Milhares de litros de lágrimas foram derramadas, ontem, em todo o Brasil. Lágrimas quase recém-nascidas. A grande maioria foi produzida por tristeza e decepção, mas uma boa parte saiu por um esmagador sentimento de alegria e felicidade. O fator comum para causar tudo isso foi a divulgação de uma singela lista na internet. Pode parecer pouco para aqueles que olham de longe, mas, para 1,9 milhões de candidatos que se inscreveram no Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que seleciona estudantes para instituições públicas de ensino superior usando como base as notas obtidas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a lista foi uma das mais importantes da vida. Aqueles que ainda não conferiram suas notas podem acessar a lista de aprovados no site do programa (www.sisu.mec .gov.br) ou podem ligar para a Central de Atendimento do MEC (0800-61-61-61). Os selecionados deverão efetuar a matrícula nos dias 18, 21 e 22. Já no dia 28 deste mês, será divulgada a segunda chamada, com matrículas nos dias 1º, 4 e 5 de fevereiro. Quem ficar de fora das duas seletivas poderá se inscrever na lista de espera entre os dias 28 de janeiro e 8 de fevereiro. O estudante só poderá manifestar interesse na lista de espera para o curso correspondente à primeira opção.
Deu para perceber a real importância desse assunto? Foram quase dois milhões de famílias que viram seus filhos quase ficarem loucos de tanto estudar. Muitos abdicaram de sua vida pessoal, seus descansos e seus finais de semana na tentativa de dominar os livros e conseguir fazer um bom Enem e entrar em uma universidade pública. Por isso aqueles que foram convocados estão de parabéns e, para o restante, boa sorte nas próximas listas ou no Enem deste ano.
Seja mera coincidência ou fruto de trabalho, dois francanos que foram chamados pelo Sisu participam do programa Primeira Chance, criado pela Prefeitura de Franca. Geison Willian Machado,17, e Otávio Augusto Mantovani Silva, 16, foram convocados pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Geison ficou em 3º entre as melhores notas que brigaram pelas 45 vagas disponíveis para o Engenharia Mecânica. Já Otávio passou como treineiro com a 2ª melhor nota das 45 primeiras de Engenharia Civil. Qual o segredo? É isso que você confere nas linhas ao lado.
QUEM SÃO?
Como fazia parte do processo seletivo do Primeira Chance, ambos os estudantes são de famílias simples. Geison vive com sua família no Jardim Portinari e estudou todo o colegial no Sudário Ferreira. “Acordava 6 horas e pouco e ia para a escola. Às 13 horas tinha que trabalhar e depois ir para o Industrial (ETEC Dr. Júlio Cardoso) fazer outro curso. Foi corrido, mas valeu a pena”, revela. Já Otávio acorda às 5h30 e vai andando de sua casa, no Santo Agostinho, até a Industrial, onde cursou o 2º colegial, no ano passado. Depois segue para a Prefeitura e ainda realiza outros cursos durante a noite. “Sou extremamente perfeccionista no ambiente acadêmico. Gosto muito desse universo e sempre exijo o máximo de mim”, afirma.
Ambos compartilham da ideia de que todo desejo nessa vida precisa envolver paixão e ser abastecido com dedicação para que vire realidade. “Tenho plena convicção de que engenharia (mecânica) é o que gosto. Também é importante saber se dedicar ao que realmente interessa e fazer isso com tempo, pois não adianta deixar isso pro último ano. É importante ter a noção do que mais é pedido no seu curso, pois a nota dessas disciplinas é maior, aí você já sabe onde deve se concentrar”, aponta Geison. Outra dica valiosa apontada pelos dois é saber como funciona o “monstro”, ou seja, prestar outros vestibulares antes para já ir se acostumando e ir adquirindo confiança.
Para Jerônimo Sérgio Pinto, assessor de auditoria e controle da Prefeitura de Franca, o programa Primeira Chance teve um papel fundamental nesse processo. “Aqui eles aprendem como valores importantes para a formação de um cidadão é utilizado em um ambiente de trabalho. Quando fiquei sabendo que ambos haviam sido convocados, como idealizador do programa, me senti muito mais leve, com aquele sentimento de dever cumprido”.
Mal ficou sabendo da notícia e Geilson já sabe exatamente como se matricular no curso. Já Otávio precisa esperar mais um ano para completar o ensino médio e rumar para a vida universitária.