22 de novembro de 2024
POLÍTICA

Guilherme Cortez: novo nome na disputa pela Prefeitura promete movimentar eleições

Por Denise Silva | editora da rede Sampi
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação
O deputado estadual Guilherme Cortez, durante discurso na Assembleia Legislativa

As eleições 2024 de Franca acabam de ganhar um novo tempero: o Psol colocou o nome do deputado estadual Guilherme Cortez como opção para participar da disputa. Na prática, caso o partido consiga angariar apoios das legendas da esquerda, especialmente do PT da cidade, o jovem político deve apimentar bastante a disputa pela Prefeitura de Franca no ano que vem. A informação foi confirmada pelo Psol em uma publicação no Instagram na última segunda-feira, 13. O próprio deputado Guilherme Cortez também confirmou sua disposição em entrevista ao portal GCN/Sampi.

A corrida eleitoral em Franca, até há pouco, tinha um cenário de repetição. Estava bastante centrada no embate entre o prefeito Alexandre Ferreira (MDB), candidato natural à reeleição, e opositores já conhecidos de disputas anteriores, como os empresários João Rocha (União Brasil), Flávia Lancha (PSD) e o ex-prefeito Gilson de Souza (Republicanos).

A missão de Cortez não é nada fácil. Antes de tudo, o deputado terá de encantar os petistas, acostumados a liderarem chapas majoritárias em Franca há anos. Apesar de o partido ter encontrado dificuldade para se reorganizar na cidade desde a saída de Gilmar Dominici da Prefeitura, ainda em 2004, a votação de Rafael Bruxelas em 2020 e do vereador Gilson Pelizaro para a Câmara na última disputa deram um novo fôlego aos petistas.

Qualquer bom observador da política francana sabe bem que convencer qualquer político ou partido da cidade a abrir mão do protagonismo para apoiar “uma causa” é missão quase impossível. Nada indica que será diferente desta vez na luta de Cortez para atrair o PT. O que mantém a esperança é a pouca disposição de Gilson Pelizaro de encarar a disputa à Prefeitura neste ano e o cargo no Ministérios das Relações Institucionais a que Rafael Bruxellas foi alçado.

“Estivemos juntos com o PT na eleição passada e em várias lutas nos últimos anos. Por isso, hoje podemos discutir um projeto comum para a cidade. O PT ainda está debatendo sua tática e respeito muito esse processo, mas espero que possamos estar juntos na eleição. A unidade da esquerda foi essencial para eleger o Lula e também vai ser no ano que vem”, explica Cortez.

CONSERVADORES
O segundo obstáculo de Cortez é se posicionar como um candidato de uma esquerda mais radical em uma cidade conservadora, em que o bolsonarismo, apesar de mais contido desde os longos protestos contra a eleição de Lula em frente ao Tiro de Guerra e pelas rodovias, continua firme e forte. Afinal, em uma Câmara Municipal com 15 vereadores, entre fundamentalmente ligados às igrejas, sejam católicas ou evangélicas, apenas um vereador - o próprio Pelizaro - pertence à esquerda.

Resultado de pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, publicada em 30 de agosto deste ano, mostra que o governo conservador de Tarcísio de Freitas (Republicanos) é aprovado por 70% dos francanos, enquanto a gestão do presidente Lula (PT) é reprovada por 49% da cidade.

É exatamente nesta ferida que o deputado quer tocar enquanto candidato. “O interior paulista é essencial para a disputa contra o bolsonarismo”, diz a nota divulgada pelo partido na rede social. “Se a esquerda não se voltar para a disputa do interior, o Estado de São Paulo continuará dominado pelo conservadorismo”, sentencia.

“A esquerda está retomando protagonismo em Franca. Essa cidade nunca tinha eleito um deputado de esquerda e agora aqui estou. Em 2020, fui o 4º candidato a vereador mais votado da cidade inteira. Tem muita gente que não se identifica com essa política ultrapassada que domina a cidade há 20 anos e quer algo novo. Acho que vamos conseguir expressar isso nas eleições”, aposta o deputado.

Por fim, Cortez ainda terá diante de si o desafio da aprovação conquistada por Alexandre Ferreira ao longo deste mandato, atestado por sucessivas pesquisas de avaliação de governo de distintos institutos. Brigas em escolas, faltas de vagas para internação na Santa Casa e o número crescente de moradores de rua são problemas recorrentes, mas insuficientes para afetar significativamente a imagem do prefeito que, após um primeiro mandato conturbado, entre 2013-2016, parece ter aprendido a lição e adotado um estilo mais conciliador.

“Existem grandes gargalos na gestão do Alexandre. A violência contra os nossos professores, uma negligência absurda com a cultura... Ele governa como todos os prefeitos dos últimos 20 anos: para uma cidade que não existe mais e está estacionada no passado. Franca vai completar 200 anos no ano que vem. Precisamos olhar para o que queremos ser: uma cidade mais moderna, acolhedora, que valorize e incentive a ciência e que encontre saídas para a desindustrialização. Me parte o coração ver o avanço da informalidade, as pessoas tendo que pespontar dentro da própria garagem porque as fábricas fecharam”

Nenhum desses desafios parece desanimar Guilherme Cortez, que vem crescendo como liderança da esquerda na cidade desde sua expressiva votação para vereador, com 2.890 votos em 2020, ficando de fora depois do partido não ter alcançado o quociente eleitoral necessário.

Então jovem candidato a deputado estadual, em 2022 ele ganhou as redes e uma legião de apoiadores ao enfrentar o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em plena rua Ouvidor Freire. Guilherme Cortez destoa da classe política da cidade, mais acostumada a tentar ‘acender uma vela para Deus e outra para o diabo’. Suas posições são claras. É uma voz firme contra a privatização da Sabesp na Assembleia Legislativa e sua atuação é recheada de momentos de enfrentamento em diferentes cenários. Não tem medo de defender a população LGBTQIA+, confronta secretários estaduais em audiências públicas e parece não se abalar com as críticas de parcela do eleitorado de perfil conservador.

“Estou colocando meu nome à disposição porque acho que Franca precisa olhar para o futuro, se oxigenar. A política nessa cidade é a coisa mais ultrapassada do mundo. Por isso que tanto gente se surpreendeu com a minha eleição: um jovem, de esquerda, que traz o foco para questões que sempre foram deixadas de lado. Tenho uma visibilidade hoje por ser o primeiro deputado de esquerda que essa cidade já teve e quero colocar isso a serviço de um projeto para os próximos 200 anos de Franca.”

DEBATES
Para uma cidade como Franca que guarda na sua história eleições que surpreenderam no último minuto, como a do próprio Dominici em 2000 ou até a mais recente eleição de Gilson de Souza em 2016, nunca se deve apostar em um resultado muito antes da abertura das urnas; e, para candidatos de Franca, acostumados a um debate mais “morno”, a participação de Cortez promete.