23 de dezembro de 2025

No caminho tem uma cruz: as histórias dos crucifixos nas vias


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SANTOS - Cercada por imagens de santos, cruz na margem da João Traficante lembra Jeniffer, vítima de acidente na rodovia que liga Franca a Ibiraci

As estradas de Franca trazem marcas que podem arrepiar, assustar ou emocionar: cruzes estáticas às margens das rodovias chamam a atenção de motoristas e passageiros. A cruz indica que naquele trecho alguém morreu em um acidente de trânsito. São marcas de variados tamanhos, das mais simples as mais enfeitadas, com flores e terços. Na maioria das vezes, a cruz é solitária, mas há casos de duas ou mais juntas. Geralmente, elas são brancas, algumas não têm nenhuma inscrição, mas a maioria traz o nome da pessoa que se foi e deixa “eternizada” a data da tragédia.

A reportagem do Comércio percorreu as sete principais estradas que cortam Franca e contou, pelo menos, 22 cruzes espalhadas pelos acostamentos. Só na rodovia João Traficante, que liga Franca a Ibiraci (MG), há 17 cruzes espalhadas pelo ziguezague do asfalto que corta serras e tem curvas perigosas. Duas estão na rodovia Felipe Calixto, que liga Franca a Ribeirão Corrente, duas na rodovia Candido Portinari e uma na rodovia Fábio Talarico, que liga Franca a São José da Bela Vista.

As mais recentes cruzes da João Traficante trazem os nomes do sapateiro Michel Eduardo Ferreira, 18, que morava no Jardim Brasil, e da dona de casa aposentada Aleida André Machado, 73, que morava no bairro São José. Os símbolos, praticamente lado a lado e fixados em concreto, numa espécie de jardim retangular, trazem a mesma data: 26 de fevereiro de 2012, um domingo. Na manhã daquele dia, num trecho de reta próximo ao trevo de entrada de Franca, o carro dirigido pela neta de Aleida, que estava como passageira, teria cruzado a pista e fechado a moto conduzida por Michel. A porta do lado direito foi arrancada com a violência do impacto. Os dois morreram na hora.

ALERTA NO TRÂNSITO
O técnico em aparelhos de hemodiálise francano Carlos Humberto Peixoto morreu aos 33 anos, após bater seu Santana preto na traseira de um caminhão no quilômetro 280 da Cândido Portinari, entre Franca e Batatais. O acidente aconteceu na madrugada do dia 1º de outubro de 2008. Hoje, quem passa pelo local, pode ver uma cruz simples, solitária, com um terço pendurado, num barranco gramado próximo a um pontilhão.

O símbolo foi colocado quatro meses após a tragédia. A iniciativa foi da mãe de Carlos, a professora Laudelina Peixoto, moradora em Delfinópolis (MG). Um tio da vítima confeccionou a cruz de metalon e pintura à tinta óleo na cor branca, simbolizando o “desejo de paz”.

Segundo Laudelina, que sente a perda até hoje, passar pelo local e ver o crucifixo que resiste ao tempo a faz sentir com se tivesse sido naquele momento (em que passa pelo local) que ela recebeu a notícia do acidente.

“É para marcar o trecho que em poucos segundo levou a vida de uma pessoa doce, meiga. Um pai de família que muito amava, trabalhador. É para ser lembrado por todos que o conheceram quando passarem por lá e que se lembrem de fazer uma oração pela alma dele, pois é o que ele precisa. É também para alertar as pessoas no trânsito”, finalizou Laudelina.