As razões que levam um peregrino a percorrer quilômetros são muitas. Para Érika Ferreira Silva de Andrade foi o marido Marco Andrade ter vencido um câncer.
A esteticista já planejava fazer a peregrinação para Aparecida (SP) em 2018. Em março, recebeu a notícia que o marido estava com um câncer agressivo e que precisava de um tratamento rápido.
"O médico que o atendeu em Franca nos orientou ir para São Paulo pela tamanha gravidade do câncer dele. A minha peregrinação não aconteceu", relembra.
Érika se apegou a Nossa Senhora Aparecida e Santa Rita de Cássia. "Em julho de 2018, quando seria a minha saída para peregrinação, recebemos o relato médico que o Marco tinha recebido um milagre".
Não é exagero de Érika. A cirurgia de Marco foi um sucesso e não precisaria de quimioterapia, radioterapia e nenhum outro tratamento.
Depois da recuperação, veio a necessidade de cumprir os pedidos feitos à santa. "Voltou à tona a necessidade de fazer a peregrinação para agradecer tamanho milagre que aconteceu em nossas vidas".
No dia 19 de abril de 2021, Érika e mais três amigas partiram de Águas da Prata (SP) rumo a Aparecida. Sem carro de apoio, o grupo levou tudo o que precisava na mochila. "Cada um tinha um porquê de estar ali, seja para agradecer ou pedir".
“Nós vivenciamos toda a preparação do Caminho de Fé, porque nós quatro fizemos o nosso cronograma. Programamos a nossa viagem, onde seriam as paradas e os nossos descansos. Fizemos um cronograma de 12 dias. O final foi a cidade de Aparecida no dia 30 de abril de 2021”.
"Tive um sonho”
A história de Maria Fabiana Limonte, de 45 anos, começou com um sonho que teve quando soube da inauguração do Santuário de Santa Rita de Cássia, o maior do mundo dedicado à santa, na cidade mineira de Cássia, que fica a 63 km de Franca.
"Tive um sonho, onde estava de frente com Santa Rita. Depois desse sonho, passou (um tempo) até que uma amiga me mandou um vídeo e eu fui para o Caminho das Rosas", relembra.
Devota, Fabiana procurou os organizadores do Caminho de Rosas. O projeto busca proporcionar a experiência da peregrinação, saindo de Franca rumo ao santuário mineiro.
Para percorrer os três dias de trilha, foi colocado apenas o essencial na mala para não pesar. "Levamos uma calça por dia, algumas levaram também meia calça e meia térmica, além de umas três blusas de frio".
A cada cidade que passava, a consultora de desenvolvimento empresarial ficava encantada com a vista e os templos. "Nós dormimos no Mosteiro de Claraval, que foi uma experiência fantástica. Conhecer o mosteiro por dentro e sua história".
O grupo era acolhido por onde passava. "Fomos muito bem recebidos por onde passamos. Durante o caminho, todos paravam para perguntar como estava sendo essa experiência".
Fabiana ficou emocionada quando chegou em Cássia. Segundo ela, foi o dia mais pesado – os peregrinos andaram cerca de 34 km. Além disso, o grupo precisou lidar com o frio quando saíram de Ibiraci (MG) às 5 horas para chegar em Cássia. Se engana quem acha que as dificuldades pararam por aí.
"Meu pé já estava com bolha e fiz 14 km de chinelo e meia. Então, chegar lá foi emocionante, porque, além da dificuldade do caminho, o santuário e sua magnitude trouxeram sentimento de missão cumprida", conta.
Em Cássia, o grupo conheceu o Santuário, visitou a réplica da casa de Santa Rita de Cássia e participou da missa de inauguração, onde estavam autoridades mineiras, inclusive o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
Após o "sacrifício" em nome da fé, Fabiana descreve o sentimento da peregrinação. "A vivência é muito parecida com o nosso dia a dia. Tem hora que você está passando por algum desafio e vê que não vai aguentar, até que vem algo que te enche de ânimo e permite você prosseguir".
Para quem deseja fazer uma peregrinação, Fabiana recomenda começar pelo Caminho de Rosas. "Ele é só de três dias e todas as pessoas que vão se ajudam demais. Lá, tem gente de todos os tipos".
"Nos bastidores”
“Não sabia do santuário e seria uma oportunidade muito boa de visitação sobre a questão do turismo religioso. Voltei para casa e comecei a pensar sobre o que poderia contribuir nesse sentido”.
David começou a traçar uma rota, mas para isso decidiu fazer o trajeto sozinho em novembro do ano passado para sentir as dificuldades que seriam encontradas. Partindo da comunidade católica Hodie, localizada no bairro Santa Mônica, andou durante três dias sem apoio e com uma mochila nas costas.
O instrutor notou que faltava estrutura para o caminho ser usado para peregrinação. A solução foi apresentar um projeto para as prefeituras de Claraval, Ibiraci e Cássia. Os municípios analisaram e aprovaram a proposta. Assim nascia o Caminho de Rosas.
A primeira peregrinação começou no dia 20 maio. O grupo de 32 pessoas – sendo 30 mulheres – tiveram como ponto de partida a comunidade Hodie. “Precisamos montar uma logística grande. A gente teve que levar colchão inflável, roupa de cama e tudo mais”.
Para conseguir levar a bagagem, três carros acompanharam o grupo. Dois deles, oferecia água e comida, como frutas e lanches. Já o terceiro, ficou responsável pelo transporte do material de cama. Os peregrinos foram acolhidos no Mosteiro de Claraval, Ginásio Municipal de Ibiraci e no santuário de Cássia durante o trajeto. A caminhada encerrou na inauguração do templo, no dia 22 de maio.
Mesmo com o passar do tempo, a primeira peregrinação do Caminho de Rosas parece não ter terminado para o organizador. "Foi um movimento muito forte, que confesso... cheguei do caminho, mas parece que ainda estou conectado no que estava acontecendo de tão forte".
O Caminho de Rosas foi sinalizado com placas para que as pessoas possam percorrê-lo caminhando, com bicicleta ou automóveis. “Hoje é possível você sair da comunidade Hodie, onde a caminho se inicia, e chegar lá dentro do santuário seguindo as placas”.
Agora, quem deseja trilhar o caminho com o grupo, pode entrar em contato através do Instagram (clique aqui!) ou pelo telefone/Whatsapp (16) 98832-3122, tratar com o David.
Caminho da Fé
O trajeto tem mais de 2.000 km. Destes, aproximadamente 400 km atravessam montanhas da Mantiqueira, bosques, estradas vicinais e trilhas.
Os peregrinos seguem setas amarelas e as demais sinalizações para chegarem ao destino. O Caminho da Fé é administrado pela Associação dos Amigos do Caminho da Fé.
Franca também faz parte desta rota. O ramal do município foi entregue em 2019 – com instalação do marco zero na praça que fica em frente à igreja Capelinha, no Jardim Seminário.
Através do site oficial do Caminho da Fé, o peregrino consegue todas as informações necessárias para percorrer o trajeto.
David teve uma vidência no final do ano passado ao visitar a construção do santuário com um grupo de amigos. O instrutor já conhecia a região através de corridas e trilhas realizadas. Com a chegada em casa, ficou pensando na experiência e como poderia passar ela em diante.
Além do Caminho de Rosas, existe o tradicional Caminho da Fé. O projeto oferece pontos de apoio, infraestrutura e informações para milhares de fiéis que desejam visitar Aparecida todos os anos.