No comando de Campinas, cidade com um orçamento de mais de R$ 7 bilhões, liderando os destinos de uma cidade com mais de um milhão de habitantes – a primeira cidade do Brasil a se tornar metrópole sem ser uma capital – está hoje um pedregulhense, que há 43 anos saiu da pequena Pedregulho para estudar, sem ter ideia do que estaria por vir.
A política, no entanto, está na vida de Dário Saadi desde seu nascimento. Em 1963, quando nasceu na Santa Casa de Pedregulho, seu pai estava em meio a uma campanha política. Quando veio o golpe militar de 1964, Eduardo Saadi era prefeito da cidade. “Em Pedregulho as eleições sempre foram muito disputadas. Quando meu pai era ainda um líder político, nós convivíamos com uma oposição forte. Eu tinha amigos que eram contrários ao meu pai politicamente, e sempre causava algum tipo de desconforto, né? Mas foi muito boa a infância na cidade, e me ajudou no futuro político que eu viria a ter na minha vida”, lembrou durante a entrevista que concedeu em seu espaçoso gabinete na prefeitura de Campinas, com direito a sala e antessala, sofás de couro marrom escuro, uma ampla mesa de madeira para reuniões, além da sua própria mesa de trabalho.
Gentil, com uma fala fluida e objetiva, Dário não deixou sem resposta nenhuma pergunta. Durante os cerca de 50 minutos de entrevista, seu jeito simpático ficou mais evidente ainda quando recebeu uma visita muito esperada: o filho Heitor, de 5 anos. “Está saindo de viagem com a mãe. Faço questão de encontrá-lo toda semana. Mas semana passada eu estava em viagem pela Prefeitura e não consegui passar mais tempo com ele, que agora está indo viajar. Por isso pedi para mãe trazê-lo aqui um pouquinho. Se não, ficaria uma semana sem encontrar com ele”, fez questão de explicar à equipe, sem esconder o prazer de estar com o garoto no colo. A visita terminou com uma selfie registrada pelo pai. Além de Heitor, Dário é pai de Pedro, que hoje está com 14 anos. Os dois moram cada um com a sua mãe, mas veem o pai com a máxima frequência que os compromissos como prefeito de uma cidade tão grande permitem.
A vida corrida é rotina, assim como a disposição para enfrentar grandes desafios. Dário saiu de Pedregulho com 16 anos. Em Ribeirão, para onde se mudou, se dedicou a estudar para o vestibular. Apesar da preferência do pai para que fizesse Direito, foi a Medicina que sempre encantou o prefeito. Foi aprovado em duas faculdades, em Catanduva e em Campinas. Por influência do pai, que tinha uma simpatia particular pelos campineiros – e já tinha se conformado que não teria um filho advogado –, Dário escolheu Campinas.
Ele começou a cursar medicina na PUC em 1982. “Fiz a faculdade de medicina, e durante a faculdade, não me envolvi muito na política estudantil. Não tinha pretensões”, disse.
Início na política
Pós-faculdade, três anos de residência em urologia no Hospital Municipal “Mário Gatti”. Logo em seguida, Dário passou no concurso público e foi atuar como médico urologista no mesmo hospital. Em meio ao trabalho, já liderando alguns movimentos de melhoria da saúde pública, conheceu Magalhães Teixeira, ex-prefeito de Campinas, que estava em campanha na época para deputado federal.
“Acabei arrumando votos para ele em Pedregulho, uma quantidade muito grande de votos. Ele ficou impressionado e me convidou para entrar, na época, no PSDB. Entrei, a convite dele. Ele também me convidou para ser candidato a vereador pela sua chapa.”
Em 1992, Saadi foi candidato a vereador pela primeira vez – foi o início de sua trajetória na vida pública. O candidato foi o décimo vereador mais votado, mas não foi eleito e ficou como suplente. No entanto, aos 29 anos, foi convidado pelo mesmo Magalhães Teixeira, que tinha sido eleito como prefeito, para ser presidente do Hospital Municipal “Mário Gatti”.
“Fiquei lá durante quase dois anos. Um vereador foi eleito deputado e eu assumi o mandato de vereador”, disse Dário. O mandato ganhou apoiadores e depois ele foi reeleito vereador por mais três mandatos. Depois, em 2014, foi candidato a deputado, mas os mais de 29 mil votos que recebeu não foram suficientes para garantir uma vaga na Assembléia Legislativa. Em 2015 foi convidado a assumir a Secretaria de Esportes de Campinas.
“Um desafio, uma secretaria sem nenhum tipo de recurso. O esporte, em geral convive com a falta de recursos e tive a felicidade de fazer um bom trabalho. A partir daí, surgiu a oportunidade de lançarmos a candidatura para a Prefeitura e a coisa deu certo”, disse Dário, eleito prefeito de Campinas em 2020 – uma cidade empreendedora, rica, mas que carrega as dificuldades e desigualdades de uma capital.
A história de Dário se assemelha em muito com a de outro pedregulhense ilustre: Orestes Quércia. Vereador, prefeito, deputado, governador e senador, Quércia se tornou uma referência política no Brasil. Assim como Dário, sua história também começou na pequena Pedregulho.
Mesmo com tantos pontos coincidentes, Dário garante que apesar da admiração pela figura de Quércia, nunca teve ele como um modelo a ser seguido. “É claro que a gente sempre observava o Quércia como fenômeno da política. Ele teve uma trajetória meteórica. Saiu da Prefeitura de Campinas e foi eleito senador numa disputa acirrada.”
As semelhanças são mesmo ‘meras coincidências’. Quando questionado, no entanto, se os voos maiores, alçados por Quércia, que chegou a senador da República e governador do Estado, passando por muitos cargos de projeção nacional, o inspiram, Dário deixa um pouco da assertividade de lado e prefere deixar o assunto aberto.
“Eu acho que o meu futuro político eu vou começar a discutir depois das eleições deste ano. Eu sou muito pé no chão. É muito cedo para você pensar em outros passos, mesmo em reeleição, que é uma possibilidade. É muito cedo. Um ano e oito meses de governo (cumpridos) e os desafios são imensos, a cidade é realmente uma potência”, afirma.
Se no discurso sobra cautela, nos bastidores políticos de Campinas ninguém tem a menor dúvida de que Dário Saadi vá disputar a reeleição, e são poucos os que não o enxergam no cargo por mais quatros anos.