24 de dezembro de 2024

Hospício Brasil


| Tempo de leitura: 3 min
“A pior das loucuras é, sem dúvida, 
pretender ser sensato num mundo de doidos”
 Erasmo de Rotterdam,  teólogo e filósofo holandês

 

Foi uma semana de tirar do sério qualquer um. Não bastasse o pitoresco discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU (Organização das Nações Unidas); os ataques grosseiros e recheados de mentiras e fake news perpetrados por seu filho, Eduardo, contra uma jovem ativista sueca de apenas 16 anos; o pedido de liberdade de Lula (tecnicamente, progressão para o regime semiaberto) feito pelos procuradores da operação Lava Jato e a posição da defesa do ex-presidente, que diz que “vai pensar” se aceita sair da cadeia, ainda houve Janot.

Rodrigo Janot, ex-procurador geral da República, simplesmente despirocou. A julgar pelo que fez, imagino, enlouqueceu de vez. Foi tudo tão repentino que levou algumas horas até que fosse possível entender o que estava acontecendo.

Mas na tarde de sexta, quando uma ação policial fez operação de busca tanto no escritório quanto na residência de Janot, apreendendo uma arma e documentos, a crise institucional era uma realidade incontornável.

Foi um dia antes, na tarde de quinta-feira, que o ex-procurado-geral, agora advogado e, muito possivelmente, futuro paciente de clínica psiquiátrica convocou alguns dos mais respeitados veículos de comunicação do país para uma entrevista que tinha como assunto o livro de memórias Nada menos que tudo, cujo lançamento tem previsão de acontecer na próxima semana. Estavam lá a Veja, o Estadão, a Folha e o protagonista, Janot.

Ao falar do livro, Janot destacou uma das passagens, na qual admite nada menos do que um plano para assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, de quem havia sido amigo anos antes de se tornarem desafetos. “Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina (...)”, disse o ex-procurador-geral, antes de confirmar, para espanto dos jornalistas, que o alvo era Gilmar Mendes.

A razão da discórdia é patética – Janot estava incomodado porque arguiu a suspeição de Gilmar Mendes num processo alegando que a mulher do ministro trabalhava numa das empresas do réu, Eike Batista, e o ministro rebatera afirmando que a filha do procurador advogava para uma das empreiteiras denunciadas na Lava Jato, e nem por isso houvera suspeição. Foi o bastante para quase converter Rodrigo Janot em assassino.

Não foi apenas um devaneio. Segundo suas próprias afirmações, Janot de fato foi armado ao prédio do Supremo Tribunal Federal, numa quinta-feira de 2017, com o objetivo de matar Gilmar Mendes. Ambos se encontraram no café da antessala do plenário. Foi então que o ex-procurador diz ter sido impedido pela “mão invisível do bom senso” e, assim, abortou o plano, cujo desfecho seria completado com seu suicídio. Provavelmente transmitido, ao vivo, para o mundo.

Uma boa síntese do momento foi dada por outro Rodrigo, o Maia, presidente da Câmara dos Deputados. “Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar ministro do Supremo. Quem vai querer investir num país desses?”, ironizou. Não é só. Diante de tudo que temos visto, difícil é achar quem ainda acredite no Brasil. Do jeito que as coisas vão, o último que sair apague a luz. Tranque a porta. E, por favor, certifique-se de que Rodrigo Janot ficou do lado de dentro.

 

Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
email - jrneves@comerciodafranca.com.br