Superstições? Eu hein? Não as tenho e as considero tolice. Não tenho o tipo de pessoa supersticiosa. Bem, tenho um trevo de quatro folhas dentro da carteira, raminho de Cipó de São João apanhado na estrada poeirenta também seco. Uma nota de um dólar ganha de companheiro de viagem, em Veneza muitos anos atrás. Ah! Ia me esquecendo da relíquia do chaveirinho de pé de coelho solto na bolsa. Que mal há em carregar tais amuletos, pergunto? Todo mundo quer sorte, não quer? Vai daí...
Por falar em sorte, não acredito nestas coisas, mas toda última sexta-feira do mês tomo banho de sal grosso... Daquele, com pedras enormes, o mesmo que tenho no copo dissolvido em água sob a estante, para afastar maus eflúvios, diluição que, aliás, renovo com religiosidade todo penúltimo dia de toda semana. Sextas-feiras ... Credo! Nesse dia evito um monte de coisas. Por exemplo, não começo qualquer empreendimento, evito rir. Esquisitice, ou não, toda santa vez que me escangalho de rir na sexta... choro no domingo. Agora piro e não saio de casa, é quando as sextas caem num dia 13. Quando coincidem, boto roupa branca, fico de quarentena, vai que essa bobagem tem a ver...
Por falar em ver, não olho quando enterro dobra a esquina. Dizem, é urucubaca na certa. Mesmo sem acreditar nisso, o que custa fechar os olhos, ficar quietinha esperando o cortejo passar? Aí desponta na memória insidiosa questão; será que botaram a chave da porta da frente da casa na mão do defunto assim que se deu o falecimento? Não garante a volta, mas evita o inchaço indesejável do corpo do falecido. Dizem.
Por falar em corpo inchado, lembrei-me do tempo em que comia banana felipe – daquelas que nascem grudadas, para garantir filhos gêmeos no futuro. Não tive parto gemelar no sentido exato, mas pensando bem meus filhos são tão parecidos que, embora nascidos com pequena diferença de idade, poderiam ser resultado daquela comilança do passado.
Por falar em passado, não passo sob escadas, nem sob ameaça de atropelamento... Dou volta no quarteirão, enfrento carros voadores, sujo sapatos em poças d’água, mas fujo quando as encontro pelas calçadas. Por falar em calçadas, não calço jamais o pé esquerdo antes do direito e nunca tive coragem de entrar com ele em algum lugar. Nem em igreja! Por falar em Igreja, o primeiro gole é sempre do Santo. Falando em santo, já pedi a amigos que se um dia for atropelada, corram e tirem o patuá preso na alça do meu sutiã. Não quero ir para o beleléu carregando escapulários.
Por falar em ir para o beleléu, jamais comi manga verde com leite. Isso é comprar passagem para o além, vovó dizia. Bem, muito destes preconceitos desapareceram depois da invenção do liquidificador. Mas é bom evitar. Por falar em evitar, depois de comer jamais passei em frente a espelhos: entorta a boca. Nunca cortei unhas à noite: “não é bom”. Não sei exatamente o sentido desse "não é bom”, Mas foi assim que aprendi que também “não é bom” pronunciar algumas palavras. Muitas tirei do vocabulário. Duas não pronuncio nem sob tortura: azar e desgraça.
Não tiro recém-nascido do quarto antes do sétimo dia do nascimento. Antes de dormir, se estou na fazenda, desfaço a cama, procurando mandarovás. Bem, não sou virgem, nem solteira, mas sabe-me lá! como dizem os catarinenses. Manias ou loucuras?
Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.