”Há um olhar que sabe discernir o certo do errado e o errado do certo.
Há um olhar que enxerga quando a obediência significa desrespeito e a desobediência representa respeito.
Há um olhar que reconhece os curtos caminhos longos e os longos caminhos curtos.
Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade.
Este olhar é o da alma.” - A Alma Imoral
Rabino Nilton Bonder
Com muita alegria e numa parceria muito fecunda, estaremos Sonia Machiavelli e eu no formato Interações do Cinema e Psicanálise de Franca, comentando o filme A Esposa. Esse belo e instigante filme, abre possibilidades inusitadas para comentarmos relações no casamento, através do casal Joan e Joe Castleman, e em um foco especial, como o próprio título sugere, conversamos sobre o feminino. O casal Joan e Joseph Castleman está de saída para Estocolmo onde ele receberá o prêmio Nobel de Literatura, e através das reflexões de Joan, vão se desvelando todas as dificuldades vividas por eles desde que se conheceram. A direção muito sensível do diretor Björn Runge, focaliza e acompanha com muita proximidade, através da câmera, a atriz Glenn Close, no papel de Joan, estupenda em seu papel, mostrando-nos suas mínimas expressões, olhares, trejeitos, a ponto de nos sentirmos íntimos dos seus sentimentos e ressentimentos, apesar de seus silêncios.
Joan é com certeza a personagem principal da família dos Castleman, com seu marido Joe, num papel machista e narcísico, sendo interpretado pelo excelente ator inglês Joanathan Pryce. Algo secreto e, portanto, perturbador, existe nas relações entre esse casal, e é perceptível, pelo silêncio e excessiva submissão de Joan, e seu evidente desconforto, diante da premiação do marido. Gradativamente vamos sendo introduzidos, pelas lembranças de Joan à verdade. Impossível não citar, também, o papel importante na trama do ator Christian Slater, que faz o escritor e jornalista Nathaniel Bone. Esse personagem, ao mesmo tempo que incomoda o casal Joan e Joe, carrega o estímulo para que a verdade seja revelada.
A situação do feminino até hoje, bem como do masculino, conforme percebo, manifesta questões e reações, moralistas, religiosas, cientificas e até políticas, como se instituições pudessem determinar de alguma maneira nossas escolhas em nossas vidas. Por sorte temos sempre transgressores que encaminham a humanidade para aberturas e evoluções, sem re-voluções. As inúmeras conquistas e melhorias reconhecidas por todos nós, mostram como nossa sociedade tem avançado graças ao empenho de tantas mulheres e homens. A busca de aproximação do que acontece entre Joan e Joe, ou seja, do feminino e do masculino numa relação, as considerações que vou procurar deixar em aberto para comentarmos, passam por maneiras de constituirmos vínculos, que podem ser com a busca da Verdade ou a busca da Mentira como parceiras.
Vamos juntos assistir ao filme e discutir esse assunto tão próximo de todos nós?