23 de novembro de 2024

Juventude e Velhice


| Tempo de leitura: 3 min

Ana Márcia Vasconcelos de Paula Rodrigues e Ana Regina Morandini Caldeira
Especial para o Comércio

 

Conseguem imaginar a força e autoridade necessárias a um homem, um grande maestro e compositor, para recusar um convite da rainha da Inglaterra para reger uma de suas mais famosas composições, as Simple Songs, em uma noite honrosa de consagração e homenagem ao aniversário do filho da rainha? Quais seriam as tremendas razões pessoais alegadas por ele para se opor, veementemente, a tal pedido?

O filme de 2015, A Juventude, não traz o óbvio. Faz emergir reflexões tais como o que nos faria capazes (ou não) de seguirmos adiante, à revelia da passagem do tempo, das frustrações, e do envelhecimento.

Tem como base a presença da bela amizade de uma vida toda, entre um maestro (Michael Caine) e um cineasta (Harvey Keittel), que se encontram na fase final de sua existência, e necessitam se haver com o que viveram, construíram, perderam e resgataram, ao longo de suas trajetórias.

Ao assisti-lo, fica claro que estamos diante de uma obra de arte, pela sensibilidade, profundidade e sutileza que ela mostra. Associa elementos de enorme riqueza, como os belos cenários em um hotel nos Alpes suíços, regados a diálogos de profundeza marcante, cuja história é embalada a música, a nos emocionar. Tal junção de recursos nos convida a um impulso de aplauso, quando o final chega.

O diretor Paolo Sorrentino presenteia-nos com seu talento, uma vez mais. Traz uma vastidão de personagens, a falar sobre nossa pluralidade: o renomado maestro aposentado que não queria mais se “publicar”, na tentativa de elaboração da perda da esposa; um cineasta decadente que fará seu último filme; uma Miss Universo, representando a plenitude ou frivolidade da juventude; um ator consagrado por único papel; um místico que não levita; uma massagista silenciosa e uma prostituta depressiva.

Ao tomar o humano como obra prima, podemos observar a busca da beleza maior como tema recorrente na obra deste diretor, desde sua inovadora linguagem artística à primorosa estética visual e musical de seus filmes. Nesta mesma direção, temos a oportunidade de refletir sobre aquilo que um dos protagonistas, o cineasta apaixonado Mick, afirma ao amigo compositor, Fred, ao longo do filme: “As emoções são tudo”.

Se de fato nossas emoções são tudo, o que ocorre com nossa capacidade de senti-las, uma vez que podemos submergir a uma onda poderosa de sentimentos e naufragar, ou recuperar a vitalidade e a criatividade a partir da mesma?

Podemos refletir sobre uma das maiores necessidades humanas, alcançarmos vigorosa capacidade de sentir e de amar para nos sentirmos vivos, em qualquer época da vida, até mesmo no último dia.

Este é um filme capaz de sustentar paradoxos com propriedade: a alma sem idade e o corpo marcado pelo tempo, a beleza e a fama junto ao desamparo e fracasso, a paixão e os rituais de revitalização que não suprimem a solidão e a finitude. E talvez, exatamente por isso, seja tão belo e inquietante ao mesmo tempo.

É daquelas histórias que evocam uma mobilização a pensarmos em nossa existência. Vida breve, fugaz e tão delicada, que solicita um olhar de cuidado e atenção.

Regada a sequências lindas e líricas, fala sobre o valor da amizade, a relação entre pais e filhos, os desencontros, as perdas que o tempo traz, o tédio, as memórias, os encontros, o amor, e a possibilidade de se reinventar.

Fica aqui nosso convite, a caminharmos neste próximo sábado 18 de maio, às 15h00, no anfiteatro do Centro Médico e “pelos Alpes suíços”, numa tentativa de darmos forma aos instantes vividos, tornando-os fecundos e até eternos. Até lá!