26 de dezembro de 2025
NOSSAS LETRAS

Paternidade

Por Lúcia Brigagão | Especial para o GCN
| Tempo de leitura: 2 min

No segundo domingo de junho na Inglaterra comemora-se o Dia dos Pais. Neste 18 de junho, meu filho caçula, particular e carinhosamente chamado de “Sol da minha praia” será homenageado pela primeira vez, pelas duas filhas que nasceram em março deste ano. Inglesas, portanto. Melissa e Beatrice, que nem falam ainda, não imaginam como ele vai ficar emocionado. Elas não escolheram ou compraram os presentes. Verdade, colaboraram: ficaram quietinhas durante o processo da compra: camiseta? O porta-retratos? Vinho? Ou outros badulaques do gosto do pai? Claro, elas permitirão que a mãe e a avó estejam presentes na festa...  Mas a festa será apenas deles três. A mãe participará, claro. E a avó jura que não abandona a sala. Meras coadjuvantes.

A vontade de palpitar em tudo é grande. Dar pitacos. Dizer faz isso, faz aquilo. Dia desses Melissa estava soluçando, deu pra perceber no vídeo os pulinhos e barulhinhos típicos da reação. Não resisti. Disse para meu filho: puxa uns pelinhos do cobertorzinho, molha na sua boca e põe na testa dela, aconselhei. Ligeira vaia dos espectadores – dos outros filhos homens virtualmente presentes - acompanhou meu conselho. Continuamos o papo por segundos, desligamos os telefones e logo em seguida veio foto da netinha, ainda com o algodãozinho na testa, acompanhada da legenda: “Funcionou!”. 

Por falar nisso, alguém sabe o endereço de benzedeira em Londres? Nas imediações? As garotinhas ranhetam noite e dia. Inteiros. Só pode ser quebrante. Eu até me arriscaria a benzê-las, que qualquer oração de avó é poderosa, mas o difícil é achar arruda por estas bandas. A planta mesmo, não a essência. Vou ao Kew Gardens. Se nossa borracha foi desenvolvida ali – e com sucesso – os botânicos devem ter no pavilhão de plantas exóticas alguma versão, não somente de arruda, mas também de mirra e/ou alecrim. Separadas, funcionam. Juntas, matam qualquer ziquizira no tapa. Acrescente-se o copo com água mais o terço benzido por padre - item fácil de achar na casa dos netos da bisavó Lourdes. Enfeito o minialtar com a imagem do santo de minha devoção e padroeiro da família que carrego comigo – São José. Altar quase pronto, acrescentarei outros utensílios também necessários:  velas, incensos de arruda, mirra, alecrim e olíbano - desconheço, mas faz parte da receita...  Visto meu dashiki colorido para dar o clima. Altar pronto, roupa apropriada, fecho os olhos e devotadamente, rezo Ave Maria e o Pai Nosso: não haverá uruca que não desapareça. Aí o plácido sono das meninas e merecido sono dos pais, descerá até eles... 

Pais modernos são mais presentes na vida das filhas que pais antigos. Acompanham a mãe nos procedimentos pré e pós-natais; seguram suas mãos na hora do parto; acordam na madrugada e dividem todos os cuidados: banhos, remédios, trocam cocô e xixi; dão papinha, mamadeiras. Depois de muita magia e compartilhamento, filha e pai percebem que é hora de seguirem, cada qual sua trilha. Se forem mental e afetivamente saudáveis, terão aí começado novo sonho.