Aposta principal do setor calçadista para virar o jogo e compensar o desempenho morno do primeiro semestre, a 44ª Francal foi aberta em São Paulo ontem. O primeiro dia da feira de 2012 agradou mais pela beleza dos estandes do que pelo movimento. O clima foi de otimismo, ainda que sem euforia, em relação a um período melhor de vendas e de geração de empregos. Mas os empresários estão cautelosos e evitaram fazer projeções enfáticas. Nada de exagero e pés no chão devem ser as tendências do segmento para a reta final do ano.
A solenidade oficial reuniu empresários, lojistas, líderes de entidades do setor e políticos. Convidada para ser a estrela do evento, a presidente Dilma Rousseff (PT) não apareceu. Foi representada pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), foram as principais autoridades presentes. Cidade berço da feira, Franca teve fraca participação política. Apenas o prefeito Sidnei Rocha (PSDB) e o deputado Roberto Engler (PSDB) acompanharam o evento, algo raro em se tratando de um ano eleitoral.
Se algum empresário aguardava o anúncio de medidas de incentivo para o setor, certamente saiu frustrado. Nos discursos dos representantes dos governos estadual e federal sobraram otimismo e palavras de reconhecimento à força do setor. Faltaram ações práticas. “O ambiente é de tranquilidade e otimismo de que iremos reverter o primeiro semestre, que permaneceu morno. A Francal é a mais importante e maior feira de calçados da América Latina e forçará o alavancamento das vendas no segundo semestre”, comentou o presidente da feira, Abdala Jamil Abdala.
Milton Cardoso, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), é sempre contundente e crítico, característica que torna o seu discurso o mais aguardado. Ontem, moderou o tom das palavras, mas não deixou de incomodar ao explicitar as dificuldades do setor. “Tenho que registrar que, embora tenhamos observado vários avanços, fato concreto é que os resultados mostram certa resistência em se alterar. O mercado interno continua forte, mas a indústria não aproveita da fortaleza deste mercado”.
O executivo revelou que o setor entrou no 16º mês seguido de queda na produção industrial. O nível de emprego, segundo ele, segue a mesma tendência. O setor perdeu 13,5 mil vagas comparando-se com maio do ano passado. As razões são velhas conhecidas. Cardoso disse que as importações tomam conta do mercado. Já as exportações caíram 20% até maio.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, disse que a cadeia do couro e do calçado é o setor mais afetado pela crise global por conta de seu histórico de internacionalização. “É uma questão sensível para o governo ver o setor enfrentando crises e mais crises. Precisamos trabalhar conjuntamente a competitividade do setor de maneira sistêmica. Cabe ao Brasil agir com mais intensidade neste momento de crise para impedir que a desaceleração comprometa o desenvolvimento do País. Estamos à disposição do setor”.