Tenho 26 anos, mas sinto que já vivi todo o inferno de uma vida inteira. Leia a crônica de Júlia Gonçalves.
Por Júlia Gonçalves
especial para o GCN
23/07/2022 - Tempo de leitura: 1 min
Tenho 26 anos, mas sinto que já vivi todo o inferno de uma vida inteira. Todo meu corpo dói, fibromialgia o diagnóstico.
Segundo a médica espiritualista que me examinou, a depressão é a maior causa. Ambas as doenças caminham juntas, como companheiras de maternal, lentas progressistas e definham a vida de quem as tem.
E o mundo me pesa e doe na mesma intensidade.
Desde os 12 quando entendi a vida nunca mais soube se eu era feliz ou fingia. Em alguns momentos o sentimento era intenso e por isso eu acreditava que seria perpétuo. Em outros durava o sabor de um chiclete barato.
Mais tarde meus olhos sistemáticos retinham ações alinhavadas em voil. Na teoria, nascemos programados para sermos felizes. Ninguém é triste, legitimada em campo por todos os anos atestou-se que a felicidade é algo orgânico do humano. Aos poucos degredados, como eu, sobeja a simulação. Confesso que me perdi no personagem há tempos e hoje me exibo com a naturalidade de um poeta fingidor.
A ironia me coça a barriga como uma quase felicidade, se não fora custeada a certa desgraça a batizaria em Aurum e a exibiria em tom de carmim. Mas ironia não é felicidade e nem encenar felicidade é felicidade.
Talvez felicidade seja uma invenção, uma palavra para nomear um desejo, ou uma criação motivacional. Quiçá uma lenda divina arrebatadora em beleza, cânticos e alívio.
Salvaguarda continuarei com minha atuação aspirando aprovação do público que a mim perscruta.