Não é de hoje que o governo Gilson de Souza (DEM) é criticado pelo seu estilo, digamos, peculiar. Se é fato que grande parte reconhece a boa vontade do prefeito e seu esforço em acertar, também é fato que as muitas idas e vindas da administração, somadas à dificuldade em tornar realidade planos e ações, reforçam a percepção de que falta um rumo mais claro ao governo, além de um ritmo sensivelmente mais acelerado.
Quando reage a um obstáculo ou dificuldade, raramente é rápida e clara a resposta, o que faz com que o problema vire um monstrengo que incomoda todo mundo, se arrasta sem perspectiva de solução e ainda gera dissabores que seriam completamente evitáveis.
A confusão com o aluguel do prédio da incubadora de empresas é um exemplo perfeito de como uma divergência dentro do governo levou a um cenário de indecisão, depois à paralisia e, por fim, a uma desgastante ação do Ministério Público.
Isso para não falar da oportunidade que gerou para a oposição que, dentro do papel que lhe cabe, criticou e xingou o quanto pode. Tudo resultado direto da paralisia que impediu uma ação efetiva – e necessária – no momento certo. Era um problema completamente evitável, convertido em ferida com potencial de gangrenar.
Para quem pegou o bonde andando, o prédio onde funcionava a incubadora de empresas era alugado pela prefeitura há anos, sem quaisquer questionamentos. No final de 2017, a então secretária de Desenvolvimento Econômico, Flávia Lancha (MDB), avisou ao gabinete do prefeito Gilson de Souza que não pretendia mais usar o imóvel, cujo contrato venceria em alguns meses. Aparentemente, Gilson discordou da decisão da secretária Flávia Lancha, mas nada fez de efetivo. Queria implantar ali alguma outra coisa. Ficou na intenção.
O contrato para aluguel do imóvel, no valor de R$ 9 mil mensais, foi renovado. Mas o local permaneceu completamente vazio. Por nove longos meses, o aluguel foi pago – à toa. Até hoje, como ressalta o promotor Paulo Borges na sua denúncia, não há qualquer sinal de que algum dos projetos anunciados pela prefeitura para o local, como o Empreenda Fácil, o Polo do Artesanato Francano ou o Centro Esportivo Infanto-Juvenil, estão sendo efetivamente instalados. O prédio segue vazio. Pelo menos os aluguéis não estão sendo mais pagos. Mas o prejuízo, indiscutivelmente, é uma realidade.
Não sei o que motivou a decisão do prefeito em manter o aluguel de um prédio que não teria uso. Imagino que tenha se irritado com a ação da secretária Flavia Lancha. Poderia tê-la demitido. Não o fez. Poderia ter instalado outra coisa no local. Também não fez. Ficou inerte, à espera sabe-se lá do quê. Um ano depois, Flávia se demitiu, gerando o mesmo desgaste que Gilson, aparentemente, queria evitar. O prédio continua vazio. A diferença é que agora ele é alvo de uma ação do Ministério Público. Vai pagar um preço caro por ter hesitado tanto. No mínimo, um desgaste político. Na pior das hipóteses, terá que arranjar R$ 313 mil para devolver aos cofres públicos e poderá perder o direito de ocupar cargos públicos por cinco anos. O mandato, por conta do tempo de tramitação da ação, dificilmente será afetado. Mas é um cenário amargo.
Aprendi desde cedo com minha mãe que o medo congela. O melhor a fazer é seguir a intuição, reunir força, coragem - e agir. Coisas boas sempre decorrem dos movimentos que fazemos. Só não temos o direito de nada fazer. A vida não costuma premiar quem vira espectador de si mesmo. Muito menos aqueles que têm a responsabilidade de governar.