Dos 49 milhões de brasileiros na faixa dos 15 aos 29 anos em todo o País, 20% não estudam nem trabalham, a chamada "geração nem-nem". Esses jovens, quando trabalham, normalmente trazem um desafio à gestão por conta de sua pouca resiliência e comprometimento. Quando não, como gestoras, nos deparamos com um grande lapso educacional e de suma importância para o futuro, eles têm dificuldade em escrever e não compreendem o que leem.
Causou-me surpresa um dia destes um novo cliente afirmar que só queria ser atendido por equipe sênior. Numa rápida busca no Linkedin, percebi que grandes empresas, como Dow e Basf, já fazem busca de talentos para mulheres acima dos 50 anos. Diria que essa nova tendência fará uma revolução no mercado de trabalho.
Mas não é de recursos humanos que gostaria de escrever. Acho que é mais uma experiência de cliente. Jundiaiense nata, apaixonada pela minha cidade, fui em busca de uma assistência técnica para um aparelho de som 3 em 1 que herdei de meu pai. O engraçado deste Gradiente é que eu mesma presenteei papai há 40 anos e, antes de morrer, ele disse que fazia questão que ficasse com ele porque o som era maravilhoso. E é mesmo.
Acontece que ninguém faz o conserto do Gradiente de 40 aninhos. Indicaram-me a Eletrônica Vila Arens. Chegando lá, já encontrei Jorge Yatim para um bate-papo (outra atividade típica da terrinha) e fiquei sabendo que o meu aparelhinho já estivera lá há dez anos. Os senhores, dois idosos simpáticos, até se lembraram do papai. Bingo! O aparelho já está no conserto.
E como jundiaiense que também precisava de um consertinho no guarda-roupa, atravessei a rua e fui no Filipini perguntar sobre um marceneiro das antigas que sabia mexer com madeira e não com mdf. Os atendentes, simpáticos, me deram um imã de biscuit, com a figura de um marceneiro e um telefone fixo (sim, ele ainda existe). Era o sr. Pastro, que já vai providenciar o conserto. Com muita honra, posso lhe chamar de idoso também.
Naquele dia, longe do profissionalismo exacerbado e treinado da capital, juntei as três informações. Quem é que vai aprender a cuidar do básico? Em um país de universitários desempregados, que falta fará a mão de obra especializada? O Brasil é o único país no mundo que não se concentra em ensino técnico. Por ora, a lacuna está sendo preenchida por estes idosos fantásticos que escrevem nossa história, mas logo logo teremos de nos conformar em consumir os produtos porcarias de alta rotatividade. Neste mercado de trabalho, a hora é dos seniores. Alguém duvida?
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora (dine.gattolini@gmail.com)