24 de dezembro de 2024
OPINIÃO

O poder emana do povo?

Por Toninho Menezes | Especial para o GCN
| Tempo de leitura: 3 min

Consideramo-nos privilegiados, pois em razão de nossas atividades profissionais ao longo de nossas vidas, agregamos valores e conhecimentos diversos que muitas pessoas não tiveram tais oportunidades. Por um lado, foi excelente, por outro nos trouxe insatisfação, pois percebemos e detectamos algumas coisas que um cidadão leigo comumente nem percebe, e nós, diante de tais situações, somos impotentes para modificá-las.

A única coisa que podemos fazer é tentar esclarecer algumas situações, pois percebemos os meandros, os detalhes nas entrelinhas e a maneira como ocorre, apesar de que, por diversas vezes, somos mal interpretados.

Infelizmente, diante de tais estudos e análises dos fatos ocorridos na vida em sociedade no dia a dia, chegamos à conclusão de que nós somos otários, manipulados por estratégias diárias utilizadas contra nós, cidadãos, o tempo todo, sem sequer percebermos, pois vendem a falsa ideia de que "o Poder emana do povo".

Em nossa sociedade humana, existem duas categorias: a minoria, detentora do Poder decisório de como se dá e deve ser a vida em sociedade; e a grande maioria, formada pelos administrados cidadãos, que querendo ou não devem se sujeitar às determinações sem o direito de reclamar ou se contrapor.

O trabalho dos detentores do Poder e seus aliados são nos persuadir e nos manipular para sempre tirar vantagens próprias, pois suas sobrevivências dependem disso. E a história da humanidade demonstra que eles nunca, jamais, vão abrir mão dessas técnicas manipulatórias tão facilmente.

Maquiavel já afirmava em sua obra O Príncipe que são dois os caminhos pelos quais se conquista um Estado ou se chega ao Poder: a) pelo desejo próprio do povo; ou b) pela “graça” dos poderosos.

Quando os poderosos percebem que não podem mais manipular e resistir ao povo, passam a criar e elevar a reputação de um de seus escolhidos e o elevam ao Poder, para a sua “sombra” Poder satisfazer suas ambições. Do mesmo modo, o povo, ao perceber que não consegue resistir à força dos grandes poderosos, passa a criar e elevar a reputação de um concidadão e o eleva ao Poder para defender-se sob sua autoridade.

Dessa forma temos que aquele que alcança o Poder auxiliado pelos grandes e poderosos mantém-se com maior dificuldade do que aquele eleito pela real e transparente vontade popular. A explicação é simples, pois aquele que alcançou o Poder através de articulações e manipulações dos poderosos estará cercado de muita gente a qual deve favores e, por isso, não pode comandá-los, tampouco agir pela sua própria vontade.

Já aquele que alcança o Poder pela vontade do povo, acha-se só, e ao seu redor só alguns poucos estão dispostos a seguir suas propostas, orientações necessárias para a modificação do sistema. E a grande questão é que não conseguirá honestamente contentar os grandes sem ofender o povo. E não satisfazendo os poderosos, a oposição a seu governo será constante e diária, pois são detentores dos órgãos que possibilitam a manipulação das informações. Porém, como chegou ao Poder realmente pela vontade popular, poderá satisfazer o povo, cujas vontades e desejos são mais honestos que os interesses dos poderosos.

Enfim, os que alcançam o Poder pela verdadeira vontade popular, na maioria das vezes, não conseguem manter suas posições, governar e implementar as mudanças que a população quer, pois são atacados diariamente por tudo e por nada, sem direito a defender-se na mesma proporção.

Ao implantar as mudanças necessárias, terá como inimigos ferozes todos os que eram beneficiados pelo sistema antigo e encontrará defensores tímidos naqueles que serão beneficiados pelo novo. Essa fraqueza se origina do medo de emitir opiniões e críticas, visto as retaliações ilegalmente aplicadas através de prisões, bloqueios, impostas pelos que ainda permanecem nas instituições, sem nenhum respeito à segurança jurídica e ao devido processo legal.

A questão que fica é: Será que realmente todo Poder emana do povo?

Toninho Menezes é mestre em direito público, advogado e professor universitário.