Não comentarei mais política; ou resultado de eleições; quem ganhou; quem perdeu. No final, ninguém ganhou, ninguém perdeu: todo mundo perdeu porque ninguém ganhou. (Superei dona Dilma!). Não falarei sobre Trump, muito menos sobre Biden mas se não confio em urnas eletrônicas, porque confiaria nos dedos humanos? Certa vez ex-amigo petista me escreveu, para variar, no ataque: “não tenho nada contra os ricos, até gosto deles. E quanto mais rico, melhor. Se tiver iate, avião, melhor ainda: passeio na faixa, viajo, tomo excelentes vinhos. Desfruto do que eles têm. Depois volto, e voto no PT.” Vai daí, não confio em políticos e nem em simpatizantes de qualquer ideologia. Nas eleições passadas, confesso, votei no Dória: aos poucos me desencantei e me arrependi, mas aí Inês já estava morta, seca e estorricada. Votei na Joice Hasselmann, porque mostrava jogo de cintura, exibia inteligência brilhante, era combativa, não falava besteira e seu discurso tinha, sobretudo, nexo, além de começo, meio e fim. Não votei nela porque “era mulher”: acho que essa é, de longe, a justificativa mais machista que existe. Viu no que deu? A deputada federal mais votada em todos os tempos virou farinha. Bom, votei no Lula, certa vez; conclusão: no quesito escolha política eu devia ser presa e apanhar bastante. Nas eleições municipais passadas até que acertei: não votei no candidato eleito, embora o conhecesse de longa data - certa vez, num passado, os colegas de classe ainda se lembram - eu o apoiei durante importante e desastroso momento escolar, atitude da qual hoje me arrependo. Talvez se tivesse lavado as mãos e lhe virado as costas, sua carreira política nem tivesse acontecido. Aí chegaram as eleições municipais deste fatídico e esquisito 2020 – ano que pode ser assim resumido: janeiro, fevereiro, pandemia, novembro e dezembro. E ainda não acabou. Virão tempestades por aí.
Dentro de mais alguns dias voltaremos às urnas. Novamente votaremos para escolher prefeito da cidade. Mais despesas, mais confusões, mais tempo, mais angústias dos direta e indiretamente envolvidos, já vejo minha paciência no fundo do pote. Sou avessa ao carnaval antecipado que chamam de campanha publicitária. É mesmo movimento eleitoreiro de terceiro mundo. Batuques, bandeiras, gente em penca nas ruas distribuindo papéis e recadinhos. Nunca me esqueci de campanha que acompanhei na Suécia: cartazes sim; a identificação dos candidatos, também. Nenhum ataque; nenhum discurso farpado; nenhum papel espalhado. No dia seguinte à eleição, quando da divulgação dos resultados, nenhum barulho, nenhum foguetório à guisa de comemoração. Nenhum espalhafato. Era competição ideológica, não era batalha. Não havia vitorioso no sentido de alguém ser o maioral na exibição de poder e dinheiro: alguém vencera por causa dos argumentos. E as comemorações aconteciam no privado, sem a preocupação de exibir a vitória e humilhar os derrotados.
Como eleitora estou no meio do caminho: não me deixo escolher por causa do sexo do candidato. Honestidade, lisura, caráter, comprometimento e coerência são atributos igualmente de homens e mulheres. A capacidade de decidir sem a interferência de forças superiores quaisquer; de deliberar após comparar pesos e medidas e de resolver impasses exige experiência, autonomia, auto-confiança e equilíbrio. E independência. Não são atributos exclusivos de mulheres ou homens, sejam eles negros, índios, pardos, brancos, escandinavos ou indianos, muçulmanos ou cristãos.
Teremos alguns dias antes da decisão. Melhor pensar mais um pouco.