19 de dezembro de 2025
CINEMA

Dor & glória


| Tempo de leitura: 2 min

Fátima Cassis e Josiane Barbosa, especial para o Comércio


Segundo a história mítica, Eros, deus do amor e considerado o mais belo dos deuses, possuía arco e flecha, enlaçando homens, mulheres e deuses, unindo-os através do amor.

Tanatos, deus da morte, com inveja de sua capacidade amorosa e criativa, arquitetou com seu irmão Hipno, deus do sono, embriagar Eros, misturando flechas de amor com flechas de morte. Ao despertar em uma caverna, Eros recolhe suas flechas, carregando agora, sem saber, amor e morte, e trazendo aos seres humanos a vivência eterna da ambivalência entre vida (amor) e morte, em tudo que fazemos, sentimos e pensamos.

Sob este vértice, Dor e glória, filme do renomado diretor Pedro Almodóvar, indicado a dois Oscars (melhor ator e melhor filme em língua estrangeira), e premiado no Festival de Cannes, nos brinda com uma narrativa delicada sobre a vida e suas vicissitudes: encontros e desencontros, perdas, dores da alma, ressentimento, vida e morte.

Com uma fotografia que realça lindas obras de arte, o diretor registra sua marca nesta película, onde os tons usados no apartamento em que vive Salvador, um decadente diretor de cinema, são cores vivas e alegres contrastando com sua cinzenta vida emocional, preso a um quadro depressivo por anos a fio, vivendo sua dor através de analgesia, único modo que sabia como aliviá-la.

Ao mesmo tempo que vive sob o domínio de Tanatos, isolado em seu apartamento, Salvador busca em suas memórias boas experiências vividas na infância, quando morava com os pais em Paterna, um lugarejo da Espanha franquista, época em que possuía vitalidade e tinha muita curiosidade sobre as coisas do mundo.

Mesmo ressentido com Carlos, ator com quem trabalhara em um filme, e com quem tivera importante rompimento, procura reatar o convívio, dando-lhe a autoria de uma peça Adição – é a elaboração de sua melancolia, dor que trazia dentro de si, após perda de seu amado. É Eros e Tanatos reescrevendo a história mítica, tão bem representada por Antônio Banderas no papel de Salvador.

Um encontro inesperado com o amor de sua vida é o estímulo que lhe faltava para que voltasse à vida de vez, conseguindo sair da dominância de Tanatos para a regência de Eros, renascendo dentro de si, toda a vivacidade e criatividade de que era capaz. 

Muitas possibilidades

Dor e glória, vida e morte, sofrimento e criatividade são títulos bastante sugestivos para essa obra de arte. O sofrimento inerente à construção de si mesmo, a sustentação de frustrações, pode ser estímulo ao sonhar, promotora de vitalidade.

O filme propõe discussões sob diversos ângulos: qual é o papel da arte na vida humana, o que é sexualidade dentro do vértice psicanalítico, entre outros.

É neste ambiente amoroso e vitalizante, que nosso C&P inicia seu décimo segundo ano de existência, hoje, no Centro Médico de Franca, às 15 horas.

Vamos?