“Meu fim será meu começo”. Esta frase de Mary Stuart (1542-1587) nunca foi dita por ela à prima e responsável por sua execução, Elizabeth l (1533-1603). Integra a carta-testamento escrita na véspera de sua morte. Próximas fisicamente, as duas rainhas aparentadas que disputaram o trono da Inglaterra nunca se encontraram, embora tenham mantido correspondência e trocado retratos. A história das extraordinárias soberanas já foi contada em prosa, verso, drama e imagens por diferentes autores que por vezes usaram licença poética para preencher lacunas que instigaram aqueles a quem a saga peculiar da dinastia Tudor tocou. Um dos que investiram no tema foi o alemão Schiller (1759-1805). Sua Mary Stuart, traduzida por Manuel Bandeira para o português, e levada aos palcos do mundo, promove o encontro jamais acontecido. Na peça repleta de sexo, poder, ambição, intriga política e rivalidade, a rainha católica da Escócia e a rainha protestante da Inglaterra se digladiam em diálogos que revelam a cada fala personalidades opostas e ambições semelhantes. A frase profética que abre este texto faz parte do duelo verbal que nunca ocorreu na realidade.