O fenômeno não é exclusividade local, mas atinge com peculiar intensidade a cidade de Franca. Ainda a 15 meses do próximo ciclo eleitoral, autoproclamados candidatos estão em plena campanha, de olho na chave que dá acesso ao principal gabinete da avenida Presidente Vargas. Pelo que se viu até aqui, será uma disputa sangrenta. Em alguns casos, fratricida.
Tome-se como exemplo o clima no PSDB. Adérmis Marini, vereador e presidente do partido, está em campanha desde sempre. Eleito vereador, assumiu como suplente de deputado federal, graças à queda de Dilma Rousseff (PT). Ficou lá uns poucos meses, voltou defenestrado pela ressaca que se seguiu, disputou a eleição de deputado enquanto exercia o mandato de vereador, foi derrotado e, tão logo pisou de novo na Câmara Municipal, já avisou: seria candidato a prefeito. Custe o que custar. Radicalizou a postura de se opor a toda e qualquer iniciativa do Executivo. Adérmis é contra, e ponto.
Na última semana, conduziu o processo que levou à expulsão do “colega” Tony Hill. Tudo porque Tony havia assumido a liderança do governo na Câmara. Adérmis não precisou de uma noite de sono nem de um par de horas para reflexão. Na lógica eleitoral, não existe pecado maior do que estar junto do inimigo. Portanto, ainda que Tony não tenha cometido qualquer ilicitude, o simples fato de dizer que seria o líder de Gilson foi suficiente para selar seu destino.
No Partido Novo, casa de Flávia Lancha, já há sinais de agitação no horizonte. Flávia recebeu nesta semana a notícia de que o professor e correligionário Heleno Paim quer tanto quanto ela ser prefeito. A decisão de Heleno deve forçar uma espécie de prévia no partido. A pré-disputa é bonita, mas não quer dizer que tenha sido assimilada com tranquilidade. Por mais que o discurso oficial seja de tranquilidade, há muito em jogo para Flávia. E perder antes mesmo de entrar na corrida eleitoral é hipótese que seus apoiadores nem cogitam. Mas Paim, sim.
Pastor Otávio, vereador do PTB, há tempos avisa a quem quer ouvir que sonha em disputar a prefeitura, como uma espécie de representante das forças conservadoras - com os evangélicos, evidentemente, à frente. Procura agora costurar apoios que o permitam surfar na onda que levou Bolsonaro ao poder.
Há outros tantos, em estágio mais ou menos avançado, buscando se posicionar da mesma forma que Adérmis, Flávia, Heleno e Otávio já fizeram. “Quando um prefeito não projeta força nem é claro sobre seus planos eleitorais, deixando de costurar apoios, automaticamente pipocam candidaturas. Não existe vazio em política. Alguém vai se sentar na cadeira”, lembrou um experiente líder político brasileiro, baseado em São Paulo, ao analisar a situação de Franca. É fato.
Como Gilson assumiu dizendo que pretendia cumprir apenas um mandato e não conseguiu até agora formar um grupo coeso nem dar um marco a sua gestão, é natural que se multipliquem os nomes dispostos a ocupar seu gabinete. Faz parte, tanto quanto fazem parte inúmeras mudanças que sempre podem chacoalhar o volátil ambiente político. Da decisão de Gilson se candidatar à hipótese de Sidnei Rocha ceder à pressão popular, atropelar Adermis e entrar na disputa, há inúmeras variáveis. Quinze meses é um longo tempo. Em política, uma eternidade. Tudo pode acontecer. Só não esperem uma campanha propositiva. Não vai ser.