24 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Os erros nas pesquisas eleitorais

Por Toninho Menezes | especial para o GCN
| Tempo de leitura: 4 min

Ultimamente a pergunta que mais recebemos é sobre as pesquisas eleitorais. Assim, em razão de tais questionamentos, resolvemos republicar artigo de nossa coluna escrito e publicado no Jornal Comércio da Franca, na edição do dia 22 de outubro de 2006:

“A credibilidade dos institutos de pesquisas eleitorais ficou abalada após os erros cometidos no primeiro turno das eleições. As diferenças e os erros expressivos entre os números divulgados e a votação realmente obtida devem fazer com que o eleitor comece a desconfiar dos números apresentados.

Os próprios institutos de pesquisas estão ainda a investigar o que ocorreu. Fato é que o diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, avalia que 'com a rotina das eleições, o eleitor brasileiro está ficando mais íntimo das urnas e com isso deixa as decisões para a última hora e, esse tipo de comportamento dificulta a tarefa de se detectar os resultados reais'. Já a diretora do Ibope, Márcia Cavallari, diz que: 'algumas vezes determinadas candidaturas crescem de forma surpreendente e outras murcham'.

Apesar das justificativas, nenhum instituto de pesquisa captou a votação do candidato Geraldo Alckmin, uma diferença muito grande mesmo em se considerando a margem de erro divulgada. Também não previram a vitória no primeiro turno de Jaques Wagner no Estado da Bahia. E o erro maior aconteceu no Estado do Rio Grande do Sul, onde o candidato cotado para ser eleito já no primeiro turno ficou em terceiro lugar, assim nem sequer ficou para disputa do segundo turno.

Em razão dos erros cometidos, surgiu uma grande polêmica gerada pelos professores José Ferreira de Carvalho (professor aposentado da Unicamp) e Cristiano Ferraz (professor da Universidade de Pernambuco) especialistas em estatísticas, que concluíram afirmando que as pesquisas pecam no seu aspecto técnico.

O centro da discussão está na amostragem por quotas, utilizada pelos institutos, onde os eleitores são entrevistados nas ruas e a possibilidade de controle e exatidão é bem menor do que no método mais recomendado - a amostragem probabilística - no qual as pessoas são sorteadas e entrevistadas em casa.

Nas projeções apresentadas como prévias das eleições para o primeiro turno (01/10/2006), as pesquisas foram quase diárias. Isso pode explicar por que os institutos deram preferência à amostragem por quotas, pois, segundo os dois professores, seus dirigentes costumam alegar que o outro método é muito demorado e bem mais caro.

Antonio Duran, ex-professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas concorda com a opinião dos professores e acrescenta que, nas ruas, variáveis como o horário e os pontos escolhidos, além da falta de um controle maior sobre o trabalho dos entrevistadores, são fatores que podem falsear os resultados.

A pergunta que fica é: há justificativa estatística para amostragem por quota? Para o professor Jorge de Sousa, da Universidade de Brasília, a resposta é não e reforça seu pensamento nas pesquisas efetuadas em levantamentos eleitorais documentadas no seu livro “Pesquisa Eleitoral: Críticas e Técnicas”, onde demonstra tecnicamente que as pesquisas erram muito mais do que as declaradas margens de erro. E pasmem as margens de erro declaradas não possuem fundamentação estatística.

Penso que, se não se pode fazer o levantamento de modo adequado, melhor não o fazer! E se não se garante a precisão das estimativas, melhor não se divulgar algo, possivelmente errado, que pode influenciar o processo eleitoral. É de todo recomendável que as autoridades que conduzem o processo eleitoral exijam não apenas a declaração da margem de erro, mas que demandem a prova técnica estatística de que a margem é mesmo aquela declarada.

Em razão das aulas de estatística que tivemos no curso de graduação em Administração de Empresas, francamente, duvidamos que alguém possa sensatamente calcular margens de erro (erro máximo admissível) em amostragens por quotas.

Sinceramente, pensamos que para uma evolução no sistema eleitoral, sem que pesquisas “encomendadas” possam interferir nas eleições deste ou daquele candidato, os institutos de pesquisas cujas previsões errem com relação ao resultado efetivo, ao longo de duas eleições consecutivas, na semana que antecede o pleito deveriam ser punidos com a impossibilidade de se registrar e divulgar futuras pesquisas eleitorais.

A nossa sorte é que boa parte dos eleitores estão bem mais amadurecidos e não se deixam influenciar por pesquisas eleitorais ‘contratadas’, o que, aliás, só por serem contratadas já deixam dúvidas quanto a sua imparcialidade."

Toninho Menezes é mestre em direito público, advogado e professor universitário.