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03 de maio de 2024

Cinco minutos

Faz uma semana que nenhuma conversa em Franca termina sem algum comentário sobre a trágica e brutal execução de Jéssica Carloni

09/02/2020 - Tempo de leitura: 3 min

“Quanto menor o coração, mais ódio carrega”
 Victor Hugo, escritor francês

 

Faz uma semana que nenhuma conversa em Franca termina sem algum comentário sobre a trágica e brutal execução de Jéssica Carloni, numa chácara do Residencial Zanetti, lotada de gente que comemorava um aniversário. O algoz de Jéssica foi seu ex-marido, Antônio Rodrigues, o Buiú. Juntos tiveram uma filha, hoje com 6 anos.

Diante de tudo o que houve, duas perguntas têm sido repetidas à exaustão. A primeira: por que, se ela havia recorrido a uma medida protetiva, não chamou a polícia assim que ele chegou? A segunda: se havia tanta gente na festa, por que ninguém fez nada?

Assisti o vídeo das câmeras de segurança da chácara obtidas com exclusividade pelo Comércio. As imagens, perturbadoras, esclarecem pontos importantes e ajudam a tirar dúvidas. A principal delas é que, diferente da impressão de algumas testemunhas, Antônio Rodrigues não ficou meia hora no local. Entre chegar e atacar a ex-mulher, passam-se apenas cinco minutos.

São 17h10 quando Buiú chega. Ele conversa com alguns rapazes. O papo dura pouco mais de 3 minutos. Às 17h14, ele deixa o grupo, passa pelo portão e vai até seu carro buscar a faca. São 17h15 e ele retorna pelo jardim, já no rumo de Jéssica, que conversava com amigos. A faca cai do bolso. Ele para, apanha a faca e retoma sua caminhada. Não fala nada, não chama Jéssica para conversar. Ela está de costas, sentada. Precisamente às 17h15m40s, Buiú dá o primeiro golpe na ex-mulher. Outros tantos se seguem numa explosão de ódio e fúria. Imediatamente as pessoas começam a deixar o local.

Há que ser feita justiça para um rapaz magro, sem camisa, o único que tenta ajudar. Dez segundos depois do ataque começar, às 17h15m50s, ele empurra o agressor e faz gestos para que Buiú pare. Ninguém o ajuda. Buiú ameaça esfaquear o rapaz que, sem apoio de mais ninguém, desiste de intervir.

Às 17h17m, as câmeras captam quão sórdido e insensível pode ser um ser humano. Um outro frequentador, que a tudo assiste, impassível, caminha lentamente para fora carregando o cooler de cerveja junto consigo, como se estivesse assistindo a um filme que chega ao final.

Dois minutos se passam e não há mais praticamente ninguém no recinto além do assassino e da vítima. O rapaz do cooler volta – sem o cooler. Conversa com Buiú e aparentemente o aconselha a fugir dali. O assassino então deixa a chácara às 17h21m26s e vai para o seu carro. Um minuto depois, volta. Gesticula e fala alguma coisa em direção ao corpo de Jéssica. Descontrolado, chuta a cabeça da vítima e pisa em seu corpo. Depois, lava as mãos e, enfim, deixa o local. Minutos mais tarde, seria preso pela polícia, sem esboçar qualquer reação. Confessou o crime e teve a prisão preventiva decretada.

Quanto à primeira pergunta, ainda que Jéssica tivesse pensado em sair dali ou chamar a polícia, é difícil que tivesse condições de fazer uma coisa ou outra. Mesmo que tivesse acionado o 190, é improvável que qualquer viatura conseguisse chegar a tempo de evitar o ataque. Jéssica era uma presa sem chance de defesa. Buiú esteva determinado a matar. E matou.

Sobre a segunda, é certo que o instinto de sobrevivência falou mais alto. Tão humano - e tão indigno. Lamentavelmente, com exceção feita a um único rapaz, ninguém fez qualquer gesto para, nem mesmo, tentar ajudar. Os “amigos” converteram-se todos em meros espectadores. Jéssica está morta, Buiú está preso, os “amigos” seguem com suas vidas. Só não sei como farão com suas consciências. Isso, se tiverem alguma.