A Estação Ferroviária de Franca já não existe mais. Mesmo assim, restam alguns sinais mostrando que os ‘trilhos do progresso’ passaram por Franca. O que ainda resta na cidade, aos seus 195 anos, é o prédio antigo da Companhia Mogiana, que se mostra deteriorado com o tempo, mas ainda abriga algumas repartições públicas como uma unidade do Cartório Eleitoral.
A estação de Franca foi inaugurada em 1887. A ideia inicial da Companhia Mogiana não era chegar à Franca. A linha vinha da região de São Paulo e seguiria rumo ao norte, até Casa Branca. Mas o rápido crescimento da região fez com que os planos fossem alterados e os trilhos rumassem em direção oeste primeiro. Primeiro chegou a Ribeirão, em 1883 e, depois cruzou o Rio Pardo. Em1887, foi inaugurada em Franca.
Nesse trem da história está José Antonio Bosco, que foi o último chefe da estação ferroviária de Franca, tendo se aposentado na empresa Mogiana depois de 30 anos. Hoje, aos 83 anos, conta com emoção sobre a linha férrea que cortava a cidade. “Em 1953 fui admitido pela empresa Mogiana Férrea como telegrafista, onde trabalhei por 30 anos e me aposentei em 1983, como último chefe da estação de Franca. Já faz 33 anos que eu deixei a empresa. Mas eu acredito que com a superlotação das rodovias, com os congestionamentos, acredito que hoje está na hora da ferrovia voltar”, diz Bosco.
A linha do Rio Grande, como era chamada, foi perdendo a sua importância, reduzindo muito seu movimento. A estação de Ribeirão Preto foi desativada e, em 1969, parte do que estava sediado na cidade vizinha foi enviado a Franca. O último trem de passageiros, um trem misto, com um carro apenas e cinco vagões cargueiros, partiu de Franca em 15 de fevereiro de 1977, conduzido pelo maquinista Augusto Ferreira Mendes, ao meio-dia de uma terça-feira, com o chefe do trem Olívio Marques avisando aos passageiros da notícia do encerramento (segundo registros não oficiais).
Já os trens de carga sobreviveram até 1980. A Estação Mogiana de Franca fechou oficialmente em 1983, quando seu último chefe, José Antônio Bosco, entregou suas chaves.
Quando Bosco deixou a estação para trás, os trens já não passavam por ali havia três anos. “Ainda queria ver nossa locomotiva operando. Mas se não for possível pelo menos que alguém possa traze-la de volta. Nossa “Maria Fumaça”, foi levada para o Parque do Bom Jesus de Pedregulho e depois transportada para Jaguariúna. Essa locomotiva é nosso símbolo. Ela ficou um tempo no Parque Fernando Costa e está na hora de voltar pra Franca. Ainda acredito na volta da ferrovia também. Não seria no local de antigamente, passaria em outro polo”, imagina Bosco.
José Antonio Bosco, hoje com 83 anos, foi o último chefe da Estação Ferroviária de Franca
BAIRRO DA ESTAÇÃO
Favorecido pela presença da via férrea, o Bairro da Estação se tornou uma importante área de atração populacional, uma alternativa bastante interessante para os recém chegados à cidade. Grande número de imigrantes, especialmente italianos, se dirigiu para esse bairro.
Assim, o desenvolvimento econômico e o povoamento dessa nova área foram quase que instantâneos ao seu surgimento, marcado sobretudo pelo dinamismo da sua atividade comercial. Além dos grandes armazéns atacadistas de café, arroz e milho e outros produtos agrícolas, espelharam-se pelo bairro diversos empórios de secos e molhados, hotéis, pensões, restaurantes, bares e cinemas. Pequenas oficinas e manufaturas foram surgindo, muitas fundadas por estrangeiros.
Posteriormente apareceram também as primeiras indústrias. Isso fez com que o bairro se transformasse num importante pólo econômico, capaz de concorrer com o secular Centro da cidade. Com o súbito desenvolvimento da área, três dos quatro novos loteamentos lançados na cidade na década de 1920 ocorreram nas suas imediações: Vila Chico Júlio, Vila Nicácio e Vila Santos Dumont.
Do outro lado, a Cidade Nova teria um crescimento mais lento que a Estação e, diferentemente desse bairro, se manteria, pelo menos até a metade do século XX, como área tipicamente residencial.
José Bosco sempre morou às margens da linha de trem e atualmente toca seu comércio (loja de presentes) justamente na Estação. “Eu nasci ali na beirada da linha. Meu pai foi ferroviário também. Eu andei muito de trem, indo para Uberaba e São Paulo. Tenho saudades daquele tempo”, finalizou José Antonio Bosco.
TRANSFORMAÇÃO
A chegada da ferrovia em Franca foi de fundamental importância para a transformação da cidade. Além de viabilizar a vinda de materiais e equipamentos para as obras e de profissionais como engenheiros, arquitetos, paisagistas e trabalhadores da construção civil, os trilhos da Mogiana possibilitaram também um contato mais frequente entre Franca e outros centros urbanos. Assim, foi criando condições favoráveis à importação dos ideais de modernidade e à padronização da cidade nos moldes já institucionalizados nos centros mais desenvolvidas.
A partir desse momento, foram surgindo residências, às vezes acopladas a cômodos de comércio, com projetos importados, nos estilos que vigoravam na capital, cópias que os barões do café começavam a imitar, dada a facilidade de comunicação que a ferrovia propiciava.