O coronavírus, ou Covid-19, finalmente chegou com tudo ao Brasil. Após uma entrada discreta, a bordo de passageiros que desembarcavam do Norte da Itália, o Covid-19 apareceu em plena comitiva do presidente Jair Bolsonaro, que viajara à Flórida para uma reunião/jantar com seu colega americano, Donald Trump. O secretário de Comunicação do governo está infectado. Um senador da República também. Muitos outros que estavam no avião aguardam resultados.
O fato é que o vírus está entre nós. Não é um problema que talvez surja ou uma contingência com a qual possivelmente tenhamos que lidar. Isso ficou para trás. O Covid-19 já se espalha de brasileiro para brasileiro, sem que eles tenham estado no Exterior.
Desde o início, tenho repetido que é preciso evitar o pânico e manter serenidade, mas não vejo qualquer exagero nas medidas anunciadas pelo governo federal e estaduais. Pelo contrário, são ações necessárias.
A razão é, antes de tudo, matemática. O coronavírus, se nenhuma medida efetiva para evitar seu alastramento é adotada, se espalha em progressão geométrica. A cada três dias, dobram os infectados. Assim, os 100 casos hoje confirmados no Brasil seriam mais de 100 mil dentro de 30 dias. No final do segundo mês, 100 milhões de pessoas, ou quase metade do país, estaria portando a doença se aulas não tivessem sido suspensas, eventos cancelados, cruzeiros proibidos, viagens restringidas.
Exatamente por isso tenho imensa dificuldade de entender a razão pela qual, a despeito de todos os dados, elementos, contas, projeções e medidas já adotadas pelo governo federal e estadual, a prefeitura de Franca siga apenas assistindo, como se o coronavírus não fosse uma ameaça nem um problema real. Diferente da rede estadual de ensino e das universidades públicas, cujas aulas estão suspensas, a rede municipal de ensino, as creches e as autarquias seguem funcionando. Os Jogos da Melhor Idade, previstos para abril e que foram projetados para reunir 3 mil pessoas da faixa etária mais suscetível ao vírus, segue sem previsão de cancelamento. Fico pensando no que o prefeito espera para agir.
Talvez se usasse uns minutinhos da longa viagem que costuma empreender semanalmente a São Paulo para fazer a mesma conta que tem norteado a decisão das maiores autoridades da República, Gilson adotasse comportamento diferente. Se um único aluno – só um – da rede municipal de ensino for infectado, no final de 45 dias nada menos de 32 mil francanos poderiam estar contaminados se essas medidas adicionais não estejam acionadas. Como 5% dos casos evoluem para necessidade de internação em UTI, precisaríamos de mais de mil leitos exclusivos para o combate à doença, número muito acima da capacidade instalada.
É exatamente por isso que autoridades de todo o país tentam tudo para diminuir as aglomerações. Não há estrutura hospitalar para fazer frente à necessidade de internação se houver grande número de pacientes graves. Frear o ritmo do contágio no início e impedir que essa progressão geométrica se confirme é o que de melhor pode ser feito. A Itália, que ignorou essa premissa, hoje enfrenta o caos, com a população confinada em casa.
O presidente Bolsonaro, apesar da lentidão inicial, e os governadores de Estado, já entenderam isso. Só espero que Gilson de Souza acorde antes que seja tarde demais. Há muitas formas de combater o Covid-19. Apenas apostar que “vai dar tudo certim” não é uma delas.