17 de novembro de 2024
OPINIÃO

'Cidadões!'

Por Lúcia Brigagão | especial para o GCN
| Tempo de leitura: 3 min

Meus queridos cidadões! Ondesdeontem vieram me cobrar mais ação! Não sou homem de ficar espendurado nos suspensol de políticos matreiros, ganhar troféis sem merecimento, pinchar paredes com bobagens, muito menos de soltar panfretos nas ruas, sujando a cidade.  Sou homem de palavras. Sou homem de honrar minha árvore ginecológica, aqui, neste palangue público! Não guspo pra cima, nem fico só olhando meu imbigo: meus horizontes têm larguedura maior! A questã atual é uma: justificar minha candidatura e é o que vou tentar fazer, mostrando meu pograma de governo. Pois bem, é o que faço agora.

Da cidade, minha gente! Vamos analisar a cidade! Ela cresceu, virou gigante. Mendingos aí estão em número assustador. Os edifíceis subiram de forma desordenada, atrapalhando o tráfico da cidade, o cirquito dos carros, o andar dos pederastas. Vou buscar a solução para tais poblemas. Vou colocar rotidóguis em pontos estratégicos, com frases orientando a população. Comigo é assim: ou é ou deixa de é!

Na prefeitura? Há muito o que fazer! É preciso tomar conta do que é do povo. O matrimônio público está sendo delapidado e o que tem feito a câmera municipal? Nada! Lá só ficam no bê-a-bá, tirando fotos para a prosperidade, vaidosos que são. Discurtir, discurtem, mas discursões que não levam a nada. Ficam parecendo estaltas quando lhes cobram serviços. Sobem os degráis das escadarias como se fossem deuses. Pagões! Vetaram até a verba para enfeitar as ruas no dia 18 de junho, no dia de Hábeas Corpus! E me diga aí: o que é uma sociedade sem religião?

Usam glichês eternos de bondade e sapiência, mas quéde um ataque aos pobremas dos jovens com os tóchicos? Tenho, na minha cardeneta os nomes de quem nem se lincha para isso! Perdoem, minha gente, mas meu colasterol sobe quando falo nesses assuntos. A gente anda meia cansada vendo tanta inércia, a gente fica desenquieta buscando soluções!

O Departamento de Aguapecuária está desativado. Nem disposição de gado faz mais. E as obras públicas? Abrem que abrem poços cesarianos mas a água continua faltando em vários pontos da cidade. Em outros há imundações. Dá pra agüentar?  E quem pode acompanhar a vacilação dos preços de água e luz?

Jovens, crianças e mulheres: serão minhas prioridades! Meu Pograma Sob a Mulher é amplo e abrangente. Vou incentivar enzames eternos periódicos para evitar doenças graves delas. Só usar remedinhos tipo Melhoral e Navagina não adianta. É preciso fazer chequeúpi pelo menos uma vez no ano: toda revista fala isso! E, prometo, será ingigência no meu governo: “Tudo, Tudo Sob a Mulher!” E as crianças? Vai ser obrigatório fazer elétrico do célebro para descobrir flocos na cabeça delas. Menino come muita semente, todo mundo sabe disso. Vamos privinir penicites, úrsulas no estómis, morróidas, desinterias, má digestã, intochicação de salchicha estragada dos estanders de porta de feira e parques. Não é só dar um bicarbonato, não. É preciso privinir!

Fazem meses que tenho tudo isso entalado na minha garganta, meu coração já quase explodiu com taquicardico. Muitas vezes quase enlouqueci pensando que nosso códico penal prevê  essas situações e não se toma providência!

Como não sou homem de ficar de chórtis tomando pinga nos bares – no máximo tomo um chôpiss; meu coração não é de lastec; falo sempre a verdade; estou sempre decascando o verbo; minha cabeça buscando a verdade  numa aspiral ascendente, lhe rogo: se você ainda não comprometeu seu voto, peço que esse seu voto seje meu!

Prometo, não vou ser um largato escorregadio. Indesque eu era menino, meu pai que trabalhava na gurita de guarda, dentro daquela gabine fechada, já me dizia: “Vai, filho! Resolva os poblemas da humanidade!”  E eu vou fazer isso! Com luta e sacrifício! Mas toda noite, quando botar minha cabeça no trabisseiro, vou dormir desincomodado!

Tenho dito!

(Nestes dias, marcados pela intensificação de propagandas políticas de exaltações e louvações - pessoais ou coletivas - lembrei-me deste texto escrito em 2004, evidentemente baseado em fatos reais.) 

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.