24 de dezembro de 2025

Escritora francana conquista prêmio com um conto na Flip


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Vanessa Maranha foi premiada na Flip com o conto: pelo jade daquele mar parati

“A Festa Literária Internacional de Paraty é vibrante. Há uma profusão de eventos artísticos e literários ocorrendo simultaneamente. Ali você esbarra num barzinho, à noite, com megaestrelas da literatura como Ian McEwan, Salman Rushdie, Isabel Allende; tem a oportunidade de bater um papo com mambembes, cordelistas, poetas, loucos e afins, scholars de Harvard e Yale, falando de Shakespeare, ouvindo Lenine e blues, tudo junto e misturado.” É com essa empolgação que a escritora francana Vanessa Maranha fala da Flip, Festa Literária em que esteve na última semana para receber o segundo lugar do Prêmio Off Flip de Literatura pelo conto: pelo jade daquele mar parati, escrito assim mesmo, com todas as letras minúsculas. A cerimônia de premiação aconteceu no último sábado, dia 07, às 18 horas, na Casa Sesc, em Paraty (RJ). Os presentes foram saudados pelos vencedores da categoria poemas com a leitura de suas obras.

Para estar ali, entre os três vencedores da categoria conto, Vanessa teve de concorrer com outros 714 contistas inscritos no Off Flip. A escritora acredita que a urbanidade, a sinestesia e o movimento das palavras possam ser aspectos que chamaram a atenção dos jurados Flávio Carneiro, Marcelo Moutinho e Ovídio Poli Junior para o seu texto. “Nesse texto eu sinto que consegui satisfatoriamente algo que acho muito interessante na arte: o espaço em branco, a elipse, aquilo que necessariamente terá de ser preenchido pela sensibilidade do leitor fazendo dele, de certa forma- por que não?- uma espécie de coautor do texto. Gosto desse jogo que a literatura permite quando deixa múltiplas possibilidades de leitura. Não me agrada a literatura didática, explicada.” Outra particularidade é o título. Escrito em minúsculas, ele representa “o recorte de uma frase, como um pensamento rápido vagando, sem ênfase”, como explica a autora.

O enredo do conto traz feições urbanas que, através da personagem central, Eva, vão retratando realidades distintas de diversos personagens em situações-limite. “Foi escrito de uma só vez, ao longo de uma noite, embora não tenha vindo inteiro. Foi se fazendo enquanto eu o escrevia, imaginando estados de espírito, cores e climas de regiões distantes do aqui e agora, no momento em que eu o escrevia.”

Embora tenha participado de outras duas edições da Flip como convidada, esta é a primeira em que Vanessa é premiada. “Primeiro levei um susto. Nem me lembrava mais que estava concorrendo, depois, claro, fiquei contente pelo reconhecimento, pela indicação de que a minha prosa esteja num caminho que seja interessante para alguém”, disse ela sobre o momento em que soube da premiação. A conquista lhe rendeu R$ 2 mil, dez livros do selo Record e edição do texto vencedor pelo selo Off Flip, numa coletânea recheada por outros títulos premiados.

Perguntada sobre o que a repercussão desta evidência acarreta para sua carreira, a francana brinca: “talvez a arregimentação de mais dois ou três leitores”. Além do reconhecimento público de seu trabalho, integrar-se ao evento tem lhe proporcionado experiências e trocas com outros autores. As impressões adquiridas em debates, discussões e conversas informais, acabam moldando um olhar mais crítico a respeito das tendências literárias e exposições midiáticas. “A Flip é um radar da cultura. Nesse ano, literariamente falando, há uma tendência muito americana na ficção de delineações jornalísticas, com pitadas de metalinguística, como no catalão Enrique Vila Matas, no americano Jonathan Franzen; também errância e ensaísmo, como no africano naturalizado americano Teju Cole e na brasileira Paloma Vidal. Quando falo em tendência obviamente me refiro àquilo que tem interessado o público leitor e considero importante avaliar tais tendências. Primeiro para não ficar ecoando no deserto e, inclusive, por outro lado, para ter a liberdade, em alguns momentos, de não segui-las, quando se deflagram por demais midiáticas e consequentemente fugazes.”

Os frutos de seu trabalho Vanessa colhe com modéstia. Admitindo sua perseguição pela beleza, a escritora fala sobre ela como uma criança em busca de borboletas pelo parque. “Escrevo sem grandes pretensões, como necessidade, como quem pinta quadros, faz esculturas, perseguindo uma beleza mas nem sempre a encontrando. Depois tento de novo e de novo e de novo simplesmente porque isso, para mim, está no campo do desejo. Digamos que seja o espaço onde eu me permita passear pela arte.”

A coletânea em que pelo jade daquele mar parati será publicado tem previsão para ser lançada na edição 2013 da Flip.