próprio Kassab (Gilberto, presidente nacional do PSD). Logo, logo terei uma definição”, afirma.
Extraoficialmente, sobram versões apontando para um acordo já fechado entre Alexandre Ferreira e Flávia Lancha. Uma reunião, em São Paulo, com a presença dos dois e de Gilberto Kassab, teria marcado o fim das negociações há poucos dias. O acordo envolveria a inclusão de algumas propostas de Flávia Lancha no plano de governo de Alexandre em troca do apoio do MDB do prefeito para a candidatura de Flávia a deputada estadual¡. A indicação do nome do candidato a vice não fez parte das conversas. Fontes do partido em São Paulo confirmaram o encontro e o fechamento do acordo, que, se não houver recuo de Flávia, deve ser anunciado nos próximos dias. A avaliação do PSD é que Alexandre tem um governo com índices de aprovação bons o suficiente para fazer com que uma derrota seja improvável. “O cenário é muito favorável ao prefeito”, garantiu a fonte que acompanhou as negociações de perto. Pré-candidatos do partido a vereador também confirmaram de que Flávia Lancha já teria informado os mais próximos de que o acordo foi concluído.
Graciela está fora: “não serei candidata”
A deputada estadual Graciela Ambrosio, do PL, maior partido de direita, sempre tem seu nome lembrado para a disputa municipal. Mas, a despeito de indicações de que ela poderia entrar na disputa, o fato é que a deputada está fora. Quem garante é a própria. “Não serei candidata a prefeita. Fui eleita para ser deputada. Tenho inúmeros projetos em andamento e continuarei lutando para conseguir implantá-los. Somente neste ano, enviarei mais de R$ 30 milhões em recursos para cidades de todo o Estado”. Sobre quem será o candidato do partido ou para onde vai pender seu apoio, ainda não há nada acertado. “Em relação ao nosso posicionamento nas eleições municipais deste ano, ainda não há uma definição. Estamos conversando. O que posso afirmar é que o PL está montando um time forte e será o protagonista das eleições”, afirmou Graciela.
O ex-prefeito e ex-deputado Gilson de Souza evita definições. Seu filho, Gilson de Souza Jr, disse que o pai, hoje filiado ao Republicanos, tem recebido muitos convites e que estuda o cenário, mas que se a decisão precisasse ser tomada hoje, ele não entraria na disputa. “A princípio existem muitos pedidos para ele participar, porém não tem nada definido. Se fosse hoje a resposta seria não”, disse Gilson Jr.
Alexandre quer base ampla e afastar clima de euforia
No entorno do prefeito Alexandre Ferreira (MDB), a ordem é evitar o clima de favoritismo. Assessores tem se debruçado nas últimas semanas em múltiplas reuniões com dirigentes partidários, pré-candidatos a vereadores e líderes estaduais das principais legendas para consolidar um grande bloco na disputa pela reeleição. Mas tudo é feito com extrema discrição.
“A eleição ainda está distante. Temos muito trabalho a ser feito ainda para a população. Desde sempre, temos buscado o diálogo para uma frente ampla que defenda a nossa cidade e a nossa população. Já temos o apoio oficial do governador Tarcísio e do seu partido (Republicanos), além de siglas importantes que já caminham conosco. E, dentro deste diálogo, na sequência, teremos a adesão de outros partidos e, principalmente, de suas lideranças, pois os partidos são feitos por pessoas. Todos aqueles que desejarem participar de um projeto sério, que priorize Franca, terão voz e serão muito importantes”, disse Alexandre Ferreira.
Na aliança governista, já estão confirmadas as participações de PP, Republicanos e Podemos. O presidente do Diretório Regional do Republicanos: Serginho Granero, confirmou a adesão à pré-candidatura de Alexandre Ferreira. “Já está certo o apoio”. Estão em fase final de negociação o PSD, PSDB e Cidadania. O prefeito aposta também na relevância do apoio de lideranças que estão hoje longe da política, mas que tem penetração junto ao eleitorado. O ex-prefeito Sidnei Rocha e os vereadores Adermis Marini e Marco Garcia, todos antigos desafetos, estariam convencidos de que a hora é de apoiar Alexandre Ferreira.