O chamado trabalho Home Office, já vinha sendo inserido, porém em razão da pandemia do Convid-19 e da necessidade do distanciamento social, tal forma de atividade profissional foi muito rapidamente implementada. Tais mudanças de hábito e de cultura para o empregador e empregado, trás algumas situações que merecem ser melhor analisadas. Para conquistar seu espaço. Nessa mudança de hábitos, o trabalho descentralizado deve estar em sincronia com o que regula os direitos do trabalhador.
Quando se passa a trabalhar em casa, necessariamente se faz o estabelecimento de uma nova rotina com definição clara de horários de trabalho e de horários para outros afazeres. O trabalho em casa se não for bem gerenciado trás uma sobrecarga exagerada de trabalho e simultaneamente problemas familiares, principalmente nas famílias que têm crianças e pouco espaço físico que não permite a separação de um espaço mais reservado na casa para o trabalho Home Office. Dessa forma pode ocorrer uma verdadeira bagunça principalmente na vida pessoal do trabalhador.
Obviamente, inicialmente parece a situação desejada por muitos, trabalhar em casa, sem ter que entrar em um transporte coletivo, ou pegar o carro, ouvir buzinas, encarar filas, procurar estacionamento, fazer baliza, correr o risco de acidentes, ser multado etc, é só acordar e já está no trabalho. Porém passados alguns meses, o lado escondido do Home Office começou a aparecer, como por exemplo: conexão ruim com a internet, equipamentos desatualizados, trabalhar num canto da mesa da sala juntamente com filhos requerendo atenção, ameaça constante de demissão, isolamento, dificuldades em realizar as mesmas tarefas longe da empresa, controle acentuado dos superiores etc.
Pesquisa realizada pelo Instituto Opinionway, na França, mostrou que 48% dos trabalhadores em home Office se sentem “abandonados” pela empresa e, para 31%, a organização das tarefas a executar não está adaptada ao ambiente caseiro. Agora o principal ponto da pesquisa aponta que um terço dos ouvidos pelo estudo acha que faltam compensações para a carga extra de trabalho.
Quanto às finanças, as empresas que passaram a operar em home Office, principalmente as empresas de tecnologias, dificilmente irão querer voltar totalmente ao sistema anterior, pois representa uma fonte considerável de economias para a empresa, tais como: mesa, cadeira, computador, impressora, papel, tinta, energia elétrica, internet, telefone, seguro, vigilância, manutenção e limpeza etc. Assim, há uma redução de custos consideráveis que, em contra partida vai parar indiretamente nas “costas” dos empregados.
O tele trabalhador está se tornando escravo do trabalho, uma vez que se perde a barreira que divide o local de produção do trabalho e o local de descanso. Queiram ou não existe uma pressão maior da empresa sobre o trabalhador, mesmo que indiretamente, pois o empregado se sente na obrigação de responder chamados e resolver problemas da empresa a qualquer hora, pois receia que se não atender irá “sujar” sua imagem na firma.
Enfim, pelo que estamos vendo e ouvindo, uma modalidade de emprego que tinha o objetivo de facilitar está se tornando um pesadelo para o trabalhador e sua família, e o Estado deverá intervir impondo regras e limites.
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Autor: Toninho Menezes, advogado e professor universitário