Uma reflexão para o Dia da Paz! A Universidade de Michigan divulgou uma entrevista com Shimri Zameret, um de seus cientistas que ensina e lidera uma pesquisa sobre o conflito palestino-israelense, governança global e resistência civil, além de ser também um ativista da paz israelita e sobrevivente de um ataque anterior do Hamas. Ele é casado com uma brasileira.
Ele afirma que a guerra Israel-Hamas é sintoma de um sistema disfuncional das Nações Unidas e do Conselho de Segurança. O sistema internacional de pós-guerra criado em 1945 não consegue lidar com os problemas globais do século 21: alterações climáticas, atrocidades em massa, pandemias globais e crises financeiras. A boa notícia é que podemos consertar isso.
Há muitos anos, pacifistas da Palestina e de Israel afirmam que a situação em Gaza é insustentável e, da forma mais horrível, isto se tornou um senso comum em todo o mundo. Isto faz com que também seja uma oportunidade para mudança, local e internacional.
Há décadas, Martin Luther King defendeu uma força policial internacional, uma partilha da soberania dos estados-nações e a criação de uma autoridade supranacional democrática. Além disso, precisamos de tribunais internacionais fortes e democráticos, de uma assembleia permanente de cidadãos globais baseada em eleições e de uma assembleia parlamentar das Nações Unidas. Precisamos criar mecanismos democráticos que permitam que os civis comuns de todo o mundo controlem essas instituições internacionais.
Os países ricos controlam o Conselho de Segurança e as operações de manutenção da paz, o FMI, o BIS, o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde, porque o modelo de financiamento é condicional e voluntário, o que significa que os países ricos, por vezes empresas ou indivíduos ricos, dão dinheiro para estas organizações internacionais como uma forma eficaz de controlar a política. Assim, para serem independentes, as instituições precisam ter financiamento público independente.
É preciso acabar com a ditadura do veto. Na era pós-guerra, o Conselho de Segurança da ONU foi encarregado de manter a paz internacional. Ele, e só ele, pode autorizar o uso legal da força e sanções financeiras contra ameaças à paz internacional. Mas no conselho, cinco países superpotências, os EUA, a China, o Reino Unido, a França e a Rússia, podem vetar ou bloquear qualquer decisão. Precisamos retirar este poder de veto das superpotências e passar para o governo da maioria.
A última coisa é a ditadura do executivo. O fato de não haver parlamentares significa que as minorias não estão representadas nas instituições internacionais. Apenas os governos têm poder nas instituições internacionais. A ideia democrática da separação de poderes, tais como judicial, executivo e parlamentar, consiste em quebrar o poder político para proteger os cidadãos e criar pesos e contrapesos. No sistema pós-guerra, os governos e o poder executivo não são controlados, nada pode responsabilizá-los. Para Zameret devemos criar um mecanismo mais robusto e democrático para as Nações Unidas.
Mário Eugênio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e congregado mariano