Há algum tempo, zapeando, vi Jô Soares entrevistando rapaz alto, magro, careca. Não o conhecia. Acompanhei a entrevista e percebi que estava diante de grande comediante, daqueles que marcam época. No final, ovacionado pela plateia, despediu-se e soube seu nome: Paulo Gustavo. De fato, estava diante de grande talento e, sem ser grande fã do cinema nacional, passei a procurar seus filmes, cujos enredos são misto de chanchada com situações ridículas e inverossímeis, que ele fez com graça, inspirado na sua própria mãe que, como todas as outras, e nisso me incluo, são quase sempre hilárias, ridículas, chantagistas; sempre disponíveis, calorosas, prestativas; quase nunca falsas, mentirosas, malvadas ou rancorosas. E ele, com certeza, puxou à mãe no quesito bom humor. Déa Lúcia, a mãe do ator, gargalhava quando o filho a colocava na berlinda fosse nas cenas do cinema, fosse nas entrevistas das quais ela muitas vezes participou. Bom humor, sabe aquele genuíno e puro, que poderia, mas não machuca porque felizmente ainda há gente que entende o avesso do avesso? Aliás, traço de personalidade que está em falta, desde algum tempo, antes mesmo da pandemia.
A morte de PG me comoveu. O sofrimento mais a prolongada agonia do artista me sensibilizaram, pois que foram públicos. Tão emocionante para mim que chegou, mesmo momentaneamente, a ofuscar a extensão da tragédia em Santa Catarina, quando três crianças e duas professoras foram mortas num espetáculo grotesco, desumano, provocada por alguém que, mais dia menos dia, será defendido por pessoas de melhor índole que eu, que votaria imediatamente pela execução sumária daquele bandido.
Não atribuiria à pandemia e ao isolamento atuais essa particular e horrível tragédia. Outras semelhantes ocorreram, por exemplo, em tempos mais calmos, onde a pressão teve origem na vida atordoada de criminosos que mataram cruelmente grupos ou indivíduos. Lembro-me do horror e da comoção popular causados pela morte de Liana Friedenbach, menor de idade, e Felipe Caffé, de 19 anos, sequestrados, torturados e mortos por bandido chamado Champinha, menor de idade na ocasião, considerado inimputável por técnicos e militantes de organizações humanitárias, reincidente na criminalidade e foco de acaloradas discussões sobre redução de maioridade penal naquela ocasião.
Aconteceram outros massacres em lugares espalhados pelo mundo, igualmente chocantes. Em escola americana de segundo grau, jovens delinquentes de classe média, mataram friamente 15 pessoas. O ataque deixou feridas profundas na população e nos que se lembram da tragédia. O caso virou filme de revirar o estômago pela frieza e crueza da gangue maldita. E, pelo menos 27 pessoas, entre elas 20 crianças, morreram também nos Estados Unidos, quando estavam na escola, na cidade de Newtown. O atirador, jovem de 20 anos, que utilizou duas armas no ataque era filho de professora da escola que recebe alunos entre 5 e 10 anos. Ele teria se matado em seguida à chacina. Em Suzano há o registro horripilante da morte, também violenta, de cinco estudantes e duas funcionárias do estabelecimento de ensino palco da tragédia, por dupla de atiradores, ex-alunos.
Agora, outro assalto sangrento registra novamente violência de jovens dentro de ambiente escolar. Olhos e corações estão voltados para Santa Catarina, para as famílias das crianças e professoras chacinadas pelo violento bandido. Mas há quem já esteja culpando a pandemia, o isolamento social e avaliando os fatores que, segundo eles, podem desencadear esse comportamento violento. Aguardo explicações e justificativas dos motivos pelos quais estes bandidos e assassinos não atacam quartéis militares, locais guardados por policiais armados mas vão contra a, preferencialmente, desprotegidos e vulneráveis.
Meus sentimentos à família do ator, minhas lágrimas e solidariedade às famílias das vítimas da creche da cidade Saudades, de Santa Catarina. Muito triste tudo isso.