Em tempos onde ganham força os discursos de ódio, as palavras de intolerância, o desrespeito por quem é - ou pensa - diferente, nada pode ser mais eficiente do que revisitar a história para aprender - e se surpreender - com o que homens e mulheres já foram capazes de fazer quando tomados por este mesmo tipo de sentimento ou motivação. Poucas obras são tão elucidativas e eficientes para ajudar a traduzir isso quanto o documentário Grandes Momentos da Segunda Guerra em Cores, recém-lançado pela Netflix.
A produção, dirigida por Jonathan Martin, mostra ao longo de dez episódios os principais momentos do conflito que se arrastou de 1939 a 1945, dizimou milhões de pessoas e revelou ao mundo as atrocidades cometidas pelos nazistas nos seus famigerados campos de concentração e extermínio, a crueldade dos exércitos japoneses dispostos a qualquer coisa menos a rendição e, obviamente, o terror da destruição sem precedentes provocada pelas bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Cada episódio tem a participação de especialistas em guerras e conflitos que comentam as circunstâncias que cercam aquele momento. Tudo recheado com imagens, muitas delas inéditas, agora digitalizadas e colorizadas, o que dá nova dimensão e perspectiva aos fatos.
Logo no primeiro episódio, Guerra-relâmpago, o conceito da blitzkrieg alemã é esmiuçado e fica claro para quem assiste como o elemento surpresa pode ser devastador. Polônia, Dinamarca, Luxemburgo, Bélgica e França caíram em poucos dias. Não deixa de ser curioso descobrir que os exércitos franceses eram superiores em quantidade e qualidade aos alemães, mas mesmo assim a França sucumbiu sem resistência significativa, ainda que reforçada por tropas inglesas e apesar dos milhares de quilômetros de defesas da linha Maginot. Tudo ruiu ante a velocidade e ferocidade das tropas alemãs, que combatiam drogadas.
Há muito mais. O ataque a Pearl Harbour; os 50 dias ininterruptos de bombardeio sobre Londres; a batalha de Midway, no Pacífico; o selvagem cerco de Stalingrado e suas centenas de milhares de mortos; a maciça destruição de Dresden, o Dia D...
Mas nada, nem mesmo a devastação provocada pelas bombas nucleares, é tão chocante quanto a descoberta dos campos de extermínio. As cenas de pessoas esquálidas, as câmaras de gás para execuções em escala industrial, as peles humanas que oficiais nazistas colecionavam, as famílias separadas para serem dizimadas, e até uma horta de couve adubada com cinzas humanas são a mais perfeita síntese de como a brutalidade pode ignorar quaisquer limites.
Tudo motivado pelo ódio que Hitler nutria por judeus e comunistas, e também por negros, gays, ciganos, eslavos e qualquer um que pertencesse ao que ele acreditava serem “raças inferiores”. Não que fosse novidade. Hitler expressava tais ideias há muito tempo, inclusive num livro que escrevera em 1925, o Mein Kampf (Minha Luta), sem que lhe dessem a devida atenção. Deu no que deu.
Assistir ao documentário não apenas ajuda a entender o que houve. Serve também de antídoto para discursos simplistas e maniqueístas que dividem o mundo apenas entre bom e ruim, certo e errado, direita e esquerda, entre quem presta e quem não presta, como se não houvesse uma infinidade de possibilidades entre uma coisa e outra. E como se não fôssemos todos, e apesar de nossas muitas diferenças, humanos.