O professor William Tristão, acusado de assediar moral e sexualmente uma aluna durante sua aula de direito penal, está oficialmente afastado de seu cargo na FDF (Faculdade de Direito de Franca). A informação foi divulgada na tarde desta sexta-feira, 2.
Na nota em que comunica o desligamento temporário de Tristão, a instituição afirma que o tempo de duração do afastamento é por até 60 dias, enquanto acontecerem as investigações.
“A Faculdade de Direito de Franca, por meio de sua Direção, comunica que, a partir dos trabalhos preliminares da Comissão de Sindicância instaurada para apuração de supostas condutas incompatíveis com as funções do magistério superior, colhidos previamente pareceres pedagógico e jurídico opinativo preliminar, decidiu em caráter precário, nos termos de Regimento Interno e legislação vigente, afastar o professor William Vinícius Machado Tristão de suas atribuições pelo prazo de apuração dos fatos, qual seja, até sessenta dias, conforme limite normativo, inclusive visando permitir a adequada apuração dos fatos e propiciar a ampla defesa e o contraditório do professor.”
No mesmo comunicado, a FDF alega que não compactua com “nenhuma atitude que viole o decoro, o respeito e os bons costumes, e que afetem a convivência harmônica entre corpo docente, discente, administrativo e a sociedade como um todo em relação a esta renomada Instituição, há mais de 60 anos formando juristas, sendo reconhecida pela excelência de seu ensino jurídico e formação humana séria e que tem passado de geração para geração com ênfase nos valores éticos e morais”.
O vice-diretor da FDF, José Saraiva, afirmou que a medida foi tomada para auxiliar no curso das investigações. “Trata-se de medida inicial, que permitirá dar continuidade na apuração dos fatos de acordo com a legislação em vigor. Não podemos fugir dos parâmetros da lei e da norma. Pode transparecer que a Faculdade não estaria tomando providências ou estaria compactuando com tais atos, ou como uma das nossas alunas relatou em rede de televisão, que a faculdade 'abafa' ou não toma providências em relação a determinados fatos, o que não é verdade”.
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Segundo ele, os alunos e alunas têm total apoio e proteção para denunciar acontecimentos parecidos. “Até entendemos as justificativas para não procurar a direção, mas deixar de procurar a coordenação pedagógica, não podemos aceitar. Pois, sob a responsabilidade de competente profissional, mulher, doutora em pedagogia e pronta a atender os alunos em todas as suas necessidades e circunstâncias, jamais se furtaria em tomar providências se houvesse relato de qualquer aluna denunciando tais fatos.”
Saraiva também diz que a faculdade possui “mais de 60 anos de excelência no ensino superior, curso de direito, com mais de 1.400 alunos, 40 professores titulados, responsáveis e de reputação ilibada, apoiados por funcionários do mais alto grau de comprometimento com nossos alunos”.
'A Hora é Essa!'
Saraiva também participou nesta manhã do programa A Hora é Essa!, da rádio Difusora, e respondeu diversas questões envolvendo o caso do professor William Tristão.
Questionado sobre como ele e a faculdade enxergaram e conduziram toda a situação, Saraiva disse que recebeu a notícia com surpresa e que existiu um cuidado muito grande no tratamento do caso. “Nós cuidamos dos fatos com uma cautela muito grande. Todas as atenções são voltadas para um acontecimento deste. Foi criada uma comissão de sindicância com três professores que, em sua maioria, são mulheres e vão julgar o caso, como está previsto em nosso regimento interno. Isso foi feito de maneira administrativa e sigilosa, até para que não haja uma repercussão maior do fato. Porém, as decisões são sempre divulgadas.”
O vice-diretor também afirmou que todas as ações do professor estão sendo consideradas na investigação. “Não só o que aconteceu na segunda-feira, quando ele é acusado de cometer assédio, está sendo investigado. As outras aulas também estão sendo levadas em conta. Inclusive a que ele entra um dia depois, da professora Rosângela, onde ele disse que iria retirar os pontos de trabalho e processar alguns alunos. O William tinha me pedido para entrar na aula e se desculpar com a turma, esclarecendo o que aconteceu. Porém, não aconteceu só isso. Os comportamentos dele foram incompatíveis com a história da faculdade. Nós nunca vivenciamos algo dessa natureza e isso nos assustou.”
José Saraiva voltou a garantir os pontos para os estudantes e rebateu as acusações de William, que disse que ele não poderia intervir na atribuição de pontos aos alunos e estaria cometendo um erro caso o fizesse.
“Nenhum professor desta academia pode fazer uma prova com objetivo de prejudicar os universitários. Todos os testes são repassados à coordenação pedagógica e são criteriosamente analisados pela Dr. Rosângela. Eu disse em uma reunião com os alunos que a minha posição pedagógica como supervisor é a seguinte: se um aluno fez o seu trabalho e entregou corretamente, é seu direito receber seus pontos. Essa pontuação foi prometida por ele. Já a prova será aplicada por outro professor e precisa obedecer a um nível predeterminado. Enquanto eu estiver aqui, ninguém vai fazer uma avaliação com intuito de prejudicar os alunos. Eles podem ficar tranquilos quanto a isso”, disse.
Saraiva comentou sobre os possíveis acertos salariais que precisarão ser feitos entre a faculdade e Tristão e disse que, pelo menos por enquanto, se recusa a falar sobre os ataques dele contra a instituição. “Os vencimentos nós precisamos conceder a ele. Lamentavelmente, o artigo 494 da CLT garante essa remuneração enquanto ele estiver afastado. Eu me abstenho de comentar sobre as falas dele contra a faculdade e me restrinjo à apuração dos fatos. Eu espero comentar essas acusações depois que houver uma conclusão do caso. Caso ele entre com alguma ação contra a universidade, eu mesmo elaborarei a resposta com o maior equilíbrio possível.”
Finalizando a entrevista, o vice-diretor respondeu às acusações de William sobre outros professores que supostamente mantiveram casos com alunas da FDF. “Eu estou aqui há mais de 20 anos e nós nunca recebemos nenhuma notícia neste sentido. Por que só agora ele sabe ou ouviu falar disso? Por qual motivo ele nunca nos comunicou? São fatos subjetivos. Nós trabalhamos com fatos objetivos para que possamos defender e mostrar que somos uma casa de ensino séria e competente. Eu lamento essas declarações, pois, com isso, ele causou problemas com os nossos professores.”
Diretório Acadêmico
Após o anúncio do afastamento do professor, o Diretório Acadêmico "28 de Março" soltou uma nota manifestando-se a respeito dos acontecimentos envolvendo os alunos, a faculdade e William Tristão.
O órgão deixou claro que não tem “poder de polícia e nem se consubstancia como órgão acusador, sendo certo que sua função dentro da Instituição Faculdade de Direito de Franca é, veementemente, a proteção dos interesses dos alunos”.
No documento, o diretório afirma que foi acionado por diversos universitários que não se sentiram bem com as situações envolvendo Tristão e que participou da abertura da sindicância que apura o caso com uma petição. “A partir desta premissa, considerando que o DA foi fortemente acionado por alunos e alunas, através de suas redes sociais, que se sentiram incomodados e ofendidos pelas falas de dito professor, o Diretório protocolou junto à FDF petição requerendo a instalação de sindicância em relação a referido docente para apuração dos fatos e, se o caso, aplicação das penalidades previstas no regimento. Em razão do pedido elaborado pelo DA, o procedimento de Sindicância foi efetivamente instaurado, e a comissão sindicante foi devidamente estabelecida”.
Por último, é alegado que o órgão não teve participação na divulgação dos vídeos envolvendo o professor e que, caso seja necessário, “serão tomadas as devidas medidas judiciais cabíveis” contra os “infundados ataques sofridos”. O DA também afirma que todas as decisões tomadas competem somente à Faculdade de Direito de Franca.