21 de dezembro de 2025

‘A segurança não deve depender só do Estado’, diz coronel Camilo


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Para o ex-comandante da PM no Estado de São Paulo, as Prefeituras também precisam ajudar na segurança

O coronel Álvaro Camilo foi comandante da Polícia Militar do Estado de São Paulo por três anos. Nomeado para o posto em 16 de abril de 2009, orgulha-se de ter criado a Operação Delegada e de ter focado o seu trabalho no cidadão. Deixou o posto em abril do ano passado após críticas à ação da corporação na desocupação do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos. Imagens mostraram a agressão de policiais contra moradores.

Fora da PM, candidatou-se a vereador em São Paulo pelo PSD e ficou na suplência da coligação ao receber 26,9 mil votos. Assumiu a vaga no Poder Legislativo com a ida do colega Antônio Carlos Rodrigues para o Senado.

Coronel Camilo representou a Câmara Municipal de São Paulo na abertura da Francal, ontem. Após a solenidade, visitou a sede do GCN. O policial e vereador falou de sapato, segurança municipal e sobre a ação da Polícia Militar na tentativa de conter vândalos que se infiltraram no meio dos manifestantes e promoveram uma onda de destruição em diversas cidades do país. O coronel também comentou a polêmica transferência do Copom (Comando de Operações da Polícia Militar) de Franca para Ribeirão Preto.

É a primeira vez que o senhor visita a Francal. Qual a impressão que teve da feira? Fiquei impressionado com a grandeza e com a beleza do evento. Como o próprio slogan diz, é uma grande oportunidade de gerar negócios. Precisamos, cada vez mais, incentivar a fabricação nacional, o produto brasileiro, a mão-de-obra e, principalmente, a inteligência dos profissionais que desenham e produzem os calçados. A Francal é uma grande vitrine. Gostei muito de conhecer a feira e acredito que os resultados serão positivos. Produtos de qualidade não faltam.

O senhor deixou o comando da PM e se tornou político ao assumir uma vaga na Câmara de Vereadores de São Paulo. Como foi a transição da polícia para a política? Sem dúvida nenhuma é um grande desafio. Comandar a Polícia Militar de São Paulo por três anos foi um privilégio. É um orgulho ter comandado tantos homens e tantas mulheres bons e de capacidade. Por outro lado, ser vereador também é um desafio porque você vai trabalhar para tentar melhorar a vida das pessoas. Na Câmara Municipal, nosso foco de trabalho será este. Pela primeira vez, a Câmara Municipal de São Paulo e, isto deverá acontecer nas demais Câmaras do País, o assunto segurança passou a ser discutido no município. É preciso entender que o município tem papel fundamental na segurança. O município cuida da zeladoria, da iluminação, das calçadas, ruas, trânsito. Num ambiente sadio, organizado, há uma probabilidade muito menor do crime acontecer. O município pode ajudar muito na segurança pública.

É comum ouvir prefeitos dizerem que a segurança é obrigação do Estado. Como os municípios podem ajudar? A participação do município é fundamental. Como comandante, fui à Câmara Municipal por três vezes para tentar fazer com que a Prefeitura tivesse uma legislação no sentido de que para a implantação de qualquer empreendimento, qualquer modificação na cidade, se ouvisse, também, a segurança. Muitas vezes, a entrada de um prédio ou um shopping pode influenciar na segurança. É errônea a visão de que a segurança é obrigação só do Estado. Não podemos ser indiferentes ao que está errado. A ideia é exercer a cidadania, ligar para a polícia ou para a prefeitura quando tiver problema. Muitos problemas que levam à insegurança são ligados ao município. Para as cidades que têm guarda municipal, a palavra-chave é integração. Trabalhar em parceira com o Estado para o bem do cidadão. Aqui, em São Paulo, foi criada a Operação Delegada, que consiste em pagar o policial estadual para trabalhar nos momentos em que não está servindo à corporação.

O senhor falou sobre a necessidade de integração. Em Franca, o Copom, a central de emergência do 190 da PM, foi transferido para Ribeirão. Entre os que criticaram a mudança, está o vereador e delegado Daniel Radaeli. Ele afirma que a medida vai na contramão da integração. O que o senhor pensa a respeito? O foco está errado. Respeito muito a posição do delegado, mas o que precisamos ver é o atendimento. Não importa se é em Franca ou em outra cidade. Quando eu ligo para a companhia telefônica não importa se eu estou sendo atendido por alguém em São Paulo ou em Brasília. O que queremos é que o nosso problema seja resolvido. O sistema do Copom prevê a colocação de nomes com apelidos (referências de estabelecimentos conhecidos, como lojas, escolas ou prédios públicos) para facilitar a identificação das ruas. (...) Não dá mais para cada cidade ter um Copom. São 15 Copoms no Estado hoje. É possível centralizar e melhorar o procedimento.

Como o senhor avalia a atuação da Polícia Militar durante os manifestos que tomaram conta do País? A Polícia Militar é necessária para fazer o controle social. No Estado de São Paulo, acontecem de cinco a oito manifestações todos os dias e a polícia garante o direito de manifestação. Este direito foi garantido até o momento em que começou o quebra-quebra. No momento em que a ordem foi desrespeitada, a polícia precisou intervir. A PM interveio firme e usou os meios adequados para evitar um mal maior. Onde aconteceu excesso, pode ter certeza, a polícia tem uma forte corregedoria e vai apurar. Foi preciso agir naquele momento para garantir a segurança do cidadão.