24 de dezembro de 2024

A Mi


| Tempo de leitura: 3 min
“As feridas do amor só podem ser curadas por aquele que as fez”
Publilio Siro, escritor romano

 

Desde que comecei a escrever a Gazetilha, há onze anos, tenho dividido com vocês que me leem muitas coisas. Minha visão de mundo. Lembranças de minha infância. Viagens que fiz. Filmes que assisti. Eventos que me indignaram. Fatos que me emocionaram. Algumas alegrias. Uma porção de decepções.

João ainda nem era nascido quando assinei meu texto inaugural, Primeiras palavras. A Júlia, hoje aos 21, era uma menina de dez anos. Os dois me enchem de orgulho e muito da jornada de ambos tenho compartilhado com vocês. Também falei dos meus pais, família, dos meus amigos. Em várias ocasiões, mencionei fatos ou passagens que incluíam minha mulher, Milena. Mas nunca, neste tempo todo, escrevi um texto em que ela fosse a protagonista. Neste domingo em que a Mi, como a chamamos, comemora seu aniversário, senti que era hora de corrigir minha falha.

Conheço a Mi há muitos anos. Cada um de nós vem de lugares e relacionamentos anteriores. Por uma dessas contingências da vida, que muitos definem como destino, ela veio trabalhar no jornal. Era uma advogada engajada e, muito antes que fôssemos marido e mulher, coube a ela um papel fundamental em difíceis acontecimentos que se sucederam à morte do meu pai. Não foi amor à primeira vista. Antes da paixão que resultou em amor, surgiu o respeito e, junto com ele, a admiração.

Naquele início da segunda metade da década passada, as coisas aconteciam muito rápidas aqui no jornal. Novos funcionários chegavam todas as semanas, lançávamos projetos inovadores. Vieram as revistas, o portal, a nova impressora importada da Índia. Em muitas madrugadas, a rotativa, ainda cheia de mistérios, dava algum problema, o que exigia um enorme esforço de gráficos, engenheiros, mecânicos. Eu acabava invariavelmente passando a noite em claro, lutando para colocar o jornal na rua.

Alguns, como a Milena, mesmo ocupando funções que nada tinham a ver com a gráfica, surgiam antes que o sol nascesse. Às vezes, para ajudar a levar jornais para as bancas, numa ruidosa carreata que saía do prédio tão logo os exemplares eram impressos. Noutras tantas, só para oferecer um café, um pão de queijo, uma palavra de conforto que ajudasse a superar o sono e o cansaço. Se havia alguma batalha a travar, Milena sempre estava na linha de frente. Era inevitável não admirá-la. Descobriria, em pouco tempo, que seria impossível não amá-la.

Tempos depois, já separados, nos aproximamos. Somos diferentes – ela é organizada, metódica, disciplinada; eu sou passional, inquieto, anárquico – mas, mesmo assim, descobrimos muitas coisas em comum. O gosto por viagens. O prazer da boa mesa. A Turma da Mônica. O Homem de Ferro. Friends. Os livros de John Grisham. Rifaina. Paris. Cães e gatos. O senso de justiça.

Em pouco tempo estávamos morando juntos. Não foi um conto de fadas. Houve solavancos, grande parte deles por minha culpa. Assim é a vida, sempre desafiadora, mas, também, mágica. E, de um jeito ou de outro, temos dado um jeito de superar os obstáculos, unidos não apenas pelo nosso filho, mas especialmente por este sentimento indefinível que é o amor.

Parabéns, Mi. Muito obrigado pela paciência, pela lealdade absoluta, pelo apoio nos momentos mais difíceis, pelo sorriso que poucos conhecem porque discreto, apesar de sempre presente.

Obrigado pelo lindo filho que trouxe ao mundo, por me aproximar de Deus, por me impulsionar quando tudo parece sombrio. Obrigado por tudo, meu amor. Que Deus te abençoe. Sempre!