23 de dezembro de 2025
DESIGUALDADE

Negros vivem em média 8 anos a menos que brancos na região de Franca

Por Heloísa Taveira | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Dirceu Garcia/GCN
Na região, a idade média ao morrer é de 68,7 anos, mas homens e mulheres negras ficam abaixo da média.

Enquanto um homem branco vive em média 68 anos, um homem negro tem uma expectativa de vida de pouco mais de 60 anos. Um levantamento do Observatório de Desigualdades, vinculado à Unesp de Franca, apontou a diferença na longevidade entre as cidades, gêneros, mas sobretudo entre as raças e revelou que em 23 municípios da região, as pessoas negras vivem em torno de oito anos a menos do que as brancas.

O estudo faz parte do Mapa da Desigualdade que compreende dados de 11 pilares em todas as cidades da região administrativa de Franca, como Saúde, Educação, Segurança, População ou Trabalho e Renda. Entre a coleta de informação dos integrantes do Observatório, a discrepância da expectativa de vida entre pessoas brancas e negras chama atenção.

Na região, a idade global média que a população vive é de 68,7 anos. As mulheres brancas são as que mais vivem – em torno de 73,1 anos. Já as mulheres negras vivem sete anos a menos, com uma longevidade de 65,7 anos. A idade dos homens brancos gira em torno de 68,5 anos, enquanto a dos homens negros fica em 60,3, em média.

Jacques Iatchuk é um dos integrantes do grupo que desenvolveu o mapa baseado em dados de 2019 e chama a atenção para a falta de políticas públicas, que influenciam diretamente na expectativa de vida dos negros. “Estamos em um país que com 60 anos não é possível nem se aposentar, mas ainda assim os homens negros na nossa região estão morrendo aos 60. Isso é um absurdo e claramente há uma ausência de políticas públicas focalizadas e que consigam lidar com esse problema”, disse Jacques.

O professor e orientador do projeto, Agnaldo de Sousa Barbosa, afirmou que essa diferença na longevidade se trata de uma questão social e que, ainda que o estudo tenha abrangido a região de Franca, é um problema nacional. “É uma explicação social. Ela não se vincula a nenhuma perspectiva fisiológica, genética, é sobretudo social. A população negra, por ter condições de vida em patamares inferiores à população branca, tem acesso mais restrito a cuidados de saúde, inclusive, uma pesquisa recente demonstrou que 80% da população negra não tem plano de saúde”, disse o professor. “Também há questões como a falta de acesso à infraestrutura básica, como saneamento, água potável, moradia e trabalho dignos”.

Agnaldo destacou também a influência que a violência tem na longevidade das pessoas negras. “A população negra é a maior vítima em relação à violência, seja pelo racismo, seja por que vivem em áreas com maior índice de violência e criminalidade e também por estar mais exposta ao que a gente chama de racismo institucional, seja da Polícia ou de outras instituições”.

Nas cidades
Entre as cidades da região, a que registra uma expectativa de vida maior é Rifaina, onde as pessoas vivem em média 72,3 anos. Em contrapartida, Restinga tem a menor longevidade, com mais de dez anos a menos que Rifaina: 61,8 anos.

Além dos restinguenses serem os que vivem menos, a cidade é a 2ª com mais negros entre todas as que compõem a região administrativa. Ser homem e negro em Restinga significa viver em média 52,8 anos.

Carlos Eduardo Silva, conhecido como “Dú”, é integrante do Comdecon (Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Franca) e falou sobre os índices que reiteram a discrepância entre brancos e negros, não somente no que envolve a expectativa de vida e afirmou que é preciso debater a questão.

“É muito importante falar sobre raça em uma região que por anos foi explorada, desde as fazendas até a parte operária, nas fábricas de sapato. Se a gente não discutir raça, nunca chegaremos na igualdade. E se não tiver políticas públicas para esse segmento, vamos patinar igual estamos patinando até hoje”, disse Dú.