Jovens custam a acreditar ou nem acreditam que, embora as mudanças no modus vivendi das sociedades notadamente tenham sido muitas, fortes, intensas, radicais, enérgicas e estruturais desde que descemos da árvore, internamente continuamos os mesmos e, segundo a música, em certos aspectos ainda vivemos como nossos pais. Ou como nossos ancestrais, aqueles que arrastavam as mãos ao andar.
Inveja, egoísmo, mentira e manipulação da verdade, torção de fatos para cunhar falácias foram inventados há tempo. Sentimentos como esses, que a prática solidificou e até aprimorou, notadamente são eternos, recorrentes e provavelmente nasceram no momento em que o ser humano percebeu, ao sentir que sua imaginação não tinha limites, que o poder de controlar ou influenciar pessoas, fatos ou situações indevidamente e segundo os próprios interesses, era grande e aplicável em si mesmo, na família, nos relacionamentos, na sociedade. A humanidade cresceu em número, diversificou-se em raças e, outra teoria minha, foi quando surgiram homens e mulheres mais espertos que outros. Se despontaram seres humanos especialmente grandes entre os comuns, na contramão surgiram políticos e líderes sem escrúpulos. Prova disso, a história humana que registra personalidades como Mandela, Martin Luther King, tantos Charles - Chaplin, Darwin, Boyer, Madre Teresa, Beatles, Anita Garibaldi, Zilda Arns, Chico Xavier, Einstein, Beatles, Sócrates e Dalai Lama, também registra Hitler, Messalina, Mata Hari, Eduardo Cunha, Collor, Delcídio Amaral, Renan Calheiros e muitos tantos Luízes, como o da Silva e o XIV da França ambos que, num certo momento da vida, coincidentemente perderam as cabeças por causa do excesso de poder.
Mas não era isso que eu queria dizer, peço perdão. O pensamento voa, uma coisa puxa outra e, de repente, olha aí eu perdida nas minhas divagações aqui. Dizia que os jovens, volta e meia, pensam que reinventaram a roda, embora sejam craques de dar inveja na tecnologia. Nos meus, confesso sentir ligeira crueldade tão logo percebem minha incompetência em vários momentos, principalmente quando tento fuçar, sem a assistência deles, naquele monte de minúsculos botões dos aparelhos modernos. Volta e meia meio que me desprezam ou porque travei o celular ou apaguei inadvertidamente arquivos importantes ou não consegui digitar mensagens com os polegares das duas mãos. Morrem de rir. São habilidosos, eficientes, capacitados e peritos na destreza tecnológica, coisas e atividades próprias da geração deles. Todavia, em certos momentos recuam na exibição de suas habilidades e se tornam apenas crianças ou jovens, como todos fomos um dia.
Flagrei três netas diante de móvel cheio de pequenas figuras decorativas de porcelana, recordações de viagem, pecinhas de cristal, objetos que se tornaram pequenas recordações materiais de grandes momentos da minha vida. Pouca idade, naquela época. Pareciam hipnotizadas, extasiadas, diante do meu tesouro. Confabularam, me chamaram. Pediram que eu lhes desse alguns objetos que escolheram. Negociei. Prometi que cuidaria bem deles, mas não os daria naquele momento: eu os daria em datas especiais. A primeira neta escolheu a pequena bailarina ganha no meu aniversário de quinze anos; a segunda, a cesta de cheia de pequenas flores, muito especial porque trazida, no colo, de lugar distante; a terceira quis a miniatura de barraca de feira-livre mexicana. Quando você nos dará? perguntaram. Será meu presente no aniversário de quinze anos de cada uma – copiando promessas de mamãe e vovó, quando eu desejava seus pertences. Por anos elas cobiçaram os objetos. Tomei susto grande ao perceber que, muitíssimo breve, a bailarina iria para outro armário.
O tempo mudou, costumes idem. Mas idêntico ao que acontecia nas gerações passadas, o Desejo ainda continua na base dos Sonhos e estes mantêm viva a Esperança, que é a razão de ainda acreditarmos no futuro.
Mas, terrível, o presente volta e meia repete o passado.
Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.