Vivemos tempos bizarros. Há uma praga descoberta num mercado de peixes no meio da China que ameaça contaminar o mundo, levou países a uma grave crise econômica, provocou o cancelamento de eventos esportivos, culturais e até da missa papal e segue, por ora, sem perspectiva de desacelerar.
Temos um presidente da República que reage a questionamentos de jornalistas ora dando “bananas” para os profissionais, como se fosse um garotinho mimado que fez “belém-belém” para algum desafeto do jardim de infância, ora escalando um humorista para falar em seu nome. Isso, quando não insulta minorias, ataca aliados, rifa apoiadores ou convoca a população para ir às ruas protestar contra os outros dois poderes da República.
Na nossa cidade, há um prefeito que, diante de dois pedidos de cassação de seu mandato, age na mais profunda negação, como se nada tivesse acontecido, como se não existisse qualquer crise a ser enfrentada, e viaja para São Paulo. Parece acreditar que o paço municipal fica na praça da República. E que a rodovia Anhanguera é antídoto para os problemas que afligem Franca.
Ainda assim, a rocambolesca história que envolve o ex-jogador de futebol da seleção brasileira, Ronaldinho Gaúcho, e seu irmão, Assis, numa empreitada esquisitíssima ao Paraguai, é absolutamente imbatível quando o quesito é bizarrice.
Ronaldinho – já enrolado numa série de problemas com a justiça por envolvimento num golpe do tipo “pirâmide financeira”, além de contabilizar vários escândalos na vida pessoal – desembarcou em Assunção, na última quarta-feira, na companhia do irmão. Sua presença fora anunciada na imprensa. Sua participação em eventos, idem. Havia torcedores à sua espera no aeroporto. O craque, brasileiro conhecido no mundo inteiro, célebre por suas atuações na seleção e no Barcelona, identificou-se com documentos que garantiam que ele era... paraguaio. Não sei não, mas algo me diz que o oficial de imigração teve uma crise de riso diante do documento.
Como nada é tão absurdo que não possa piorar, a dupla foi liberada. O invés de retornarem ao Brasil imediatamente, seguiram para o hotel. Dali, acabariam sendo levados primeiro para um depoimento no MP, que decidiu não formalizar queixa e liberá-los. Depois, diante da repercussão negativa, a Justiça achou por bem prendê-los. E é no cárcere de Assunção que Ronaldinho e Assis continuavam até a tarde deste sábado.
Tudo que cerca a história é patético, a começar da entidade de caridade que o contratou, chamada de Fraternidad Angelical, completamente desconhecida. Mas nada supera a idiotia de Ronaldinho no uso do passaporte falso, por uma simples, indelével e singular razão. Não é preciso apresentar o documento para entrar no Paraguai – nem no Uruguai, na Argentina, no Chile... Pelo acordo do Mercosul, pode-se viajar entre seus países apenas com a identidade. Se tivesse mostrado o RG, teria entrado no país sem quaisquer constrangimentos.
Por que ele resolveu exibir um passaporte paraguaio é pergunta sem resposta, capaz de desafiar o senso de lógica das mais brilhantes mentes da atualidade. Competente em campo, Ronaldinho tem se mostrado inepto fora dos gramados. Depois de sua aventura em Assunção, pode mudar de patamar e ser rebaixado a ridículo, do tipo que nem digno de pena é. Um melancólico e patético fim para alguém que já orgulhou e encantou o Brasil.