A violenta ventania que cortava Franca e as densas nuvens que pairavam sob o céu da cidade no início da tarde de 27 de dezembro de 2017, uma quarta-feira, deixavam evidente que uma pancada de chuva, típica do verão nos trópicos, era quase certa. Antes que a noite caísse, o temporal desabaria. Foram 50 minutos de chuva forte.
Avenidas e ruas às margens dos córregos que serpenteiam pela cidade ficaram inundadas. A força das águas arrastou carros e motos. Houve gente que precisou ser resgatada de veículos que boiavam, à deriva, por vias subitamente transformadas em rios. Faltou energia elétrica em vários bairros. Casas foram destelhadas. Árvores caíram. Várias.
Uma delas, na praça Nossa Senhora da Conceição, teve um pesado galho arrancado por uma violenta rajada de vento. Antes que caísse ao chão, a madeira acertou em cheio o quadrante do gnômon, na parte superior do Relógio do Sol. O golpe, certeiro, degolou o relógio como se o monumento, forjado em mármore de Carrara, tivesse sido feito de papel. Suas peças foram guardadas à espera de uma complicada restauração, cujo resultado final deve finalmente ser apresentado pela prefeitura de Franca à população neste dia 6 de dezembro, após quase dois anos de espera.
Ícone da cidade há 132 anos, patrimônio histórico tombado e objeto de admiração de incontáveis cientistas e historiadores, o Relógio do Sol, além de ser uma espécie de “mascote”, é também motivo de orgulho para os francanos.
Gerações cresceram “aprendendo” que o Relógio do Sol instalado no Centro é uma peça quase única no mundo. Um outro, idêntico, existiria apenas em Annecy, cidade francesa conhecida como “Veneza dos Alpes” e terra natal do capuchinho Frei Germano, o idealizador e construtor do monumento de Franca e que também teria feito o “gêmeo” na Europa.
A versão, ensinada nas escolas, lembrada em reuniões de família, contada por orgulhosos francanos para amigos de outros cantos, foi registrada, com algumas variações, em incontáveis textos e artigos de jornais e revistas ao longo do tempo. Ficou tão sedimentada que hoje aparece, sintetizada, na Wikipedia (enciclopédia virtual) e também em documentos oficiais da própria prefeitura, como o site em que o poder público resgata a história da cidade.
É um erro. Conheço o relógio de Franca desde minha infância e estive em Annecy há alguns anos à procura de respostas. Antes de mim, o advogado e professor João Nascimento Franco também protagonizou jornada semelhante, que registrou num magistral artigo publicado no Comércio da Franca em 30 de junho de 1999.
Os relógios não são idênticos, não foram construídos pela mesma pessoa e o idealizador de um jamais viu “seu irmão”. O relógio do Sol de Franca é um, o de Annecy é outro. Ambos são verticais, o que os faz raros, mas não são exatamente parecidos entre si. O nosso é esguio, esbelto, longilíneo, com suas duas toneladas de mármore distribuídas numa estrutura de 3 metros de altura. O francês é baixinho, bojudo, cabeçudo, com uma estrela de sete pontas na parte superior. O de Franca foi feito por Frei Germano. O de Annecy por outro frade, também capuchinho, mas de nome Arsène. Ambos foram construídos num intervalo de uma década. O francês, inaugurado em 22 de julho de 1876 com o arrogante nome L’unique (único, em francês) grafado na base, é mais velho. O nosso foi entregue ao público em 11 de abril de 1887, numa grande festa, que marcou também, no mesmo dia, a inauguração da estação de trem da Mogiana e o início da operação das “marias-fumaças” por aqui.
A confusão que deu origem ao equívoco é compreensível, ainda mais se considerada a época em que a “história” sobre os relógios idênticos começou a ser contada, décadas atrás, com comunicações precárias e distâncias que levavam meses – ou anos – para serem vencidas. Se é fato que os relógios são distintos, também é fato que o exemplar francês fica na mesma cidade em que nasceu Frei Germano, o construtor do monumento francano, o que tornava plausível a versão das duas peças idênticas feitas pela mesma pessoa. Mas quando o relógio do sol de Annecy foi erguido, Germano estava fora da sua pátria há 25 anos, sem jamais ter regressado à sua terra natal.
É impossível ter certeza, mas o mais provável é que tanto Germano quanto Arsène, ambos frades, os dois franceses, tenham bebido na mesma fonte, os mestres da cidade de Annecy, considerados alguns dos mais sábios de seu tempo, e depois seus mentores durante os estudos religiosos. Certamente desenvolveram, ao longo da vida, interesses semelhantes em astronomia, física e matemática. E ergueram, cada qual num ponto do mundo, monumentos que mais de um século depois seguem encantando e provocando admiração.
No momento em que o Relógio de Franca é devolvido, restaurado, à população cujos ancestrais financiaram sua construção, vale a pena resgatar a incrível jornada de Frei Germano desde quando ainda era conhecido como Claude Charles Marion, o nome com o qual foi batizado em 1822, até sua morte num navio, em 1890, na sua tentativa de voltar para sua terra natal. Germano nasceu no ano em que Pedro I decretava a independência do Brasil e morreu seis meses depois da República ser proclamada por Deodoro da Fonseca. Nestes 67 anos de vida, o menino pobre de Annecy converteu-se num homem culto, inteligente, célebre mas humide, que até o fim da vida foi respeitadíssimo pela comunidade científica. Um gênio que fez de Franca seu lar por quase uma década. E que aqui deixou muitos legados. Um deles o monumento que, 132 anos depois, segue como grande símbolo da cidade.
O gênio francês que fez de Franca o seu lar
Final da tarde de 10 de agosto de 1822, um sábado. No Brasil, o príncipe regente Dom Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança, aos 23 anos, era a autoridade absoluta – ou, pelo menos, deveria ser. Os tempos eram de intensa agitação, fruto da queda de braço interminável entre Dom Pedro e os nobres portugueses que queriam que o Brasil deixasse de fazer parte do Reino Unido de Portugal e Algarves e retornasse à condição de mera colônia, sem ministros para tratar dos assuntos nacionais, sem tribunais de justiça, sem qualquer autonomia. Para tanto, exigiam que o príncipe retornasse à Lisboa. Dom Pedro, influenciado pela princesa Leopoldina, sua mulher, de personalidade forte, culta, moderna e inteligentíssima, resistia.
Nesta data, Dom Pedro se preparava para uma viagem que faria a São Paulo, onde pretendia garantir apoio da província em prol da autonomia do Brasil. O longo e penoso trecho era vencido com carroças, lombo de mula e cavalo. No dia 25, sua Alteza chegou a São Paulo. Exatos 8 dias depois, em 2 de setembro, seria sua mulher, Leopoldina, que havia permanecido como regente no Rio de Janeiro durante a ausência de Dom Pedro, que assinaria a declaração de independência diante do agravamento das tensões.
No dia 7 de setembro, às margens do rio Ipiranga, nas cercanias de São Paulo, Dom Pedro foi alcançado pelo mensageiro enviado por Leopoldina com a carta em que contava sobre as circunstâncias da assinatura da declaração de independência. Ali, Dom Pedro referendaria a decisão de sua mulher e daria o célebre grito – ainda que alguns apontem que a versão seja romantizada demais – eternizado na história: “Independência ou morte!”.
Passaríamos a ser uma nação soberana. Dom Pedro I seria coroado imperador. Anos depois deixaria aqui seu filho, Pedro II, enquanto viajava a Portugal para retomar a Coroa Portuguesa numa disputa com seu irmão caçula, Miguel, e se tornaria Rei de Portugal. Pedro II governaria o Brasil por décadas, até o fim da monarquia, em 1889.
O Seminário Episcopal em São Paulo, por volta de 1860, onde Frei Germano foi professor
NASCE CLAUDE MARION
De volta àquela tarde de agosto de 1822, do outro lado do Oceano Atlântico, na pequena cidade de Annecy, aos pés dos Alpes, na região da Alta Saboia, na França, nascia Claude Charles Marion, filho de Louis Marion e Philippine Lacombe. Teve como padrinhos de batismo Claude Lacombe e Charlotte David. Era uma criança comum numa família simples e profundamente católica. Da infância e adolescência daquele menino, sabe-se nada mais.
Em 1841, aos 18 anos, decidiu ingressar na vida religiosa. Foi estudar no convento capuchinho de La Roche-sur-Foron, distante 30 quilômetros a nordeste de Annecy, pertinho da Suíça. Quatro anos depois, em 20 de março de 1845, foi ordenado padre em Chambéry, 50 quilômetros ao sul de onde nascera. Era o fim de Claude Charles Marion e o início da história de Frei Germano d’Annecy, o nome religioso que escolhera e pelo qual seria conhecido e respeitado.
Passariam seis anos sem grandes novidades, dedicados a estudos e orações. Foi em 1851 que Frei Germano receberia dos chefes de sua Ordem a determinação que mudaria completamente sua vida. Então com 29 anos, deveria embarcar num navio rumo ao mundo novo, a América, para lecionar. Física e matemática eram suas especialidades. Botânica e mineralogia, grandes áreas de interesse. E a astronomia, sua maior paixão. O destino foi o Chile, onde chegou entre fins de 1851 e início de 1852. Ali permaneceria até 1857, quando recebeu um convite.
Em São Paulo, tinha acabado de ser construído, por iniciativa do bispo diocesano Dom Antônio Joaquim de Melo, o Seminário Episcopal (hoje Colégio Arquidiocesano), escola que se destinava à formação do Clero mas que também admitia em suas classes alunos sem vocação religiosa.
A ambição de Dom Antônio era elevada. Em busca dos melhores professores possíveis, resolvera recorrer ao Papa Pio IX para ajudá-lo a encontrar nomes adequados. Sua Santidade recomendou ao bispo que pedisse auxílio aos frades capuchinhos da Alta Saboia, na França, que tinham reputação de serem grandes eruditos. Após algumas consultas e os primeiros selecionados, fora lhe recomendado convidar para compor o corpo de professores Frei Germano d’Annecy.
Assim foi feito. Em 1858, provavelmente depois de passar pelo Uruguai na sua longa jornada desde o Chile, Germano d’Annecy chegou à capital da província de São Paulo, onde ganharia rapidamente projeção no meio científico.
Professor de física e matemática, era reservado e humilde, como convém a um bom franciscano. Estava sempre vestido com um burel preto, espécie de túnica de lã, invariavelmente com os cabelos degringolados, às vezes cobertos por um chapéu de palha, sem demonstrar qualquer vaidade. A verdade é que Frei Germano, muito tímido, sentia-se mais à vontade conversando com as plantas que cultivava com profundo amor do que com outras pessoas. Não sem razão, jamais ganhou destaque pela sua oratória no púlpito. O conhecimento era sua arena. Nas ciências, Frei Germano era um gigante.
Além das aulas no Seminário, Germano tratou logo de arranjar tempo para construir um pequeno observatório astronômico no terraço do Seminário Episcopal. Passou a escrever regularmente para o jornal A Província de São Paulo (hoje O Estado de São Paulo), onde fazia previsões meteorológicas num tempo em que o ofício era definido como “a arte de prever o tempo de véspera”. Também explicava fenômenos como eclipses e o movimento dos planetas nos seus textos para o jornal. Foi o primeiro astrônomo e também o primeiro meteorologista de São Paulo.
Em 1859, construiu o primeiro relógio solar da Capital, uma versão muito mais rústica e primitiva daquele que, anos depois, ergueria em Franca. Tecnicamente chamado de Gnômon Mural Vertical Declinante, o relógio da Capital foi pintado por Abranches Junior no muro da capela de Nossa Senhora da Conceição (hoje Igreja de São Cristóvão), no pátio interno do Seminário Episcopal, na praça da Luz.
Apesar de rústico, sem estrutura própria e de ser apenas uma pintura na parede, o relógio funcionava – e bem. Tão bem que passou a fornecer a hora oficial de São Paulo. Todos os relógios passaram a ser ajustados a partir da medição feita pelo gnômon construído por Frei Germano. Continuaria assim por mais de meio século, até 1912. Frei Germano construiria um segundo relógio no pátio do colégio, com estrutura própria, mais parecido com o de Franca.
O CONVITE DO IMPERADOR
Os múltiplos talentos de Frei Germano chamaram a atenção do Imperador Dom Pedro II, entusiasta apoiador das ciências. Os planos do Imperador não eram modestos. Dom Pedro queria que Frei Germano assumisse o cargo de vice-diretor do Imperial Observatório Astronômico e Meteorológico do Rio de Janeiro. Filho dos alpes franceses, o calor abrasivo do Rio pareceu sufocante demais para a saúde de Frei Germano, que declinou do convite. O Imperador não desistiu. Fez do frade membro correspondente não-residente do Observatório Imperial. E o presenteou com um telescópio e um sofisticado cronômetro John Pool, no qual mandou gravar uma dedicatória especial.
O primeiro relógio solar da Capital, pintado na parede da capela de Nossa Senhora da Conceição, atual Igreja de São Cristóvão: obra forneceu a hora oficial de São Paulo por anos
LUZ ELÉTRICA
Sempre inquieto, Frei Germano começou a se dedicar também, em meados dos anos 60 do século XIX, a experimentações com eletricidade. Mais precisamente, com luz elétrica. Eram tempos em que depois que o sol se punha, só mesmo a lua, velas ou lampiões garantiam alguma claridade. Alguns inventores se dedicavam a tentar resolver o problema encontrando uma forma de obter iluminação a partir de filamentos incandescentes. Antes que Thomas Edison demonstrasse pela primeira vez o funcionamento da lâmpada que inventara, o que só viria a acontecer nos Estados Unidos, em 1879, 21 homens de diversas partes do mundo alcançaram resultados satisfatórios com sistemas de iluminação rudimentares. Um desses gênios foi exatamente Frei Germano.
O frade usava um sistema que viria a ser conhecido como lâmpada de arco-voltaico. Basicamente, ele usava dois eletrodos de carvão conectados a um acumulador, tudo inserido dentro de um vidro de remédios de farmácia. Quando colocados em contato um com o outro, os eletrodos se aqueciam e ficavam incandescentes. Eram então afastados ligeiramente. No espaço entre eles, graças ao efeito do ar quente, formava-se um pequeno arco incandescente. Fazia-se luz. Funcionava.
Naqueles anos, o Império do Brasil, aliado à Argentina e ao Uruguai, travava uma sangrenta batalha contra o vizinho Paraguai, no que ficaria conhecido como a Guerra do Paraguai. Comandados pelo general Solano Lopez, os paraguaios haviam construído às margens do rio Paraguai a Fortaleza de Humaitá, considerada inexpugnável e que protegia seu território contra ataques das forças terrestres e marítimas dos aliados.
Foram meses de cerco terrestre e marítimo e de muitos combates, a partir do final de 1867, entre as forças combinadas de Brasil, Argentina e Uruguai e os resistentes paraguaios. Finalmente, entre 23 e 24 de março de 1868, após pesados bombardeios dos navios Bahia, Rio Grande e Pará, da armada imperial brasileira, as forças paraguaias remanescentes em Humaitá recuaram. Quando abril chegou, tropas brasileiras enfim ocupavam a margem paraguaia. Foi uma vitória muito comemorada. Houve celebrações em várias partes do Brasil.
Na capital da província de São Paulo, a festa pela conquista de Humaitá foi marcada por uma demonstração de iluminação elétrica feita por Frei Germano. Foi a primeira vez que a população pode ver a experiência de perto. O local escolhido foi o Largo da Cadeia (hoje a praça João Mendes). Ali também funcionava a Prefeitura. O lugar estava especialmente bonito entre os dias 12 e 14 de agosto de 1868. Milhares de pessoas se dirigiram até o Largo da Cadeia para se deslumbrar com a iluminação produzida pelo invento de Frei Germano.
Há pelo menos outros quatro registros de demonstrações feitas por Frei Germano. Um deles, em 25 de abril de 1870, quando a população da capital recebeu soldados brasileiros que tinham participado de combates na Guerra do Paraguai. Poucos meses depois, em 11 de junho de 1870, foi a vez de Germano encantar com a iluminação da fachada do Seminário Episcopal. “A iluminação se estendia por toda a circunvizinhança daquele edifício e também do edifício da Casa do Império, que se achavam belamente embandeirados”, registra o historiador Antônio Egydio Martins. Outra demonstração aconteceu em 11 de agosto de 1872, em Campinas, onde ele iluminou um trecho da rua Direita para comemorar a inauguração de um trecho da estrada de ferro.
A última experiência de Frei Germano com iluminação elétrica de que se tem registro teve lugar no Largo da Penha, na capital, em 8 de setembro de 1877, por conta das celebrações da padroeira do bairro. A luz elétrica em larga escala em São Paulo começaria a funcionar apenas em 1905, quando a Prefeitura firmou contrato para iluminar a rua Barão de Itapetininga, 37 anos depois da experiência pioneira de Frei Germano d’Annecy.
RUMO AO INTERIOR
O ano de 1878 chegaria e, com ele, mais uma mudança se anunciava na vida de Frei Germano. Desta vez, provocada por uma decisão dos diretores do Seminário Episcopal, que resolveram cumprir a vontade testamentária do falecido bispo Dom Antônio Joaquim de Melo e substituir os mestres capuchinhos por professores que tivessem sido formados na própria escola. Houve determinação para que os frades retornassem à Europa. Frei Germano, com a saúde fragilizada por conta do beribéri (doença provocada por falta de vitaminas que leva à fadiga, dificuldades respiratórias e inchaço), pediu e conseguiu autorização para ficar no Brasil – e se mudar para o interior.
Apesar de muitos historiadores apontarem Franca como o destino imediato de Frei Germano, é improvável que isso tenha acontecido. Documentos obtidos por João Nascimento Franco no Arquivo Público de Uberaba e revelados no artigo publicado por este Comércio em 1999 demonstram que entre 1878 e 1881, Frei Germano morou em Uberaba. Primeiro, foi professor de física e matemática no Liceu Uberabense, dirigido pelo jornalista César Augusto Ribeiro, até que a instituição de ensino acabou fechada, por brigas políticas, em dezembro de 1879. Suas aulas e seu conhecimento devem ter provocado tamanho impacto nos pais de alunos que, reunidos, convenceram o frade a abrir um outro colégio de instrução secundária. Assim foi feito e em seu gabinete de física ele instalou o telescópio que, anos antes, havia ganhado do Imperador Pedro II.
Em Uberaba, Frei Germano morou na Fazenda das Melancias, onde construiu um quadrante solar, espécie de relógio de sol baixinho, mais simples e rudimentar. Por ali, também fez várias experiências com botânica e deu aulas práticas de agricultura e jardinagem. Instalou caramanchões e estufas na fazenda onde morava, e recebia com frequência a visita de uberabenses admirados com a beleza do lugar.
A Casa da Câmara e Cadeia (atual Praça João Mendes), por volta de 1800, na capital: local recebeu uma das primeiras experiências de iluminação elétrica, invento de Frei Germano
ENFIM, FRANCA
Depois de 30 meses morando em Uberaba, o convite de um antigo aluno do Seminário Episcopal, padre Cândido Rosa (que hoje dá nome à rua Monsenhor Rosa), então vigário de Franca, fez com que se mudasse para cá, onde também acabaria reencontrando o jornalista César Augusto Ribeiro, que havia fundado na cidade o colégio Culto às Letras. Como não poderia deixar de ser, Frei Germano tornou-se professor de física e matemática na escola.
Frei Germano tinha quase 60 anos quando chegou a Franca. Aqui, deparou-se com uma situação inusitada. Havia, naquele momento, uma guerra de nervos entre seu amigo e discípulo, Padre Rosa, e alguns maçons que haviam chegado com ideias liberais e modernizantes. Um desses maçons era ninguém menos que César Augusto Ribeiro, o dono de colégio, que havia sido seu patrão em Uberaba e agora era seu empregador em Franca. Era também alguém com quem comungava ideais sobre a importância da ciência.
Além do colégio Culto às Letras, César Augusto Ribeiro fundaria, junto com um sócio, Gaspar da Silva, o jornal O Nono Distrito, o primeiro a circular em Franca, em 1882. Ambos portugueses e maçons, usavam o jornal para defender ideais progressistas. Eram também, em boa medida, anticlericais. Artigos com ataques e críticas ao vigário Cândido Rosa eram comuns no jornal. Padre Rosa, por sua vez, reagia com textos publicados num concorrente também recém-fundado, o Tribuna da Franca. O clima era quente e a troca de farpas, intensa.
É curioso constatar que Frei Germano passou incólume pelo “conflito”, mantendo-se próximo de ambos. Era no colégio de César Augusto Ribeiro que o frade capuchinho trabalhava. E era numa propriedade de Cândido Rosa que Frei Germano morava, na Chácara das Freiras, no final de onde hoje é a rua Voluntários da Franca, na Estação. Ali, cultivou parreiras, de cujas uvas produzia vinho, plantou jardins e instalou colmeias para estudo das abelhas e produção de mel.
Sempre em movimento, não abandonava a ciência em nenhum instante. Relatos apontam para “anotações” suas, feitas com tinta ou canivete, até nos mourões de cerca da propriedade, contendo cálculos e equações matemáticas. Num casarão colonial que ficava na chácara, instalou também seu observatório astronômico, com os equipamentos que havia ganhado do Imperador, assim como fizera no Seminário Episcopal de São Paulo e na Fazenda das Melancias, em Uberaba.
Frei Germano não apenas conseguiu evitar que as desavenças entre Cândido Rosa e César Ribeiro o afetassem. De alguma forma, fez com que se unissem no projeto que resultaria na construção do Relógio do Sol. Ninguém sabe exatamente como surgiu a ideia de erguer em Franca o relógio, mas é certo que Germano, Rosa e Ribeiro trabalhavam intensamente, a partir de 1885, para transformá-lo em realidade, o que aconteceria com sua inauguração em 11 de abril de 1887.
O frade capuchinho daria ainda duas outras grandes contribuições à cidade. Foi em boa parte graças ao seu apoio e interseção junto aos irmãos capuchinhos que Franca ganharia, a convite do vigário Cândido Rosa, em 31 de outubro de 1888, o Colégio de Lourdes. Fundado pelas Irmãs de São José de Chambéry, as irmãs eram lideradas pela freira francesa Maria Teodora Voiron. Em 1917, anos depois da morte de Germano, Franca receberia também o Colégio Champagnat, mantido pelos Irmãos Maristas, igualmente ligados à ordem dos capuchinhos de Saboia, e pelo qual o frade teria feito muitos esforços, novamente junto com seu amigo, padre Cândido Rosa, antes de deixar a cidade em 1890. Coincidência ou destino, o Champagnat acabaria instalado no mesmo prédio em que funcionara, anos antes, o colégio Culto às Letras, onde Frei Germano deu suas aulas de física e matemática. O endereço, então conhecido como Bairro dos Coqueiros, é o mesmo onde hoje continua instalado o prédio, na avenida Champagnat.
Frei Germano d’Annecy em edição de 1999 do Comércio: personalidade marcante na história
PARTIDA
Mas nem sempre tudo deu certo para Frei Germano em Franca. Há um episódio, que alguns historiadores apontam como relevante para sua decisão de deixar a cidade, apesar de bastante improvável que tivesse qualquer relação com sua partida, que mostra que dramas comuns nos tempos de hoje já afligiam os francanos no final do século XIX.
Foi na Sexta-feira Santa de 1886 que bandidos invadiram o tal casarão colonial onde Germano morava na Chácara das Freiras. O frade estava ocupado com as celebrações da Paixão de Cristo, junto com o Padre Rosa, de quem era coadjutor, quando os bandidos aproveitaram para surrupiar o cronômetro John Pool, um aneroide (instrumento usado para medir a pressão atmosférica e que pode ser calibrado para se obter a altura de um local), moedas chilenas, letras do Tesouro Nacional (título de investimento) e alguns réis brasileiros.
Frei Germano prestou depoimento na casa de César Augusto Ribeiro, em 30 de abril de 1886. Evitou demonstrar raiva dos ladrões e tratou de inocentar alguns suspeitos apontados pela polícia – na verdade, pessoas que trabalhavam na Chácara das Freiras.
Aos 67 anos, em 1890, Frei Germano decidiu deixar Franca – e o Brasil. O país estava muito diferente daquele lugar onde aportou para passar boa parte da vida 32 anos antes. Deixara de ser monarquia no ano anterior e seu amigo, o Imperador, estava exilado na França. O país estava sob comando do neorrepublicano Marechal Deodoro da Fonseca.
Apesar de bastante afetado pelo beribéri, Germano tinha planos. Pretendia visitar Roma antes de recolher-se, para compilar textos que pretendia transformar em livro, no convento em Chambéry, perto de sua Annecy. Embarcou no navio Bearn, em Santos, com destino ao porto de Marselha, no Sul da França. Ficou feliz ao encontrar outros frades no navio. Intuia que talvez nao tivesse forças para resistir à travessia e queria ter conforto espiritual por perto. Estava certo. Ele jamais chegaria ao seu destino.
Quando a embarcação estava atracada em Salvador, na Bahia, Frei Germano morreu. Eram 4h da madrugada de 1º de maio de 1890. Diferente do que contam a maioria das versões, inclusive os obituários da época publicados pelos jornais O Estado de São Paulo e Diário Popular, o corpo de Germano d’Annecy não foi lançado ao mar.
Documentos obtidos por João Nascimento Franco revelam que o capitão do navio, após conversar com o Cônsul da França em Salvador, decidiu por sepultá-lo no cemitério municipal. Entre os seus pertences, nada de valor havia. Infelizmente, nem mesmo os manuscritos do livro que pretendia publicar.
A saga da construção
Franca havia crescido muito ao longo do século XIX. Se em 1812 apenas 132 almas habitavam o pequeno arraial, ao entrar no último quarto do século a cidade reunia 8.248 habitantes – 6.818 homens e mulheres livres e 1.340 escravos, aponta estudo do historiador Lélio Luiz de Oliveira, com base em dados referentes a 1876. Quando Frei Germano chegou, muito provavelmente em 1881, foi esta a realidade que encontrou por aqui. Negros ainda podiam ser comprados e vendidos como mercadoria, a mesma triste realidade que se repetia por todo o Brasil, um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão. A Lei Áurea, proposta pela Princesa Isabel, só seria promulgada sete anos depois, em 13 de maio de 1888.
Foi três anos após a chegada de Germano que o sonho de construção do Relógio do Sol começou a sair do papel. Em 1885, o relógio que se converteria no mais emblemático monumento de Franca era um projeto em andamento, capitaneado pelo frade e apoiado diretamente pelo vigário Cândido Rosa e por César Augusto Ribeiro, dono de O Nono Distrito, o primeiro jornal de Franca.
Por este tempo, Frei Germano já havia decidido instalar o relógio em frente à Igreja Matriz, exatamente onde se encontra hoje. O lugar à época era conhecido como Largo da Alegria. Sem recursos para financiar o projeto, o jeito encontrado por Frei Germano para angariar o dinheiro necessário foi passar a sacolinha – literalmente. Nas missas, pediam-se doações para as obras do Relógio do Sol. Nas páginas de O Nono Distrito, anunciava-se um grande bazar com renda revertida para a construção do monumento. Quem doava dinheiro ou prenda que seria leiloada, tinha seu nome estampado no jornal. Nada muito diferente do que, 132 anos depois, continua acontecendo.
É curioso observar que o comunicado no jornal era especificamente destinado às mulheres. O texto era direto. “Às Senhoras: já foram distribuídas circulares às excelentíssimas senhoras desta cidade pedindo prendas para o bazar que pretende realizar o reverendíssimo padre-mestre Frei Germano d’Annecy, auxiliado pelo digno Vigário da paróquia, a fim de construir elegantíssimo Relógio de Sol, todo de mármore, em frente à matriz”, estampou o jornal numa de suas edições de 1885. “Todo o trabalho científico desta obra, que é muito mais importante do que o material e artístico, será feito pelo ilustradíssimo capuchinho, que é competentíssimo na matéria”, atestava o semanário.
Enquanto a campanha de arrecadação seguia firme, Frei Germano se debruçava sobre os planos do relógio. Após definir o local onde o monumento seria instalado, era preciso fazer uma infinidade de medições que seriam fundamentais para o desenho correto das faces do relógio. Se tudo não fosse muito preciso, as horas projetadas simplesmente não corresponderiam à verdade. Ainda hoje, com todos os recursos tecnológicos, é um trabalho complexo. Naquele tempo, além do seu cérebro, Frei Germano só podia contar com lápis e papel. Para ele, que fora o primeiro astrônomo de São Paulo, o primeiro a fazer experiência com luz elétrica, o primeiro professor de física, bastava.
Não que a tarefa tenha sido simples. No estudo O Gnômon de Frei Germano, publicado originalmente no Comércio da Franca em 1937 (e que infelizmente se encontra perdido, restando apenas alguns excertos), o professor Carmelino Corrêa Júnior detalha alguns dos cálculos feitos por Germano.
Primeiro, ele precisou determinar a latitude do ponto onde o relógio seria instalado. Traçou também o meridiano de Franca, no mesmo lugar. Calculou a posição relativa do sol na esfera do Relógio do Sol, considerada a posição do monumento. Calculou ainda as trajetórias de passagem do Sol pelo zênite de Franca, para desenhar os quadrantes Norte e Sul. Determinou a posição da cidade na esfera celeste, para correta afixação do globo do Relógio. É possível que tenha também determinado a inclinação magnética de Franca.
Não entendeu quase nada? Não se frustre. Eu também não, por mais que tenha me debruçado e pesquisado sobre o tema. Mas é suficiente saber que são conceitos de matemática, física e trigonometria que estão na base dos cálculos necessários para o desenho de um relógio de sol. Sem esses cálculos, o máximo que se consegue é projetar uma sombra – jamais, medir as horas. Muito diferente da maioria, Frei Germano entendia tudo do assunto. E concluiu o trabalho com perfeição.
FUNÇÕES DO RELÓGIO
O Relógio do Sol foi projetado com três funções. A mais óbvia, registrar as horas do dia. Os quadrantes servem para este fim. A faceta Norte, voltada para a fonte luminosa, marca as últimas horas da manhã e as primeiras horas da tarde, durante praticamente o ano inteiro; a Sul, que faz frente para Igreja de Nossa Senhora da Conceição, cumpre o mesmo papel, mas apenas nos últimos 20 dias do ano; o mostrador Leste, voltado para a rua Major Claudiano, marca as primeiras horas da manhã, o ano inteiro; o Oeste, que mira a praça Barão, mostra as últimas horas da tarde, também o ano inteiro.
Além das horas, o Relógio também tem um mostrador que indica a passagem do Sol pelas constelações zodiacais. Ou seja, dá para saber no mês de qual signo estamos. Por fim, tem a esfera na parte superior, onde é possível observar a inclinação relativa de Franca no espaço.
Há um excelente estudo sobre o tema, feito nos anos 90 pelos professores Antônio Carlos Marangoni, Antônio César Geron e Lucinda Rodrigues Coelho, que não apenas explica detalhadamente o funcionamento do Relógio do Sol, como também se propõe a servir de ferramenta para que alunos façam estudo interdisciplinar de matemática e física através da construção de um modelo simplificado. É impactante.
Mas de volta a 1885, o jornal O Nono Distrito dizia que o relógio seria forjado em mármore de Carrara, na própria Itália. A versão foi assumida como verdadeira por todos os historiadores que já se dedicaram ao assunto, mesmo porque se não há documentos que comprovem que ele foi esculpido na Europa, também não há nenhum relato que indique o contrário.
Mas depois de meses debruçado sobre artigos, noticias, livros e estudos sobre o Relógio do Sol, Frei Germano d’Annecy e seu respectivo período histórico, ouso construir outra tese. No livro Instituto Astronômico e Geofísico da USP – Memória sobre Sua Formação e Evolução, o autor, Paulo Marques dos Santos, relata que, durante seus anos no Seminário Episcopal em São Paulo, Frei Germano construiu um outro relógio de sol, além do mural vertical declinante que durante 53 anos fora a hora oficial de São Paulo.
Este segundo relógio, mais parecido com o de Franca, fora também esculpido em mármore de Carrara a partir de desenhos e projetos de Frei Germano, mas em São Paulo mesmo. O frade capuchinho passou a tarefa de esculpir a pedra a um conterrâneo, o artista francês Jules Victor Andre Martin, que após estudar na escola de Belas Artes de Marselha, no sul da França, havia se radicado no Brasil a partir de 1870. Este mesmo Jules Martin projetaria depois o Viaduto do Chá, na Capital, e seria seu concessionário por muitos anos.
Acho pouco crível que Frei Germano tenha recorrido a um artista francês radicado no Brasil para esculpir um relógio quando morava em São Paulo e tenha, 20 anos depois, optado por mandar cravar na Itália a pedra do Relógio do Sol de Franca.
Os entraves parecem grandes demais. Imagine a dificuldade de concluir os desenhos a mão, enviar por um mensageiro no lombo de mula numa viagem interminável entre Franca e Santos, embarcar os projetos num navio para alguém retirar em Gênova, na Itália, esperar que fizessem o trabalho no mármore, e depois embarcassem o monumento noutro navio para fazer todo o caminho de volta até Franca.
É até óbvio, mas não custa lembrar que não havia qualquer forma de comunicação direta, o que torna ainda mais improvável a versão oficial. Porque se em 1885 Frei Germano ainda cuidava de arrecadar dinheiro para o monumento, é difícil acreditar que eles tenham conseguido terminar tudo, acertar preços, mandar para Itália e receber tudo de volta a tempo da inauguração, em 1887. Além disso, há uma inscrição no relógio, grafada Martinelli sp, que indica que mais alguém na capital lidou com o monumento.
Acho muito mais plausível que o Relógio do Sol tenha sido esculpido por algum conhecido de Frei Germano em São Paulo. Pode ter sido o próprio Jules Martin ou algum outro homem talentoso, que usou mármore importado da Itália, porque de fato o monumento é feito da pedra de Carrara, mas que tenha realizado o belíssimo trabalho na própria capital da Província. Isso torna as distâncias bem menores e o tempo e os custos, muito mais razoáveis.
De um jeito ou de outro, o fato é que o monumento estava pronto e instalado em Franca em abril de 1887. Foi entregue ao público no dia 11, após bênçãos especiais do Padre Cândido Rosa, na mesma data em que foi inaugurado o ramal da Mogiana, na Estação, ligando Franca às linhas de trem que começavam a cortar o Estado. Passava a ser possível sair de Franca e chegar a São Paulo no mesmo dia, viajando a quase 40 km/h, velocidade espantosa para um tempo em que os deslocamentos mais rápidos eram feitos em carro de boi ou a cavalo.
LIÇÕES
Em 1890, Frei Germano deixaria Franca, sozinho, sem levar praticamente nada porque nada tinha acumulado além de conhecimento. A vida inteira dedicara-se exclusivamente aos estudos e oração.
Desde então, não foram poucas as vezes em que professores, historiadores e especialistas alertaram para a necessidade de o poder público reservar a devida atenção para um monumento que, por várias razões, é histórico.
Infelizmente, todos os alertas, feitos ao longo de décadas, restaram inúteis. O temporal de 27 de dezembro de 2017 mostrou que é preciso fazer alguma coisa mais efetiva para preservar – e valorizar – uma joia que repousa no Centro de Franca.
O primeiro passo foi dado. A restauração, apesar de demorada por conta dos processos burocráticos de contratação da empresa especializada – o trabalho de recuperação, propriamente dito, durou apenas 32 dias – foi concluída e o Relógio do Sol deve ser entregue à cidade nesta semana, no dia 6 de dezembro.
A equipe que cuidou dos reparos foi formada por três mulheres. Leila de Oliveira, formada em Ouro Preto, com 10 anos de experiência em restauração de telas, esculturas e pinturas; e Júlia Russi, também especialista, formada em Portugal, ambas de Franca, se uniram a Laura Bassul, expert em recuperação de madeira e metal, com especialização pela Unicamp, na missão de devolver o Relógio do Sol a seu esplendor original.
O trio garante que o trabalho ficou perfeito. “Foi uma honra e um desafio por ser um monumento que faz parte da história da cidade. Como restauradora e francana, foi uma grande responsabilidade. O trabalho ficou fantástico. Fiquei emocionada com o resultado”, disse Leila de Oliveira.
Restauradora trabalha no Relógio do Sol de Franca que deve ser entregue à população no próximo dia 6 de dezembro
Agora, é torcer para que o poder público, 132 depois, enfim tome medidas para garantir a preservação e valorização do Relógio do Sol de Franca, um monumento único, delicado, carregado de história e que é também um tributo a Frei Germano d’Annecy, um dos mais geniais personagens que já fizeram de Franca seu lar.
Um bom passo possível de ser adotado pelo prefeito Gilson de Souza seria fazer o que foi sugerido por especialistas paranaenses, em vão, a um outro prefeito, Maurício Sandoval Ribeiro, ainda nos anos 70 do século XX: constituir uma comissão permanente encarregada de monitorar e cuidar do Relógio do Sol, de sua história e do legado de Frei Germano, além de colocar ao lado do monumento informações que permitam a compreensão de seu modo de funcionamento e de sua história. Não custa praticamente nada – e pode ajudar não apenas a preservar, mas também a difundir o significado e a importância do relógio de Franca. Vale ou não vale a pena tentar?
AGRADECIMENTOS
O trabalho de resgate e pesquisa que me propus a fazer, especialmente no precioso acervo do jornal Comércio da Franca, seria simplesmente impossível sem as trilhas deixadas com talento e dedicação por tantos que me antecederam. Sou muito grato ao trabalho de professores e historiadores como Alfredo Palermo, Octávio Cilurzo e José Chiachiri Filho. Importante destacar também os levantamentos publicados no livro Instituto Astronômico e Geofísico da USP – Memória sobre Sua Formação e Evolução, de Paulo Marques dos Santos, que esclarece muitos pontos sobre a trajetória de Frei Germano no Seminário Episcopal de São Paulo e suas experiências com eletricidade na Capital. Digno de registro e admiração o livro Economia e História – Franca – Século XIX, de Lélio Luiz de Oliveira, com análises econômicas e dados surpreendentes sobre a cidade. Meus respeitos mais profundos aos professores Antônio Marangoni, Antônio Geron e Lucinda Coelho, autores da apostila O Ensino Interdisciplinar de Matemática e Ciências – Um Estudo do Relógio do Sol da Cidade de Franca, cuja adoção no sistema educacional deveria ser obrigatória, tamanha a qualidade e pertinência. E, por fim, meu carinho e mais profundo afeto ao professor Carmelino Correa Junior, pelo artigo O gnômon de Franca, e ao advogado João Nascimento Franco, autor de Franca e Annecy – Cidades Irmãs, ambos publicados no Comércio, o primeiro em 1937, o segundo em 1999. Os dois autores são fundamentais para se entender a grandeza de Frei Germano d’Annecy e a importância do Relógio do Sol de Franca. No caso de João Nascimento Franco, sua ida a Annecy e a correspondência com Padre Bétemps, chefe da Ordem Franciscana da França, foram cruciais para corrigir informações e ajustar datas que têm sido registradas de forma equivocada ao longo do tempo.