Única mulher a compor a mesa de honra da cerimônia de abertura da 45ª Francal, a empresária Luiza Helena Trajano Rodrigues foi um dos destaques do primeiro dia de uma das maiores feiras calçadistas da América Latina. Presidente do Grupo Magazine Luiza, ela foi elogiada e teve o nome citado como um exemplo a ser seguido pelo ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio, Fernando Pimentel (PT). Foi o único ponto do discurso aplaudido pelos empresários presentes. Apontada hoje como uma das maiores lideranças do empresariado brasileiro, Luiza Helena visitou o estande do GCN montado na feira e falou sobre as perspectivas do setor, o futuro e as mudanças políticas vividas pelo país nos últimos meses.
Também fez questão de mandar um recado para as autoridades. “É preciso ouvir a voz do povo e tomar atitudes”, disse. Luiza Helena ainda falou sobre as conquistas do IDV (Instituto de Desenvolvimento do Varejo), do qual é uma das vice-presidentes e co-fundadora. “Com propostas específicas, é muito mais fácil ser atendido pelo governo seja ele do PT ou do PSDB”, aconselhou.
A senhora foi muito elogiada durante a abertura da 45ª Francal. Teve seu nome citado pelo ministro Fernando Pimentel (PT). Como a senhora vê tantos elogios e o que tem achado da edição deste ano da feira?
Estou impressionada. Os estandes estão lindos, com muita criatividade. Está tudo maravilhoso. Agora, sobre os elogios, eu, claro, fico muito feliz com esse carinho. Mas isso também aumenta minha responsabilidade como líder brasileira. Eu acho que esses elogios são resultado do compromisso que tenho com o Brasil. O Magazine Luiza canta o Hino Nacional em todas as suas unidades toda segunda-feira, isso já há mais de 20 anos. Nós temos um compromisso de fazer este país dar certo, de devolver a ele o muito que tem nos dado. Acho que é por isso que recebo tanto carinho de políticos de qualquer partido. Eu não tenho partido. Eu tenho uma bandeira que se chama contribuir para o desenvolvimento deste país.
Como líder de um dos setores mais importantes, como a senhora analisa o atual momento econômico do país?
Para o varejo, o mês passado foi um mês difícil. Não pelas passeatas, porque eu achei as manifestações dos brasileiros muito bonitas. Os brasileiros tinham que se posicionar como cidadãos. Mas sempre tem os aproveitadores, os que depedram. Eles nos levaram a fechar as portas, mas ainda assim conseguimos crescer. O mês de julho começou um pouco melhor e acredito que o segundo semestre será bom. Também acho que, depois desses movimentos, o Brasil não vai ser o mesmo. Agora o brasileiro quer saber quanto custam os serviços e as coisas, quer saber onde está sendo gasto seu dinheiro. Isso vai trazer mais responsabilidades para os políticos, os líderes e para os empresários.
E para o varejo, o que esses movimentos devem trazer de mudança?
Para nós, não deve mudar muita coisa. Os consumidores já exigiam muito da gente e, se não estavam satisfeitos, procuravam outras lojas ou o Procon. Acho que agora as exigências não são apenas para o varejo, mas para todos os setores. Os brasileiros querem que seus direitos sejam respeitados. A gente tem que escutar o que a rua está falando. Esse movimento (de protestos) pegou muita gente de surpresa porque essas pessoas não ouviram o que o povo está dizendo. A gente tem que ter a humildade de ouvir a população
E qual o recado da senhora para os políticos brasileiros?
Neste momento, não falo apenas para a classe política, mas para todos os líderes. Eles precisam escutar a voz do povo e tomar atitude. Precisamos trabalhar juntos e com propostas. O Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) tem propostas e tem conquistado muito. É possível negociar e mudar esse país.
A senhora ajudou na montagem do IDV. Qual a importância desse instituto?
O IDV nasceu da junção de seis presidentes de empresas de varejo que resolveram contribuir com outros órgãos. O começo não foi fácil porque, para criar o Instituto, foi preciso juntar concorrentes diários, que tem uma disputa pesada entre si, mas o mais importante é que o IDV nasceu com um propósito e, em razão dele, deixamos de pensar no nosso quintal e passamos a pensar em todo o segmento. Aprendemos a trabalhar juntos. Hoje a gente não discute o quanto um ou outro vendeu, se cresceu ou não, a gente até tem estatísticas, mas mandamos isso para uma consultoria que tabula os dados e mostra o resultado geral. Além de pensar, a proposta do IDV também é de diálogo. Ao invés de bater no governo, seja ele qual for, nós fomos estudar o que o varejo é e o que ele precisava.
O que vocês já conseguiram?
Qualquer governo, seja ele do PSDB ou do PT, quando você chega com uma proposta consistente, as chances de ter esse projeto aprovado é maior. Foi assim com o “Minha Casa Melhor” lançado recentemente. Fiquei seis meses ajudando nesse projeto e, com certeza, ele será algo estupendo para o Brasil. O “Minha Casa Melhor” dará acesso a crédito para 60% da população que hoje não consegue crédito no mercado e o motivo não é o nome no SCPC. A gente ajudou a ver o que era melhor para o consumidor, para o varejista e para a indústria. O IDV, portanto, trabalha nesse sentido e hoje já somos mais de 50 sócios, dez mil lojas e 500 mil funcionários. Com isso, descobrimos (...) que o varejo é segundo maior empregador do Brasil. Só perde para o governo.