Enquanto um homem branco vive em média 68 anos, um homem negro tem uma expectativa de vida de pouco mais de 60 anos. Um levantamento do Observatório de Desigualdades, vinculado à Unesp de Franca, apontou a diferença na longevidade entre as cidades, gêneros, mas sobretudo entre as raças e revelou que em 23 municípios da região, as pessoas negras vivem em torno de oito anos a menos do que as brancas.
O estudo faz parte do Mapa da Desigualdade que compreende dados de 11 pilares em todas as cidades da região administrativa de Franca, como Saúde, Educação, Segurança, População ou Trabalho e Renda. Entre a coleta de informação dos integrantes do Observatório, a discrepância da expectativa de vida entre pessoas brancas e negras chama atenção.
Na região, a idade global média que a população vive é de 68,7 anos. As mulheres brancas são as que mais vivem – em torno de 73,1 anos. Já as mulheres negras vivem sete anos a menos, com uma longevidade de 65,7 anos. A idade dos homens brancos gira em torno de 68,5 anos, enquanto a dos homens negros fica em 60,3, em média.
Jacques Iatchuk é um dos integrantes do grupo que desenvolveu o mapa baseado em dados de 2019 e chama a atenção para a falta de políticas públicas, que influenciam diretamente na expectativa de vida dos negros. “Estamos em um país que com 60 anos não é possível nem se aposentar, mas ainda assim os homens negros na nossa região estão morrendo aos 60. Isso é um absurdo e claramente há uma ausência de políticas públicas focalizadas e que consigam lidar com esse problema”, disse Jacques.
O professor e orientador do projeto, Agnaldo de Sousa Barbosa, afirmou que essa diferença na longevidade se trata de uma questão social e que, ainda que o estudo tenha abrangido a região de Franca, é um problema nacional. “É uma explicação social. Ela não se vincula a nenhuma perspectiva fisiológica, genética, é sobretudo social. A população negra, por ter condições de vida em patamares inferiores à população branca, tem acesso mais restrito a cuidados de saúde, inclusive, uma pesquisa recente demonstrou que 80% da população negra não tem plano de saúde”, disse o professor. “Também há questões como a falta de acesso à infraestrutura básica, como saneamento, água potável, moradia e trabalho dignos”.
Agnaldo destacou também a influência que a violência tem na longevidade das pessoas negras. “A população negra é a maior vítima em relação à violência, seja pelo racismo, seja por que vivem em áreas com maior índice de violência e criminalidade e também por estar mais exposta ao que a gente chama de racismo institucional, seja da Polícia ou de outras instituições”.
Nas cidades
Entre as cidades da região, a que registra uma expectativa de vida maior é Rifaina, onde as pessoas vivem em média 72,3 anos. Em contrapartida, Restinga tem a menor longevidade, com mais de dez anos a menos que Rifaina: 61,8 anos.
Além dos restinguenses serem os que vivem menos, a cidade é a 2ª com mais negros entre todas as que compõem a região administrativa. Ser homem e negro em Restinga significa viver em média 52,8 anos.
Carlos Eduardo Silva, conhecido como “Dú”, é integrante do Comdecon (Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Franca) e falou sobre os índices que reiteram a discrepância entre brancos e negros, não somente no que envolve a expectativa de vida e afirmou que é preciso debater a questão.
“É muito importante falar sobre raça em uma região que por anos foi explorada, desde as fazendas até a parte operária, nas fábricas de sapato. Se a gente não discutir raça, nunca chegaremos na igualdade. E se não tiver políticas públicas para esse segmento, vamos patinar igual estamos patinando até hoje”, disse Dú.