27 de dezembro de 2025

Franca cria pele humana artificial a partir do porco; conheça detalhes


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Professora Joana D’Arc com uma das amostras da pele artificial desenvolvida no Colégio Agricola

Uma pesquisa coordenada pela professora Joana D’Arc Félix de Souza, da Escola Técnica Estadual “Professor Carmelino Corrêa Júnior”, Colégio Agrícola de Franca, criou um tipo de “pele humana artificial” a partir de tecidos de porco. O material tem 100% de compatibilidade com o organismo humano e deve ser usado principalmente como enxerto em pessoas com ferimentos de difícil cicatrização ou queimaduras. Também poderá ser utilizado em testes para o desenvolvimento de novos produtos da indústria de cosméticos. O Brasil proíbe o uso de cobaias vivas neste tipo de experimento.

O estudo contou com a ajuda da aluna Angela Ferreira de Oliveira, de 16 anos, do curso técnico em curtimento. Juntas, elas trabalharam por cerca de um ano até chegar à versão final da pele. “A ideia surgiu em setembro do ano passado, a partir dos nossos trabalhos com o colágeno dos restos de couro de boi descartados pelos curtumes de Franca. A princípio, queríamos usá-los no desenvolvimento dessa pele. Mas os reagentes que seriam necessários teriam de ser importados, o que encareceria o processo”, explicou Joana.

As duas começaram, então, a pesquisar qual outro animal poderia ter compatibilidade com a pele humana e ter seu couro trabalhado em laboratório. “Foi lendo que descobri que a derme do porco tem 78% de compatibilidade. A partir daí, começamos os experimentos”.

Na transformação, a pele do porco passa por um processo de purificação em que todo o material genético associado ao animal (células, proteínas degradadas e gorduras) é eliminado, formando uma matriz “limpa”, mas ainda muito frágil.

Após a purificação, que é feita com a utilização de uma espécie de centrífuga por oito horas, é injetado o colágeno extraído do resíduo de couro bovino para fortalecer a estrutura do material. “É como se completássemos o espaço antes ocupado pelas impurezas.”

O resultado é uma pele com 100% de compatibilidade. “Nossa pele passou por diversos exames e testes para comprovar que realmente pode ser usada em pacientes humanos. Tudo foi certificado pela Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo”, explicou.

Para a professora, uma das maiores vantagens deste novo tipo de pele artificial é o seu custo. “Enquanto materiais similares são vendidos no mercado por algo em torno de R$ 5 mil o metro. A pele que produzimos sai por cerca de R$ 83, o que a torna muito mais acessível”.

As amostras da pele desenvolvidas em Franca já estão sendo testadas pela USP para que possam obter autorização dos órgãos de saúde para serem utilizadas em humanos. “Já demos início também ao processo de registro de patentes para que possamos produzir esse material em escala industrial.”

Atualmente, no laboratório do Colégio Agrícola é produzido 1,5 m de pele por dia. “Nossa capacidade seria até maior mas correríamos o risco de contaminação do material”.

Joana disse que a meta agora é aprimorar ainda mais a pele artificial, dando a ela quatro tipo de coloração. “Já começamos a estudar as propriedades da melanina para isso.”

Sonho agora é conseguir um parceiro
A pesquisa feita por Joana D’arc e pela aluna Ângela Ferreira foi inteiramente desenvolvida no Colégio Agrícola, que não conta com recursos ou equipamentos modernos. “O que queremos agora é conseguir um parceiro para ampliar nossos estudos”, disse.

A ideia é obter recursos para a criação de um novo e moderno laboratório, com aparelhos de tecnologia de ponta. “Calculamos um gasto entre R$ 30 e R$ 50 mil. Não é um investimento tão volumoso assim”. A professora também já requisitou mais apoio do Governo do Estado.