O presidente Jair Bolsonaro, empossado há menos de seis meses no cargo, já dá mostras de extrema fadiga, enorme impaciência e absoluta falta de jogo de cintura. Naquela que pode ser definida como a pior semana de seu governo até agora - marcada pela divulgação de níveis crescentes de desemprego e indicadores amargos na economia, que teimam em encolher; por múltiplos pontos de conflitos com o Congresso Nacional, às voltas com a intricada discussão da Reforma da Previdência; por uma tumultuada viagem aos Estados Unidos, em que acabou se abrigando no Texas após ser rechaçado de Nova Iorque, e de onde deu uma desastrada e infelilz declaração na qual chamou centenas de milhares de estudantes brasileiros que protestavam contra o corte de verbas de “idiotas úteis” e de “massa de manobra”; e diante do cerco crescente a um de seus filhos, Flávio, senador da República investigado por supostamente ter desviado dinheiro público enquanto deputado estadual - Bolsonaro resolveu compartilhar na sexta-feira um texto em grupos de Whatsapp. Não podia ter escolhido nada pior para postar.
Sem autor conhecido, o texto mescla teorias conspiratórias com delírio puro para justificar a tese de que o país é “ingovernável”. Sustenta, a partir de premissas ora infantis, ora tresloucadas, que nada dá para fazer por conta das “corporações” que boicotam o presidente. Sugere, ainda, a ruptura institucional como o caminho possível. Ou seja, defende um golpe de Estado. Que tenha louco que pense tudo isso, faz parte. O que não poderia fazer parte é o presidente da República, eleito pelo voto popular e que jurou respeitar a Constituição da República, insinuar que concorda com esse disparate. É irresponsabilidade, para dizer o mínimo. Ou loucura, na pior das hipóteses.
Se alguém disse a Bolsonaro que governar o Brasil seria fácil, mentiu. Se por um instante ele acreditou, é porque não estava preparado. Diferente de uma eleição, onde o vale-tudo impera, estar à frente de uma nação democrática, com o tamanho e as complexidades do Brasil, é tarefa para poucos. Exige muito de quem se propõe a exercer a função. Paciência, por exemplo, é virtude essencial. Capacidade de dialogar com todo mundo, idem. Habilidade para construir consensos, também. Resiliência, então, nem se fala. O que não pode haver é presidente da República recorrer a um infantil “belém-belém” e “tô de mal de você” diante dos obstáculos que fazem parte da rotina. Não apenas dele, mas de qualquer um que estiver sentado no principal gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto.
Bolsonaro precisa urgentemente abandonar o “choror^p” e a retórica de vítima do “sistema”. Seria bom que, junto, exorcizasse do seu entorno a turma do Olavo de Carvalho e de quem, como eles, acredita que há uma “conspiração” em curso. Se for para se inspirar em alguém, que seja no Capitão Nascimento, o protagonista de Tropa de Elite. “Missão dada é missão cumprida, parceiro”.
No caso de Bolsonaro, a missão passa por respeitar as regras do jogo democrático, modernizar as instituições brasileiras, aceitar quem pensa diferente, combater os desmandos e os malfeitos e, ao término do mandato, passar o bastão para um legítimo sucessor, que será, no seu tempo devido, escolhido pelos eleitores. A hora é de sair do Whatsapp, presidente. De afastar os seus filhos do Twitter e do Palácio. E de começar, de fato, a governar.
Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
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