23 de dezembro de 2025
INFLAÇÃO

'Não é qualquer pessoa que pode comprar 1 quilo de carne hoje'

Por Vinícius Nunes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Agência Brasil
Nos últimos 12 meses, as carnes bovinas tiveram inflação de 36%, o frango 40% e a carne suína 16%

A alta no preço das carnes vem mudando o comportamento dos consumidores, que levam uma quantidade cada vez menor do alimento para suas casas. Alguns até pensam em fazer churrascos como antes, mas contam que “não cabe no orçamento” e outros organizaram um churrasco onde os convidados não levaram carne. Os açougueiros dizem que as compras e movimento mudaram completamente.

De acordo com a Apas (Associação Paulista de Supermercados), nos últimos 12 meses, as carnes bovinas tiveram inflação de 36%, o frango 40% e a carne suína 16%. Todo esse aumento gerou uma mudança na forma de comprar dos moradores de Franca. A gerente de posto de combustível Daniele Cristina Pedroso, de 35 anos, por exemplo, começou a comprar um tipo de carne que não consumia antes. “Antes, quando eu comprava carne, estava em um preço bem mais acessível. Agora, o que eu comprava muito raramente veio a ser meu consumo por conta da diferença no preço. Não comprava carne de frango, hoje é o que está dando. Pretendia fazer um churrasco, mas no orçamento não cabe.”

Alguns estão substituindo a carne de uma forma diferente, como é o caso de Carlos Castro, 27, motorista de aplicativo. Com o aumento, ele está comprando mais ovos e leva menos de meio quilo de carne para casa. “Eu pegava 1 kg, hoje está sendo 400 g e olhe lá”, lamenta o motorista, que aproveita para fazer uma reclamação: “Não tem o que fazer, só o salário não sobe. Trabalho como motorista, tenho que pagar R$ 6 o litro da gasolina.” Apesar de ser um produto considerado barato, o ovo teve inflação de 20,41% nos últimos 12 meses.

Mesmo com os altos preços, algumas pessoas ainda vêm tentando realizar churrascos. No caso de Vinícius Neves, de 20 anos, que trabalha com marketing, sua ideia foi chamar seus amigos para seu aniversário em sua casa, no último sábado, 11 de setembro. Ele explica que cada pessoa deveria levar um pouco de carne e bebidas, mas para sua surpresa, os convidados levaram apenas coisas para beber e o churrasco aconteceu sem carne, por conta do alto preço. “Ninguém animou de levar a carne e fazer o churrasco, mas pelo menos comeram pão com vinagrete e até fizeram ovo”, contou o jovem.

Algumas pessoas até dão um "jeitinho" de fazer um churrasco. “Não vou mentir para você, tenho um nível de vida médio, então, acabo tirando (dinheiro) de uma conta de água ou luz e jogo para o mês que vem. Se não fico na vontade.” Essa é a estratégia que o vendedor de hortifrúti e motorista de aplicativo Emerson Luiz França, de 30 anos, desenvolveu para não parar de fazer confraternizações com seus amigos.

No açougue Santa Cruz, onde o açougueiro Carlos Donizete, de 57 anos, trabalha, as compras mudaram bastante. “De um tempo para cá, eles estão procurando as peças mais em conta, como frango, carne suína e pernil, mas não deixaram de comprar, mas é só o básico, não estão inventando churrasco e essas coisas não”, explicou Carlos. Além disso, o açougueiro disse que no final de semana, que era quando o movimento era maior, principalmente para a realização de churrascos, as vendas caíram, com “um ou outro” no estabelecimento.

Outro local que percebeu mudança nas carnes compradas foi no Varejão Serv-Bem. Rubens Devos de Oliveira, proprietário do estabelecimento, fala que o que mais está saindo da parte do açougue são as carnes de porco e frango e que “não é qualquer pessoa que pode comprar 1 quilo de carne hoje”. Segundo os dados fornecidos pela Apas, apesar das carnes suínas terem tido inflação de 16% nos últimos 12 meses, desde o começo de 2021 houve deflação de 6,76%.