Fiquei procurando um vocábulo pra expressar as diversas fases do comportamento brasileiro em geral durante a pandemia. Foi assim que Júcio, que gosta de escrever, começou a conversa. Disse que só encontra surreal. Por mais que tente trocar não consegue. Da fala dos políticos às ações descabidas e incoerentes do cidadão comum, só cresce a certeza de que estamos vivendo na prática o que o movimento literário e artístico do início do século XX buscava apresentar: manifestações do inconsciente. Fiquei a pensar no que ele disse e me lembrei especialmente de dois relatos. O de uma mãe que leva a criança à escola, sabendo que o pequeno está com COVID, e não avisa ninguém, nem a professora, que se contamina. E o de um homem que chega na farmácia e pede um remédio pra quem está com COVID. A atendente pergunta pra quem é o remédio e ele diz que é pra ele mesmo. Surreal.