24 de dezembro de 2025
BARULHO

Culto em terreiro de candomblé em Franca termina em ocorrência de perturbação e desacato

da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Redes Sociais
Um boletim de ocorrência de perturbação de sossego, desacato e desobediência foi registrado na Polícia Civil

Uma denúncia sobre som alto em um culto religioso realizado na noite da última sexta-feira, 26, em um terreiro de candomblé, localizado no bairro Jardim Martins, em Franca, terminou em uma ocorrência policial.

Conforme registros do boletim de ocorrência, por volta das 23h, um vizinho do local, um engenheiro de 31 anos, acionou a Polícia Militar alegando que o barulho proveniente do culto estava interferindo em seu descanso. Segundo a denúncia, os participantes estavam tocando tambores e entoando cânticos em alto volume.

Ao chegar ao local, a Polícia Militar constatou a alta intensidade do som e registrou em vídeo a situação, conforme o documento. O vizinho expressou sua intenção de formalizar um boletim de ocorrência, alegando perturbação do sossego.

Ainda de acordo com os dados do boletim de ocorrência, os policiais tentaram contato com os responsáveis do terreiro, porém, devido ao volume elevado, a comunicação não foi possível. Eles, então, iluminaram o local com lanternas para que pudessem ser vistos.

No documento registrado na Delegacia de Polícia Civil de Franca, ao ser abordado, o responsável pelo local, um homem de 32 anos, que seria o babalorixá do culto, reagiu de forma exaltada, alegando que os policiais não tinham o direito de entrar no espaço.

Ele foi informado de que deveria acompanhar os policiais até a CPJ (Central de Polícia Judiciária) de Franca, teria começado a dizer frases como “Eu vou na minha Mercedes, você tem uma Mercedes? Prender bandidos vocês não querem prender, mas eu vocês querem?".

No decorrer da ação, o responsável, que utilizava um chapéu religioso, foi informado que precisava retirar o acessório para entrar na viatura, mas se recusou a retirá-lo, gerando uma nova discussão, alegando que se tratava de uma indumentária religiosa. Posteriormente, removeu a peça para ser conduzido até a delegacia.

Ao chegar à CPJ de Franca, membros de sua comunidade religiosa alegaram que a prisão do responsável configuraria intolerância religiosa. Conforme consta na ocorrência, os policiais esclareceram que a intenção não era prendê-lo, mas conduzi-lo até a delegacia.

Na delegacia, foram ouvidos o responsável pelo local, acompanhado de seu advogado, integrantes da comunidade religiosa e o vizinho que reclamou de barulho alto no culto. Um boletim de ocorrência de perturbação de sossego, desacato e desobediência foi registrado na Polícia Civil.

Pai de Santo critica ação policial
O Pai Luciano, sacerdote do culto de candomblé, religião de matriz africana, criticou veementemente a abordagem policial ocorrida na noite de sexta-feira, 26. No relato do líder religioso, não houve resistência por parte dos participantes, levantando suspeitas sobre possível motivação de preconceito racial ou religioso por parte das autoridades.

De acordo com Luciano, a ação policial ocorreu de maneira truculenta, com invasão do local. Ele ressalta que o motivo inicial para a presença policial, relacionado ao barulho, poderia ter sido resolvido de forma mais educada e proporcional.

"O que ocorreu foi totalmente diferente (do que consta no boletim de ocorrência). A Polícia invadiu, ela entrou dentro do local com a maior truculência possível. E os ritos já tinham até terminado. A forma que foi abordado (sic), esse é o problema. Não é a questão do barulho. Se fosse (pelo) barulho, tinha que ter apurado os fatos e, se fosse necessário, levado à delegacia. E não houve nenhum tipo de resistência. Não houve nada contra eles (policiais), nenhum tipo de hostilidade contra eles. O que houve, sim, foram eles com hostilidade contra as pessoas que estavam ali no terreiro. (Agiram) como se fossemos um bando de bandidos, um bando de criminosos", afirmou.

O líder religioso ainda informou que medidas legais estão sendo tomadas contra o Estado, incluindo a acionamento da corregedoria da PM, o que será feito com o apoio da equipe do deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL), segundo o Pai de Santo.

*Texto atualizado após o Pai Luciano retornar os contatos da reportagem e apresentar a versão da comunidade religiosa