22 de dezembro de 2025

Represa de Delfinópolis atinge menor nível da história


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Em maio, bomba d’água ainda conseguia fazer captação na represa Mascarenhas de Morais. Três meses depois, suporte do equipamento está distante da margem da represa, em meio ao matagal formado onde antes era água
O cenário é triste: decks atolados no chão e bem distantes da margem da represa; mato alto onde um dia existiu água; troncos de árvores cobertos por moluscos, que passaram anos no fundo do rio, agora expostos. Esta é a atual realidade da represa Mascarenhas de Morais, na região de Delfinópolis (MG), que no último dia 27 atingiu 13,23% de seu volume útil, o menor percentual desde que o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) passou a publicar o dado, no ano 2000. 
 
As informações do Operador Nacional mostram ainda que novembro de 2014 registrou o menor percentual médio do volume útil da represa, 14,53%. O registro de queda da Mascarenhas de Morais vem desde agosto deste ano, conforme anunciado por Furnas em maio, quando a empresa informou que a represa iria baixar 13 metros.
 
Gustavo Grespi é uma das pessoas que têm sofrido com a queda do nível da represa. Há três anos, ele inaugurou uma marina que fica em um bico da Mascarenhas de Morais, no município de Cássia. Atualmente, o que se vê onde um dia foi o espaço para colocar barcos e motos aquáticas na água são tocos de árvores e muito barro. O deck da marina está no chão e a represa ficou bem distante de sua borda.
 
Para não interromper o atendimento aos clientes, o proprietário teve que improvisar. Ele investiu cerca de R$ 50 mil em pedras para estender a rampa de concreto, usada para colocar os veículos náuticos na água, e há três semanas acabou mudando de lugar o acesso das embarcações à represa. “Tivemos que mudar a rampa para a margem a uns três terrenos de distância. Eles falam que desceu 13 metros, mas para mim desceu mais”, disse Grespi, estimando que a margem da represa tenha recuado cerca de 150 metros. 
 
Segundo ele, a baixa da Mascarenhas de Morais o fez perder cerca de 10 das 120 embarcações que possuía. O fluxo de clientes na marina teve uma queda maior. “Em feriados prolongados como esses de novembro, colocávamos cerca de 60 barcos na água, mas mês passado (novembro) essa média foi de cinco.”
 
Outros comerciantes que têm sofrido com a baixa da represa são os criadores de peixes de Delfinópolis. Renato José do Bem trabalha no ramo há quatro anos. No início, ele possuía 50 gaiolas submersas, mas esse número caiu para 19 nos últimos meses. “Tivemos que tirar porque nossos peixes estavam morrendo por falta de oxigênio, já que as gaiolas agora ficam muito próximas do fundo do rio.”
 
Antônio Donizete Araújo é responsável por outras 25 gaiolas. Ele teve de pedir auxílio na propriedade vizinha para mudar sua criação de lugar, já que não há mais água em seu rancho que fica em um braço da represa. “Ainda bem que deixaram. Não sei o que iríamos fazer.”
 
Um casal, que pediu para não ter os nomes divulgados, não consegue receber cerca de 30% dos clientes que chegavam à sua pousada de barco, desde setembro. A opção dos proprietários do lugar para atrair os hóspedes tem sido ressaltar os caminhos alternativos para chegar à pousada, que fica na região de Delfinópolis. “Os caminhos por terra também são bonitos. A balsa está funcionando normalmente. Então, estamos tentando atrair as pessoas assim. Mas trabalhamos esse segundo semestre só para pagar as contas.”
 
No vermelho
A baixa da represa Mascarenhas de Morais tem afetado também as contas públicas de Delfinópolis. Segundo o prefeito do município, Pedro Paulo Pinto (PMDB), a arrecadação de novembro fechou em R$ 1,488 milhão, menor quantia desde que ele assumiu a chefia do Executivo em janeiro de 2013. Em média, o município arrecadava cerca de R$ 2 milhões por mês. 
 
“Estou penando. A compensação financeira dos recursos hídricos que Furnas paga caiu cerca de 75%. Girava em torno de R$ 400 mil e hoje é menos de R$ 100 mil. O ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis Inter-Vivos) que era em média de R$ 150 mil por mês, hoje é cerca de R$ 10 mil, pois as pessoas estão com medo de investir no município.”
 
O prefeito disse ainda que o salário dos servidores de Delfinópolis, que deveria ser pago no último dia 5, só seria creditado nesta quarta-feira. A folha de pagamento da cidade gira em torno de R$ 900 mil mensais.
 
Ponte
O diretor-presidente de Furnas, Flávio Decat, esteve em Delfinópolis no dia 29 de novembro. Segundo Pedro Paulo, ele teria confirmado na ocasião que a empresa irá fornecer um projeto técnico para a construção de uma ponte de 1,3 quilômetro sobre a represa Mascarenhas de Moraes, ligando o município e a cidade de Cássia. Atualmente os veículos que pretendem pegar a balsa para fazer a travessia têm que andar cerca de 150 metros a mais do ponto habitual para entrar na embarcação, e outros 150 metros após sair, por conta do recuo da represa.
 
“Furnas tem feito os aterros para os carros conseguirem pegar a balsa e tem dado uma manutenção boa, com mais frequência, na embarcação”, disse Pedro Paulo Pinto. O prefeito comentou ainda que o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) se comprometeu a trabalhar para que a verba necessária para a construção da ponte seja incluída na terceira etapa do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo Federal.
 
Segundo nota enviada pela assessoria de imprensa de Furnas, “a empresa poderia elaborar o projeto executivo de uma ponte para ligar os municípios”. Já a assessoria do deputado Reginaldo Lopes informou que o parlamentar aguarda o projeto de Furnas, com o valor estimado da obra, para pleitear o recurso junto ao governo.
 
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